O Capitão João Machado de Souza, oficial comissionado da Guarda Nacional que foi extinta com o Decreto nº 1790, de 12 de janeiro de 1918, assim como os outros ex-oficiais, ainda detinha “uma fonte de benesses da patente que lhe conferia algum prestígio entre os figurões da política e certo respeito entre os populares” quando em 1924, foi indicado para trabalhar para um grupo de fazendeiros.
Nessa época João Machado tinha fixado residência em Mirassol no “Sertão Tanabiense”, antes vivia em Ibarra, hoje Catiguá, lugar que teve que abandonar por divergências políticas com a família Batista.
O Capitão João Machado de Souza, e sua esposa Dona Alcides Cândida de Souza, em abril de 1924, chefiando sua comitiva composta de homens habituados à lide do desbravar sertões demandara rumo à cidade de Araçatuba, donde prolongaria sua caminhada até as matas virgens da Noroeste do Estado. Chegando a Araçatuba, organizou-se e deu prosseguimento a sua jornada, servindo-se da Estrada de Ferro, que margeava o lendário Rio Tietê, ele e sua comitiva desembarcaram em “Ilha Seca”, na margem esquerda do Rio Tietê, nas terras da empresa Moura, Colleti & Andrade, dirigida por Antônio Joaquim de Moura Andrade o “Rei do Gado”. Na estação, encontra Manoel Vieira, um antigo conhecido da sua época em Ibarra.
Há tempos na região, Vieira que trabalhava como “picadeiro” era o tipo certo para as necessidades do Capitão, dali começou sua investida contra o matagal que se elevava altaneiro diante de seus olhos. Derrubando as primeiras matas nativas, no ano de 1925, o capitão João Machado de Souza, Benedito Tito de Andrade, José Simões de Andrade, Antônio de Souza Rocha e Antônio Vieira chegaram à região e deram início à povoação de Guaraçaí, abrindo uma estrada com 47 quilômetros até o Córrego do Ipê, a margem da qual está á sede da Fazenda Furquim, localizada a poucos quilômetros da sede do município.
FUNDAÇÃO DO POVOADO
Na medida em que o capitão João Machado localizava terras, aumentava a necessidade de mão de obra, com isso, o povoado se estendia, pois sempre apareciam pessoas procurando por trabalho, e que eram contratadas pelo “Capitão”. O histórico do município não se completaria se nele não tivesse presente o imigrante japonês. Os primeiros chegaram a partir da necessidade de João Machado dar sequência na formação dos cafezais da Fazenda São Valentim. No início, esta tarefa foi designada aos “sertanejos”, porém estes estavam acostumados com a lida nas matas, não conseguiram formar o café, fato que levou o capitão João Machado, buscar nos imigrantes japoneses a solução para este problema.
ORIGEM DO NOME
No início o Povoado era chamado, ou conhecido, como Patrimônio Fazenda João Machado. Porém, naquela época, um fato interessante ocorreu. O povoado começou a ser conhecido por “LASCA BODE”, e esta hipótese era atormentadora para o capitão João Machado, pois isso lá é nome para uma cidade, costumava comentar. Sua angústia chega ao fim, quando comentava o dilema com o senhor Manoel Ferreira Damião, que sem hesitação sugeriu o nome de GUARAÇAÍ. O nome GUARAÇAÍ, palavra indígena da língua Tupi: coaracy, que significa sol – é uma árvore da família das leguminosas (Moldenhauera floribunda) groçaí-azeite e transpira uma resina adstringente. De flores amarelas, vagens polispérmicas e folíolos brilhantes, sua madeira é parda e avermelhada. O nome GUARAÇAÍ também foi dado ao município devido á grande quantidade das árvores guaraçaís existentes aqui naquela época, e que jamais escapara da lembrança de Manoel Ferreira Damião, (foi quem sugeriu o nome do povoado) e que emprestava nome a uma árvore nativa em sua terra natal.
