domingo, 14 de outubro de 2018

O MUNICÍPIO DE BRAÚNA

OS PRIMITIVOS HABITANTES - OS FEROZES ÍNDIOS KAINGANGS

Segundo Júlio Cesar Mellati, havia vários grupos de índios Kaingangs neste território. Cada grupo tinha um chefe: oREKAKÊ. Os kaingangs pertencem ao tronco MACRO-JÊ, família JÊ e língua kaingangs. 
O CAINGUÈ equivale ao nosso parente, mas só até certo grau de consanguinidade. O homem é alto e quase imberbe. Tem os bigodes finos e são mais robustos que a mulher, que, por sua vez tem a testa muito curta e coberta de penugem. São bronzeados, com mãos e pés pequenos, possuem olhos pretos e rasgados, maçãs do rosto, pouco salientes, nariz achatado e grosso, lábios grossos, dentes curtos e conservados. Tem uma vasta cabeleira, cortada à moda inglesa, daí serem conhecidos como COROADOS. Os meninos tinham sempre a cabeça raspada conservando-se uma faixa de cabelos em volta do crânio ou três madeixas, duas na frente e a outra atrás. Adoram o fogo e cultuam os mortos. Dão alguma atenção ao sol e à lua. Os demais astros (CRIN) e o trovão não têm significados para eles. O trovão é apenas um acontecimento da natureza. Não possuem médicos ou feiticeiros. Os doentes eram tratados pelas famílias com sangrias na testa. Há mulheres videntes que adivinham o futuro, pelo sonho provocado por um pó fino obtido das folhas de um vegetal. Mas a tribo não dá importância a elas. As casas são de uma ou duas águas e cobertas de folhas de coqueiros. As camas são feitas sobre o chão, forrado com folhas de coqueiros. Os membros da tribo trabalham para prover a subsistência da família. O jovem kaingang só podia se casar quando soubesse usar o CÁ ou GUARANTÃ (porrete), o arco e a flecha. Mas, só se casa com jovens de outro grupo, pois é proibido o casamento entre tios e sobrinhos e entre primos e primas. São monógamos, mas podem ter duas mulheres. Quem não cumpria a lei era punido com a pena de morte. Quando nasce um filho, o casamento torna-se indissolúvel. O casal só pode se separar enquanto não tiverem filhos. Os maridos são carinhosos com as esposas e filhos, e à autoridade dos pais estende-se até depois do casamento. O filho mais velho não podia contrair matrimônio antes da irmã, esta só se casava quando atingia à puberdade, os pais entregavam-na a um de seus Caingué, que se incumbia de cuidar de sua manutenção, até o dia de seu casamento. As mulheres dão à luz sem assistência, isoladas e em plena mata. Acompanham os maridos por toda a parte, até na guerra. Conduzem os filhos pequenos às costas, enlaçados por uma cinta de casca de cipó Imbé,Guembé ou Guaimbé. Tratam os filhotes de pássaros, anta, macaco, porco do mato com se fossem membros da família. Amamentam os filhotes de antas, macacos e porcos do mato. Consideram um canibalismo comer uma ave doméstica. Não se vangloriam de seus feitos de guerra. Não matam as mulheres e as crianças prisioneiras de guerra: tratam do mesmo modo que seus familiares. Não são bons pescadores. Mas gostam de pescar. Alimentam-se de frutos e peixes. Plantam suas roças: abóboras (perrô), fava branca (rangró) e milho (inhere). Fazem do milho: pães (iamin) e uma bebida (kiki) que tomam somente em dias de festa. Gostam da carne da anta (rorô), mas não comem onça e veado. Gostam de carnes bem cozidas. As fogueiras são conservadas sempre acessas. O fogo é produzido rolando-se, entre as palmas das mãos, uma vareta, em cima de um pedaço seco de pedúnculo de um cacho de coco, que inflama, depois de algumas horas de trabalho. Fabricam balaios, pinças de madeira, tecidos com fibras de taquara, pilões, vasos de barro, fios de fibra de gragoatã, para confecção de tangas e panos de agasalhos para o frio. Fazem colares de sementes de certos vegetais ou dentes de macaco, entremeados com presas e garras de onças e de outros animais. As suas cintas são feitas de cascas de cipó imbé. Fabricam ainda arcos e flechas de vários tipos e enfeites de penas. Quando morre um kaingang, ele é homenageado durante vários dias pelos homens e mulheres da tribo, que cobrem suas cabeças com longos panos (curiss). Choram e cantam tristemente. Dois homens ficam de cócoras, um de cada lado da cabeça, soprando nos ouvidos do morto, chorando, tangendo maracás e cantando tristemente. Os parentes ficam agrupados à cabeceira do defunto, em silêncio. Para enterrá-lo, amarram as pernas dobradas sobre a barriga e levam-no ao cemitério, onde o enterram numa cova forrada com folhas de palmeira, e presentes dos amigos. Seus pertences e seus animais domésticos são queimados. A viúva recolhe-se para um lugar solitário, por vários dias, pois não pode olhar para ninguém, porque pode causar malefícios. Depois desse recolhimento, ela tem de se disfarçar para enganar o espírito do marido, caso ele a viesse procurar para ir morar com ele na sepultura: raspa as sobrancelhas e pinta o rosto, os braços e o tronco com pó de carvão, misturado com leite de cipó.

