terça-feira, 2 de outubro de 2018

CRUZEIRO E A REVOLUÇÃO DE 1932:

E as revoluções de 30 e 32, como repercutiram na cidade ?

"Eu era bem pequena, nessa época. Em 30 eu tinha apenas oito anos. Mas lembro que papai teve que ficar longe da família e mamãe pegou todos os filhos e foi se esconder na Serra da Bocaina, perto da Hidrelétrica, pois ela e papai tinham contato com o gerente dessa usina. Na verdade, o que se temia mesmo era que os soldados abusassem das filhas maiores que já eram moças. Em 32, não. Mamãe decidiu que não ia sair de Cruzeiro, que era tolice. Papai tinha sido transferido pela direção da Light para São Sebastião. Ela então mandou as filhas mais velhas para a casa de parentes e ficou com os pequenos. Aquela foi uma região de combates, pois as tropas do governo estavam na Mantiqueira. Às vezes, vinha um aviãozinho vermelho e bombardeava pontos da região. É interessante porque à noite ou víamos tiroteio na serra e só depois é que descobrimos que não eram combates: os soldados ficavam batendo matracas para fingir guerra! Até que um dia as tropas comandadas pelo general Góis Monteiro chegaram à cidade que estava praticamente vazia. O general chegou bêbado, quase caindo, escorado por dois soldados. Ficaram ali uns dias, depois foram embora, acredito que sem incidentes. Mamãe e outras mulheres fizeram comida para as tropas. Quando acabou aquela briga, papai e os comunistas voltaram. A cidade estava acéfala e eles poderiam ter ocupado a prefeitura. No entanto, acharam melhor convidar um médico progressista de lá, o doutor José Diogo Bastos - pai do Márcio Thomaz Bastos - para ocupar o cargo de prefeito. Ele aceitou e deve ter gostado, porque permaneceu no cargo por muitos anos.” 

Idealina Fernandes Gorender - Filha de um operário e fundador do PC, mulher de um historiador e dirigente comunista, Idealina conta a sua trajetória de militante, iniciada em Cruzeiro (SP) e interrompida com o golpe militar de 1964.

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