OS IMIGRANTES EM GUARAÇAÍ
A chegada dos imigrantes na cidade teve a presença italiana muito marcante, bem como, a dos portugueses, espanhóis e sírio-libaneses. Foi significativa também, a chegada dos migrantes vindos de vários Estados do Brasil. Já os primeiros imigrantes japoneses chegaram por volta de 1932, época em que estourou a Revolução Constitucionalista. Eram 80 pessoas aproximadamente, que foram trazidas pelo primeiro povoador da região, Antônio Joaquim de Moura Andrade. Plantavam arroz e milho, em terras que depois eram utilizadas como pastos para a criação de gado.
INAUGURAÇÃO DA IGREJA MATRIZ
Em setembro de 1936 foi celebrada a primeira missa pelo padre Mauro Eduardo, com inauguração da Igreja Católica, tendo como padrinhos Aykel Curi e a senhora Alcides Cândida de Souza, quando foi realizada a primeira procissão religiosa. Em 15 de setembro de 1938, foi criada a Paróquia de Guaraçaí que recebeu o nome de Nossa Senhora Aparecida, e o primeiro padre da paróquia foi frei Pacífico de Itatiba, que aqui chegou acompanhado de vários capuchinhos, no dia anterior. Neste período houve 247 comunhões e 301 contrições. Pertencente a Diocese de Cafelândia, tendo como Bispo Dom Henrique Cesar Fernandes Mourão. O lançamento da pedra fundamental da Igreja Matriz se deu em 22 de junho de 1949, pelo padre Carlos Golbach, que após seu falecimento foi sepultado no cemitério municipal. A Praça da Matriz foi construída quando o padre Honório era o vigário. Guaraçaí, desde sua fundação, recebeu a Igreja Católica, e com o passar do tempo muitas outras chegaram com suas contribuições e filosofias, fazendo parte, hoje, de toda a evolução histórica, cultural e social do município. Além da Igreja Matriz, o município sempre contou com vários templos e espaços religiosos de diversas denominações.
CRIAÇÃO DO DISTRITO
Em 30 de novembro de 1938, através do Decreto Lei Estadual nº 9775, o Patrimônio Fazenda João Machado, como era conhecido, é elevado à categoria de Distrito de Paz, com terras pertencentes ao município de Andradina. Em junho de 1939, deu-se a instalação do Cartório de Registro de Paz. O primeiro subprefeito foi o senhor Dário Diniz.
CRIAÇÃO E EMANCIPAÇÃO DO MUNICÍPIO
Em 24 de dezembro de 1948, através do Decreto Lei Estadual nº 233, o Distrito de Paz é elevado à categoria de Município, com a denominação de Guaraçaí, desmembrado do município de Andradina. Sua instalação ocorreu em 10 de abril de 1949. A data de fundação oficial do município foi em 30 de novembro de 1938. A data de comemoração do aniversário do município é em 12 de outubro.
HISTÓRICO DO BAIRRO FORMOSA
A colonização do Bairro de Formosa se confunde com a história do município de Guaraçaí. A verdade é que são remanescentes da mesma época. Formosa é anterior às terras desmembradas do Distrito de Andradina em 1939, época do povoamento que se criou em torno da Estação de Ferro NOB inaugurada em 1936, que deu origem à sede do município de Guaraçaí. A data comemorativa do bairro é o dia 18 de julho, certamente numa alusão ao dia em que o navio Kasato Maru atracou definitivamente no cais 14 do Porto de Santos, desembarcando a primeira leva de imigrantes japoneses no Brasil, no ano de 1908. O ano de 1934 marca a chegada dos primeiros colonos. Porém, os primeiros imigrantes que aqui chegaram, foram ás famílias de Eiizo Shimizu, Miyamoto, Murai, Sakamoto e Eiichi Kimura. Em 1931, a BRATAC - Sociedade Colonizadora do Brasil Ltda. adquiriu junto ao Coronel Francisco Schimidt, proprietário da área que foi loteada entre os anos de 1933 e1934, em meio à segunda etapa que marca a imigração japonesa no Brasil no início do século passado. A área original, escriturada pelo 4º Tabelião, no livro 317, fl. 90 e registrada sob nº 1898 em 15/10/1931 no livro 3G fls.148 e 149 no Cartório de Registro de Imóveis de Araçatuba – era de 2.378 alqueires. Desses, 1.842 alqueires foram loteados e formou a SEÇÃO FORMOSA, e o restante da área foi incorporada ao Bairro Segunda Aliança. O pioneiro foi Kyoshi Matsuchita, em seguida chegaram Yotaro Onodera, Eishiro Minomi e Sakae Horibe, considerados fundadores do Bairro, e depois chegaram mais de 70 famílias, e o Patrimônio Fazenda João Machado, mais que nunca, se expandia com o novo bairro que surgia.
