A extinta agência do IBGE em Porangaba, anexa à Prefeitura Municipal, elaborou no ano de 1969 o mapa estatístico do município onde consta o dia 23 de setembro como a data oficial de fundação. Existem dúvidas quanto à exatidão. Na verdade, trata-se de assunto polêmico por não citar a fonte e sabe-se que é praticamente impossível indicar a data “exata” de fundação de uma cidade, pois os motivos à formação, estabelecidos muito tempo depois, são bastante subjetivos e envoltos por opiniões gregárias, pela emoção dos descendentes dos fundadores para enaltecer e valorizar os parentes. Dados e fatos fundamentais chegam a ser omitidos. É o que acontece, na maioria das vezes, além da vaidade dos historiadores e pesquisadores que partem muitas vezes para a controvérsia e chegam a alterar o que está certo para satisfazer suas opiniões e caprichos. O aniversário da maioria das cidades passou, então, a ser comemorado na data da emancipação política. É o que sucede no nosso município. Esclarecemos que após demorada busca, nos livros de Cartórios e das Capelas de Tatuí e Porangaba, nada encontramos com referência à data citada no Boletim do IBGE.
Quanto à data oficializada como de fundação do povoado – 1860 – pairam dúvidas e desencontros. Um dos fundadores, citado no histórico do município é o sr. Leandro de Moraes e Silva, que faleceu no ano de 1920 com 65 anos de idade e que teria na data estabelecida somente 5 anos de idade, o que destrói qualquer argumento que o qualifique como fundador. Existem outros informes que destroem essa tese.
Tudo leva a crer que o povoado se formou após 1870, mais ou menos em 1874, quando foi fundado o 1º. cemitério, levantada a primeira capela e criada a primeira escola de primeiras letras (masculina).
Por outro lado, o bairro do Rio Feio já existia desde as primeiras décadas do século 19, o que pode ser comprovado facilmente através de documentos do acervo do Arquivo Público do Governo do Estado de São Paulo.
É importante saber que o povoamento do território paulista ocorreu, inicialmente, do litoral para o interior, da baixada para o misterioso sertão, que os historiadores chamavam de “terra sem dono, terra virgem para a lavoura, terra devoluta, de posse provisória do solo”.
Outro fato, que veio depois refletir no adensamento da população, foi já existir um caminho no meio da selva – o Caminho do Peabiru – a estrada de terra batida por onde os índios já passavam antes do Brasil ser descoberto; uma trilha que ligava o Atlântico ao Pacífico.
O tronco principal seguia até São Vicente, enquanto outras ramificações se dirigiam a Cananéia, Iguape até Santa Catarina; era uma estrada complexa, um ramo ou feixe de caminhos que dois séculos depois formariam a malha de estradas dos tropeiros.
Nossa cidade surgiu num dos caminhos alternativos do Peabiru.
Sabe-se hoje que o solo paulista foi praticamente chão de passagem até meados do século 17, sendo muito pequeno o crescimento da população, mas, mesmo assim, o povoamento começou com as atividades dos sesmeiros e posseiros em todas as direções, a partir da vila de São Paulo, podendo ser medido pelas povoações que vingaram. Surgiram, inicialmente, fazendas, que depois viraram povoados, freguesias, vilas e cidades. A ocupação na direção oeste, ao longo do Vale do Tietê, começou a crescer, sendo confirmado pela fundação de Sorocaba (1646), São Roque (em meados do século 17), Cotia (1662), Porto Feliz (1700) e Pirapora (1725). Nessa época, Sorocaba já se destacava como centro de dominância e posto avançado de povoamento na região sul paulista. A abertura da passagem sul com a Estrada do Viamão e o nascimento da Feira de Muares – o grande mercado distribuidor de animais, que supria grande parte do Brasil Central, são fatos correlatos, ligados à história de Sorocaba e, principalmente, pelo surgimento do tropeirismo que influiu decisivamente na ocupação demográfica da região. Como não existiam estradas, deduz-se que, foi através de trilhas tidas como sub-ramais do Peabiru é que se conseguiu chegar até as nascentes do rio Paranapanema, às fazendas dos padres da Companhia de Jesus em Guareí e Botucatu.
O oeste paulista era, então, um vasto território dominado por bugres, ainda selvagens, o que pode ser comprovado pelos relatos feitos pelas Câmaras de Sorocaba e Itapetininga, no ano de 1793, ao governador da capitania, denunciando os contínuos assaltos que os índios bravos faziam às fazendas e caminhos daqueles distritos.
Além dessa linha já se encontravam espalhados sesmeiros e posseiros e as cartas geográficas da época mostram que a terras do “vale do Rio Feio” estavam encravadas na região “ itapetiningana”.
O afluxo de criadores e lavradores se intensificou a partir de 1830, vindos especialmente de Tatuí, Itapetininga, Sorocaba, São Roque, Cotia, Ibiúna e Piedade, apossando-se então das terras devolutas. É a dedução lógica, após consultar os livros da Capela de Nossa Senhora da Conceição de Tatuí. O próprio local, onde nasceu o povoado, deve ter sido escolhido ou demarcado, tempo depois, simplesmente como ponto de pouso de tropeiros, ou como local de parada obrigatória àqueles que rumavam ao oeste, na antiga trilha que ligava Sorocaba a Botucatu. Ficava já evidente a influência do tropeirismo no Sertãozinho de Santo Antônio do Ribeirão Feio, como o bairro foi chamado inicialmente.
Foto: “Calendar” de Dafne Cholet em https://www.flickr.com/photos/dafnecholet/5374200948
Júlio Manoel Domingues
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