Acima, sendo entrevistado no programa Jô Soares, em 2008.
Waldir Rueda, uma breve história de vida
Inserida em: 2011-08-22
A fala acelerada e o riso curto e entrecortado do historiador Waldir Rueda ainda ecoam na redação do Espaço Aberto, onde recentemente acertava detalhes para a publicação de uma coluna online sobre histórias da cidade e região.
“Pílulas de História” seria o nome da coluna que não chegou a sair do papel.
Waldir Rueda Martins, 44 anos, paulistano de nascença e santista de corpo, alma e coração desde os 6 anos de idade, quando seus pais mudaram para Santos em virtude das crises de bronquite que o acometiam desde muito pequeno, faleceu na manhã de domingo (21), de insuficiência respiratória acarretada pela pneumonia aguda.
Ele foi internado no dia anterior na Beneficência Portuguesa, onde chegou com fortes dores no peito e muita falta de ar. Foi direto para a Central de Tratamento Intensivo (CTI), mas não resistiu.
Velado por toda uma noite, Rueda teve sua breve trajetória de vida relembrada a cada instante pelos amigos e admiradores que são unânimes na afirmação de que a Região Metropolitana da Baixada Santista, especialmente Santos, perdeu um ferrenho defensor de seu patrimônio histórico.
Professor da rede estadual de ensino, Rueda fazia da vida uma grande sala de aula, onde história era parte do ar que respirava. “Não se pode pensar no presente, muito menos projetar futuro, se não conhecermos o passado. A história de uma cidade, de um povo, não pode ser jogada às traças. Ela precisa ser cultivada para não perdermos nossa identidade”, dizia o historiador que preparava sua futura obra, um resgate da história do transporte santista através do bonde.
Na última conversa na redação, ainda não havia definido se abriria capítulos especiais sobre os trólebus (ônibus elétricos que começaram a circular na década de 1960 em Santos) ou se publicaria obra à parte.
“Precisamos falar urgentemente sobre os trólebus, antes que sumam de circulação”, disse Rueda ao selecionar nos arquivos do Espaço Aberto, fotos antigas desse meio de transporte, detalhando cada descoberta, inclusive, como localizou um trólebus em uma chácara em cidade fora da região. “Esse veículo que deveria integrar o patrimônio do Município tinha sido vendido como sucata por uma ninharia”, explicava indignado.
Polêmico, Waldir Rueda fez da pesquisa fonte de inspiração não apenas para suas aulas, mas para seus escritos, especialmente para o resgate e a preservação de fatos e monumentos históricos.
Atento a tudo, era capaz de identificar um tijolo rabiscado em meio a tantos tijolos que formam uma parede erguida em tempos passados.
Nada lhe fugia a observação, nem mesmo uma vértebra do esqueleto de uma baleia coberto por plástico escuro durante anos.
Em meio às muitas coleções: de pregos tortos, selos, palito de fósforo, tijolos, jornais, bilhetes, livros, documentos, entre eles o diário de bordo de Pero Lopes, irmão de Martim Afonso de Souza, Rueda relaxava tocando violino.
Até rótulos de caixas de fósforo já fizeram parte de sua coleção e se pudesse, teria em seus guardados, postes. Isto mesmo, postes de iluminação.
Por que?
“Acho bonito e dependendo do tipo e época, contém muita informação”, respondia com naturalidade para depois perguntar diante do espanto estampado no meu rosto: “você não consegue ver beleza e fonte de inspiração em um poste de época?”
Assim era Waldir Rueda que conheci no Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente, no final da década de 80 (1980), onde era responsável pelo Departamento de Taxidermia e pela Biblioteca.
Mas o Rueda intransigente com relação à pesquisa, conheci nos primórdios, nos primeiros ensaios para sua obra “Braz Cubas- Homenagem a uma vida” lançada em 2008, quando passei a entender melhor porque era tão minucioso ao citar um fato histórico: “Se colocarmos um ponto, uma vírgula que seja fora do lugar adequado ao falarmos de nossos antepassados, dos fatos que embalaram as civilizações, especialmente a nossa, estaremos contribuindo para deturpar nossa história. Por isso temos que ser intransigentes, principalmente para que não joguem por terra o que precisamos preservar para nortear futuras gerações” (frase escrita por Rueda no verso da foto de um trólebus selecionada no arquivo do Espaço Aberto, em 22 de março passado)
(Texto Noemi Macedo; fotos: Helena Silva)
* Waldir Martins Rueda faleceu às 10h50, de domingo (21) na Sociedade Portuguesa de Beneficência e foi enterrado às 11h desta segunda-feira (22),no Cemitério do Paquetá.
OUTRA BIOGRAFIA:
Nascido em São Paulo em 21/08/1966, veio para a Baixada Santista ainda jovem, onde estudou e formou-se em História.
Morreu em Santos, dia 21 de agosto de 2011, aos 44 anos de idade.
Foi o historiador Waldir Rueda Martins um dos mais atuantes defensores da preservação do patrimônio histórico da cidade de Santos na última década.
Foi funcionário público na Praia Grande, membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente e atuou como professor de história na rede estadual de ensino de Santos.
Notabilizou-se pelo empenho que demonstrava tanto na pesquisa do passado da região, como na defesa de seu patrimônio histórico.
Envolvia-se profundamente nos projetos que encetava, e utilizando-se do respeitável acervo de documentos e informações que acumulou desde a infância, divulgava-os amplamente através da mídia, conquistando quase sempre a simpatia popular e resultados surpreendentes.
Dentre a extensa lista de realizações que Rueda levou a cabo nos seus 44 anos de vida, o livro ” Braz Cubas – Homenagem a uma vida "lançado em 2008, foi certamente a obra que deixou registrada toda a sua capacidade como pesquisador e historiador".
Resultado de mais de seis anos de investigação, busca em arquivos pelo Brasil e Portugal, e até escavações arqueológicas, sua primeira obra literária comprovou sua vocação e preencheu uma grande lacuna na história da cidade de Santos.
Nos últimos meses de sua vida, Wlaldir Rueda estava trabalhando como coordenador de pesquisa da revista do Instituto Histórico e Geográfico de Santos, o Almanaque de Santos, um projeto vitorioso do jornalista Sérgio Willians, lançado recentemente, e dedicado a divulgação da história da região.
por Gilmar Domingos de Oliveira/ em 22/08/2011/
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