A população de Formosa, neste período, já ultrapassava em muito a marca dos 500 habitantes. O Bairro Formosa diferentemente da Primeira Aliança, não fora pré-planejado como loteamento e colônia, surgiu da oportunidade e necessidade da BRATAC em suprir a crescente demanda de imigrantes interessados e adquirir terras próprias. Se a vida na nova terra para alguns era difícil, para outros, no entanto, se apresentava impossível. Muitos dos primeiros colonos, por um motivo ou outro, abandonaram seus 10 alqueires – grandeza média do lote financiado com prazo de dez anos – logo nos primeiros anos. Apesar do parcelamento da terra ter sido organizado por uma companhia, Formosa nascia da iniciativa daqueles que, preocupados em minorar as enormes dificuldades da [época, juntavam familiares e companheiros organizando escola e associação, no intuito de buscar soluções, oportunidades e novos investimentos. Assim, em 1936, o Bairro que se formava já era assistido por médico, pelo menos uma vez por semana. Uma sala do escritório da colonizadora era transformada em consultório. Um armazém denominado “Casa Formosa” – cujo proprietário era Shuzo Nakayama, supria boa parte das necessidades dos colonos e uma escola com duas salas de aula e residência para professores atendia as crianças em idade escolar – Maria Silva era a professora de português, Iwaiti Shiramatsu, o professor de japonês. Em 25 de novembro de 1937 a escola foi municipalizada.
FUNDAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO NIPO-BRASILEIRA
O ano de 1936 marca também e principalmente a fundação da Associação Nipo-Brasileira de Formosa, que entre as décadas de 1930 e 1970 do século passado atuou oficiosamente, porém, sempre vitoriosa nos seus objetivos. Seu primeiro presidente foi Shuzo Nakayama, seguido por Sakae Horibe em 1937 e Takeo Okubo em 1938. Essa associação que por muitos anos usou uma das salas da escola para desenvolver suas atividades construiu sua sede própria entre os anos de 1957 e 1958, e tornou se oficial apenas no ano de 1981, com o nome de Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira de Formosa, motivada pela necessidade burocrática de formação da pessoa jurídica para legalização documentária da área em que estava estabelecida. Na noite do dia 12 de outubro de 1981, na sede da Associação ou Clube Formosa, os associados presentes escolheram o senhor Takuji Kamimura como presidente da nova associação, fundada agora oficialmente com o objetivo de desenvolver a harmonia entre os sócios, a cultura, os esportes e o estudo para aprimoramento de produção agro-pastoril. Hoje, aos 70 anos, na Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira de Formosa, se pode notar que não foram preservados na íntegra, os valores culturais japoneses, uma preocupação sempre presente entre os pioneiros. A escola de ensino da língua japonesa não mais existe. As variadas atividades culturais, artísticas, esportivas e recreativas que sempre visavam a preservação e difusão dos valores da cultura japonesa, foram com o tempo sendo prejudicadas e até impossibilitadas pelo fenômeno do êxodo rural. A partir dos anos de 1970, este fenômeno se intensificou no Brasil e os descendentes dos pioneiros de Formosa, também acompanharam. Com isso, o esvaziamento populacional dos jovens no meio rural deixaram de freqüentar a escola e a associação, impossibilitando a continuidade. Hoje as manifestações culturais, que as duras penas, ainda se mantém, restringe se ao tradicional Bom Odori, como evento anual, na época do aniversário do Bairro. No esporte, apenas o Gateball, introduzido na Associação por Eishiro Minomi, está em atividade. Se por um lado, a manutenção dos valores culturais, que por motivos alheios à vontade da Associação, não foi efetivada a contento por outro, na produção rural, a presença da Associação e de seus associados foi exemplar, deixando um enorme legado de contribuições para o desenvolvimento da agricultura, sericicultura, avicultura, agropecuária e fruticultura do município de Guaraçaí.