TRIBOS KAINGANGS:
- CACIQUE VAUHIN – Habitavam a região dos campos de Avanhandava e Fazenda Patos.
- CACIQUE BRI – Habitavam a região do Córrego do Veado, também águas do Rio Iacri.
- CACIQUE IACRI – Habitavam a região das águas do Córrego Jurema, afluentes do Rio Feio.
- CACIQUE RERIG – Habitavam a cabeceira do Córrego do Veado.
- CACIQUE ARY- KRIM-KRIM – Habitavam a região dos Patos.

ÍNDIA VANUIRE - A HEROÍNA DA PACIFICAÇÃO
Em 1912, vinda do Paraná, a Índia Kaingang é considerada uma das figuras essenciais para o fim dos conflitos no Oeste de São Paulo. De corpo franzino e envolto em trajes singelos, rosto repleto de sulcos, emoldurado por um lenço e algumas mechas de cabelos brancos. Figura frágil, mas dotada de valentia superior à de muitos guerreiros (sua coragem não era a dos que empunham revólveres ou facas, mas sim a daqueles que conferem à vida humana um valor que nenhum punhado de terra é capaz de pagar), a Índia Vanuíre é considerada uma das figuras cruciais para que a paz entre brancos e índios no Oeste de São Paulo pudesse ser selada. A história da índia caingangue é um tanto obscura. Ninguém sabe ao certo quando e onde ela nasceu. Atualmente, existe um consenso entre pesquisadores de que ela teria vindo do Paraná. Pelo que sabemos, Vanuire trabalhava na lavoura em uma propriedade situada próximo à divisa com São Paulo. Como já estava acostumada ao convívio com os brancos, acabou sendo chamada pelo Serviço de Proteção ao Índio (S.P.I.) para mediar às negociações de paz com os índios, afirma Tamimi David Rayes Borsatto, diretora do Museu Histórico Pedagógico Índia Vanuíre, em Tupã (182 quilômetros de Bauru). Por volta de 1910, o principal foco de resistência indígena estava concentrado no vale do Rio Feio, também conhecido como Aguapeí. Um grupo chefiado pelo Cacique IACRÍ (que hoje empresta o nome a uma cidade situada nas imediações de onde o conflito ocorreu) não queria saber de dialogar com os brancos. O ainda coronel Cândido Mariano Rondon, fundador do S.P.I., resolveu recorrer ao auxílio de um grupo de Kaingangs pacificados que trabalhavam como escravos na fazenda Campos Novos do Paranapanema, no Paraná. É interessante notar que seres humanos pudessem ainda viver na condição de servidão, a despeito de a escravidão no Brasil ter sido abolida em 1888. Embora convivesse de perto com os brancos, Vanuíre mal sabia falar português direito. Por outro lado, como era uma das mulheres mais velhas da tribo e tinha grande habilidade para contar histórias, atuava como uma espécie de guardiã das tradições de seu povo. A índia Vanuíre prestou um enorme serviço para a pacificação de seus irmãos. Ela desejava salvar da morte o que ainda restava de seu povo. Conta à lenda que, cansada de ver a dizimação de seu povo, Vanuíre costumava subir em um tronco de jequitibá de dez metros de altura, onde permanecia do nascer do dia ao cair da tarde, entoando canções em favor da paz. Ela também teria o costume de colocar presentes nas bordas da floresta para atrair a simpatia do Cacique lacri e seus comandados. Por meses, o esforço da velha Kaingangs parecia ter sido em vão. Certo dia, porém, ao caminhar pela mata, Vanuíre notou que os presentes haviam sido recolhidos pelos índios, que, em troca, deixaram flechas e mel.
O dia 19 de março de 1912 foi decisivo para o final dos conflitos. Pouco depois do meio-dia, dez guerreiros Kaingangs se apresentaram no acampamento branco. Vinham desarmados. Marchavam resolutos. Davam sinais de que desejavam fumar o cachimbo da paz com os integrantes do S.P.I. (Serviço de Proteção ao Índio). A velha Vanuíre, percebendo a atitude pacífica dos guerreiros, não conteve o entusiasmo e marchou firme ao encontro dos visitantes. Disse a eles que seriam acolhidos como irmãos e pediu que a acompanhassem ao acampamento. A cena causou forte emoção em todos que ali estavam. O encontro permitiu a retomada das obras da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), e Vanuíre ganhou fama de pacificadora em toda a região. Ela viveu seus últimos dias na aldeia Kaingangs de Icatu, no município de Braúna, região de Tupã, aonde veio a falecer, em 1918. Mais tarde, seus restos mortais foram levados a Tupã e depositados em um Mausoléu construído em frente a uma Escola Estadual que leva seu nome. Índia Vanuíre também é o nome de um Posto da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) existente no município de Arco Íris, e de uma Escola Estadual de Educação Indígena situada no local, de um Museu Histórico em Tupã, e de um Núcleo Habitacional localizado na zona norte de Bauru. Os contatos amistosos eram constantes, e por muito tempo tal situação continuou, até que em 1918, ocorreu o surto da “gripe espanhola” ocasionando muitas mortes. Os índios que sobreviveram, em toda a região, foram transportados para ICATÚ (Braúna), onde ficaram em uma fazenda do Governo Federal.

