terça-feira, 2 de abril de 2019

MEMÓRIA DAS REVOLUÇÕES

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E as revoluções de 30 e 32, como repercutiram na cidade de Cruzeiro ?

"Eu era bem pequena, nessa época. Em 30 eu tinha apenas oito anos. Mas lembro que papai teve que ficar longe da família e mamãe pegou todos os filhos e foi se esconder na Serra da Bocaina, perto da Hidrelétrica, pois ela e papai tinham contato com o gerente dessa usina. Na verdade, o que se temia mesmo era que os soldados abusassem das filhas maiores que já eram moças. Em 32, não. Mamãe decidiu que não ia sair de Cruzeiro, que era tolice. Papai tinha sido transferido pela direção da Light para São Sebastião. Ela então mandou as filhas mais velhas para a casa de parentes e ficou com os pequenos. Aquela foi uma região de combates, pois as tropas do governo estavam na Mantiqueira. Às vezes, vinha um aviãozinho vermelho e bombardeava pontos da região. É interessante porque à noite ou víamos tiroteio na serra e só depois é que descobrimos que não eram combates: os soldados ficavam batendo matracas para fingir guerra! Até que um dia as tropas comandadas pelo general Góis Monteiro chegaram à cidade que estava praticamente vazia. O general chegou bêbado, quase caindo, escorado por dois soldados. Ficaram ali uns dias, depois foram embora, acredito que sem incidentes. Mamãe e outras mulheres fizeram comida para as tropas. Quando acabou aquela briga, papai e os comunistas voltaram. A cidade estava acéfala e eles poderiam ter ocupado a prefeitura. No entanto, acharam melhor convidar um médico progressista de lá, o doutor José Diogo Bastos - pai do Márcio Thomaz Bastos - para ocupar o cargo de prefeito. Ele aceitou e deve ter gostado, porque permaneceu no cargo por muitos anos.” 

Idealina Fernandes Gorender - Filha de um operário e fundador do PC, mulher de um historiador e dirigente comunista, Idealina conta a sua trajetória de militante, iniciada em Cruzeiro (SP) e interrompida com o golpe militar de 1964.
Seu marido também teve história.
Veja:

Historiador, pracinha e militante comunista Jacob Gorender morre aos 90 anos.

Historiador e jornalista Jacob Gorender. 
Autor de clássicos como O Escravismo Colonial, Gorender militou no Partido Comunista Brasileiro (PCB), do qual foi um de seus dirigentes. 
Sua obra O Combate nas Trevas, referência sobre a luta armada na ditadura militar no Brasil, tornou-o respeitado até pelos militares.
Nascido em 20 de janeiro de 1923, em Salvador, Gorender era de família pobre. Seus pais tiveram cinco filhos. "Meu pai, apesar de judeu, não sabia fazer dinheiro", dizia. 
Estudou com dificuldade - faltavam-lhe roupa e sapatos. 
Aos 17 anos, começou a se dedicar ao jornalismo. 
Foi na oposição à ditadura de Getúlio Vargas, que se aproximou do PCB por meio do amigo Mário Alves - mais tarde torturado e morto pela ditadura militar.
Gorender estudava na Faculdade de Direito de Salvador quando o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália, em 1942. 
Apresentou-se voluntário para lutar. 
Para o general Octavio Costa, seu companheiro de Força Expedicionária Brasileira (FEB), ele "era o mais lúcido marxista brasileiro". 
O intelectual orgulhava-se de sua participação na guerra. Engajado em uma companhia responsável pela comunicação entre as unidades, o futuro dirigente comunista escrevia artigos para o órgão oficial da FEB, O Cruzeiro do Sul.
De volta ao Brasil, prosseguiu a militância no PCB, em uma época em que o partido atraía boa parte da intelectualidade - a crise provocada pelo relatório de Khruchev, em 1956, sobre os crimes de Stalin ainda não havia afastado muitos deles.
Foi casado com Idealina da Silva Fernandes Gorender, filha de Hermogeneo da Silva Fernandes, um dos fundadores do PCB. 
Trabalhou nos anos 1950 e 1960 na imprensa do partido. 
Em 1958, esteve entre os progressistas que desejaram reformar a agremiação. 
Rompeu com o PCB após o golpe militar de 1964 e ajudou a fundar o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), que atuou na resistência à ditadura.
Passou pelo inferno da prisão e tortura nas mãos do delegado Sérgio Paranhos Fleury. 
Em sua última entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo", em 2012, disse: "Minha vida teve momentos bons e difíceis. Atravessei essa trajetória honradamente. Não tenho do que me envergonhar. Não delatei. Não coloquei ninguém em perigo. Para mim, isso é honroso. Nem todo mundo pode dizer isso".
Publicou sua obra após deixar o cárcere. 
"Nasci em uma família comunista. Meus pais eram extremamente cultos e solidários", disse a médica Ethel Fernandes Gorender, sua única filha. 
Foi enterrado no Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo. 
COLABORARAM: GABRIEL MANZANO e ADRIANA FERRAZ.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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