Fonte:
Resumo Extraído da Revista - Breve Histórico do Bairro Formosa. “Edição comemorativa ao 70º aniversário do Bairro Formosa”. Editor – C. H. Shiomi – 2004.
GUARAÇAÍ - CAPITAL DO ABACAXI
Apenas dois abacaxis de coroa facetada, com várias mudas distribuídas em leque, trazidas dentro da mala deram um novo rumo à economia do município de Guaraçaí. Aparentemente um ato insignificante, mas, para Wataru Takahashi e seu irmão Nobutsugu, eram preciosidades que valiam a pena cuidar com muito carinho. Dedicaram se então, todo o cuidado na proliferação destas mudas que frutificaram e deram amostras convincentes de que seria viável expandir em escala comercial. Todavia, nunca imaginaram que uma atividade agrícola fosse mudar o padrão de vida de um povo, gerando empregos e fixando o homem no campo. Contudo, há de se enfatizar que não foi por mero acaso que tudo aconteceu! O senhor Wataru Takahashi e seu irmão Nobutsugu eram do ramo, e chegando ao Bairro Formosa, em 1934, foram pioneiros na fruticultura, e tinham um viveiro de mudas. Sabiam, portanto, muito bem, o que tinham em mãos. O senhor Wataru, de vez em quando saia por ai visitando lugares, conhecendo gente, comparando costumes e vendo, sobretudo o que faziam as pessoas para sobreviver. Foi numa destas viagens, em 1956, quando esteve em São Paulo, que conheceu uma variedade de abacaxi, que era cultivada no município de Registro, à Smooth Cayenne ou Havaí, apropriado para sucos, e não teve dúvidas em trazê-la para o Bairro Formosa. Em 1959, já multiplicara para trezentos o número de mudas e, em 1960, já havia plantado dois mil pés de abacaxi. A partir daí começou a comercializar suas mudas. Ao iniciar o plantio de abacaxi, com suas primeiras mudas adquiridas de Wataru Takahashi, o senhor Sukematsu Korim, veio estabelecer uma nova era na fruticultura da região. Em 1963, a Cooperativa Agrícola de Cotia, instalou uma filial em Mirandópolis, e já no ano seguinte, trouxe ao Bairro Formosa, cerca de seiscentas mudas de abacaxi que foram divididas entre os senhores Takahashi e Korim. Em 1973, com suporte técnico da CAC, e do Engenheiro Agrônomo Dr. Kuga, foi realizada a primeira exportação de abacaxi para a Argentina. Em 1977, teve início à exportação em larga escala, porém foi interrompida devido a Guerra das Malvinas ocorrida em 1982. Em setembro de 1991, com a iniciativa do Sindicato Rural, tendo na gestão o presidente Shoji Korin, fundou-se a APAMG - Associação dos Produtores do Município de Guaraçaí. Seu primeiro presidente foi Toshio Shinohara, cuja finalidade principal da entidade era controlar a produção e a comercialização, evitando-se assim, ameaça a viabilidade da cultura do abacaxi. Em 1995, após a CAC – Cooperativa Agrícola de Cotia, encerrar suas atividades comerciais, coube a APAMG, a responsabilidade de substituí-la. Muito bem estruturada, não teve problemas para exercer importantes funções na troca de informações, apoio tecnológico e, sobretudo na divulgação do abacaxi. Hoje, conta com associados não só no município de Guaraçaí, mas em toda a região.
Fonte:
Texto Extraído da Obra – GUARAÇAÍ – Raízes e Famílias
Autores – Jayro Matheus de Moraes – Jorge Nakaguma e Caio Shiomi.
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