A ORIGEM
Em 15 de Outubro de1908, o senhor Adolpho Hecht, registrou no Cartório do Primeiro Oficio da cidade de São José do Rio Preto, sob a escritura pública transcrita sob nº. 1.051, faz o registro de uma gleba de terras que adquiriu na margem esquerda do córrego Água Limpa, afluente do Rio Tietê. No período de 1910 a 1912, Adolpho Hecht, mediu 20 alqueires localizados às margens direita do Córrego Macuco e a esquerda do Córrego Água Limpa.

FUNDAÇÃO DO POVOADO
O senhor Adolpho Hecht queria então, que nessa área fosse formada uma Vila, e que a mesma fosse denominada de BRAUNAU, o mesmo nome de sua terra natal. Nos anos de 1913 a 1914, vieram para esta vila seus primeiros habitantes que começaram então as primeiras construções feitas de pau a pique, cobertas de sapé ou mesmo de capim. Os primeiros moradores do povoado foram: Antônio Nunes, Ramon Xaxim, José Chacon, João Bartmann, André Rull, Manuel Verdú, Antenor Jacobsen, Dominós Espanhol, Capito, Joaquim Bernardo do Amaral e outros. Em 1921, a Vila de Braunau, já contava com 23 lotes que mediam 20 x 40m, e várias chácaras demarcadas, com seus respectivos proprietários, porém com poucas benfeitorias. Em 1924 com a instalação de uma serraria pela firma Ramos da Silva & Irmãos, o patrimônio de Braunau teve um bom impulso, pois para cá vieram muitas famílias para trabalharem na indústria da madeira que era farta na região.

CRIAÇÃO DO DISTRITO
Em 17 de Setembro de 1928, através do Decreto Lei Estadual nº. 2283, o Patrimônio de BRAUNAU foi elevado à categoria de Distrito de Paz, pertencente ao município de Glicério, quando então retiraram a letra “U” do final do nome, alterando o nome do distrito, que passou a chamar-se BRAÚNA, permanecendo até hoje.

CRIAÇÃO E EMANCIPAÇÃO DO MUNICÍPIO
Em 30 de Dezembro de 1953, através do Decreto Lei Estadual nº. 2456, o Distrito de Braúna foi elevado à categoria de Município. No ano de 1954 foram realizadas as primeiras eleições no município, elegendo seu primeiro Prefeito o senhor José Ramos da Silva, que tomou posse em 1º de Janeiro de 1955.

BIOGRAFIA – ADOLPHO HECHT
Nasceu em Braunau, Tchecoslováquia, em 1873. Em 1890 chegou ao Rio de Janeiro, de onde foi para Jaú trabalhar como Agrimensor dirigiu-se para Jaboticabal, então “boca do sertão”, onde exerceu as mesmas funções em 1906, em companhia do engenheiro Dr. Tood Loock, veio proceder às divisões das fazendas “Patos”, “Água Limpa”,“Lageado” e outras em 1910 mudou-se para o patrimônio de Santa Cruz do Avanhandava, (Penápolis), onde em 1912 foi eleito subprefeito da Vila de Penápolis, pela Câmara Municipal de Bauru reeleito em 1913, foi prefeito entre 1916/1917 e reeleito em 1921/1922.

REGISTROS DO HISTORIADOR – LINHA DO TEMPO
Entre os anos de 1917 e 1920, o padroeiro da cidade, São Sebastião, foi escolhido pelos senhores Antônio Nunes, Joaquim Bernardo do Amaral e Manuel Verdú (pai de dona Ascensão Verdú Borges). As primeiras missas eram celebradas pelos freis capuchinhos, que vinham da cidade de Penápolis, em frente a um Cruzeiro na Praça onde hoje está a Matriz de Santa Terezinha de Glicério.
Em 1957, foi instalada a energia elétrica da C.P.F.L. no município de Braúna.
Em 1962, foi instalado o serviço de Água encanada.
Em 1965 deu-se a instalação dos primeiros telefones.
Em 18 de Fevereiro de 1968, o Bispo Diocesano Dom Pedro Paulo Koop, veio a Braúna e, nesta ocasião, empossou o Padre João Obendorf como primeiro Pároco da Igreja Matriz, permanecendo na comunidade por 18 anos.
OBS: Pesquisa realizada pelo neto do fundador, Divaldo Braz Ramos.
Fonte: Texto Extraído do Livro - Doces Lembranças de Outrora.
Autoras: Maria Zeila Sellani Pontes e Rosemari Gattás Barnesi.


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