Os Convocados da FEB de Socorro (SP)
Postado em Heróis
Chegada dos Pracinhas – Rua Campos Salles – Socorro (SP).
Os convocados de Socorro compunham o 6º Regimento de Infantaria de Caçapava – SP, ao qual, participaram das ações de assalto em Montese, Zocca e Fornovo di Taro, entre outras mais.
Atuaram na Campanha da Itália (1944-1945) nos setores de Artilharia, Infantaria e Corpo de Cozinheiros.
Os nomes desses heróis são:
Benedito Vaz de Lima,
Luiz Granconato,
Manfredo Lugli,
Thomas Marcelino Borin
e Ramiro Zucato.
Luiz Granconato (primeiro da esquerda em Caçapava)
1943 (antes de irem para a Itália - Borin é o segundo da direita para a esquerda)
Vaz de Lima
Vaz de Lima (certificado)
Luiz Granconato (verso da foto na casa do major)
Luiz Granconato (no lado esquerdo)
Luiz Granconato (jantar na casa do Major Goulart)
Lazaro da Cruz
(Da esquerda para a direita) Manfredo Lugli, Benedito Vaz de lima, Tomaz Marcelino Borim e Luiz Granconato.
Carteira de identidade
Benedito Vaz de Lima
Benedito Vaz de Lima
Benedito Vaz de Lima
Aquino Zidoro, Primo Jardim, Fortunato Ferrari e Luiz Granconato.
Eram jovens simples, humildes, produtores rurais em sua maioria e com pouca instrução; sempre foram desprezados pela elite nacional pela sua origem.
Não deixa de ser uma ironia o fato de que uma tropa composta pelos elementos que, pela sua origem social e étnica, sempre foram desprezados pela elite dirigente da nação e do próprio exército tenha chegado a forjar tamanha capacidade de luta – e isso para eterna glória histórica daquela mesma nação e deste mesmo exército (OLIVEIRA, 2001, p. 148).
Os feitos heróicos dos pracinhas brasileiros na Campanha da Itália (1944-1945), não ficaram apenas no campo militar ou na derrota do nazi-fascismo na Europa.
Quando regressamos ao Brasil, logo em seguida à deposição do Dr. Getúlio Vargas, foram realizadas eleições para a Presidência da República, saindo vencedor o General Eurico Dutra. Nova Constituição foi elaborada, e a sua promulgação no dia 18 de setembro de 1946, segundo aniversário da tomada de Camaiore, foi uma justa homenagem dos congressistas aos combatentes brasileiros […] Não há dúvida de que a queda do ditador e o restabelecimento do regime democrático no Brasil foi a primeira grande consequência da participação brasileira na 2ª Guerra Mundial (SILVA, 1985, p. 50).
Assim como também vemos nas palavras de Vinícius de Moraes:
Como bem descreveu o jovem Vinícius de Moraes, no jornal Diretrizes, estávamos de novo em casa: ‘Pracinhas da Força Expedicionária Brasileira, vós sois os mais bem-vindos soldados da terra, pois que sois os nossos soldados. Perdoai não vos terem deixado marchar, em nome da emoção que a vossa volta nos causou. Estais finalmente em casa, e isso nos entusiasma, porque voltastes para participar também na grande marcha do Brasil para a Democracia. Honra, e mais honra, e muita honra – que a honra é vossa! Honra a vós, atacantes de Castelnuovo, Monte Castelo e Montese, que propiciastes a vitória da Democracia fora e dentro do país! Honra a vós homens do povo do Brasil que enfrentastes na neve o fogo do ódio inimigo! Honra e mais honra, e honra ainda! A cidade vos recebe como os seus mais queridos filhos. Sede bem-vindos, pois que sois os mais bem-vindos de todos os soldados de todas as Pátrias, filhos deste solo pacífico, que vistes a morte de face, e que retornastes para uma Pátria feita mais consciente. Sede bem-vindos, pracinhas do Brasil! (ALMEIDA, 1985, p.191).
Em 1945 os pracinhas retornaram ao Rio de Janeiro e foram recebidos calorosamente pela população. Eram abraçados e beijados por onde passavam. Crianças pediam autógrafos, botões, quepes e partes do fardamento eram arrancados como lembrança. Dias depois, em São Paulo, o 6º Regimento de Infantaria foi recebido no Estádio do Pacaembú, recebendo homenagens de políticos e artistas regionais. No dia 14 de Agosto de 1945, a população socorrense recebeu seus heróis na Rua Campos Salles.
Estes heróis foram esquecidos pela população socorrense. O Dia da Vitória na Segunda Guerra – 8 de Maio – é um dia como qualquer outro para a cidade. Em nossa região, encontramos monumentos da Força Expedicionária Brasileira nas cidades de: Bragança Paulista, Serra Negra, Amparo, Mogi Mirim, Itatiba e Jaguariúna.
Sem contar que, os italianos são gratos aos feitos dos brasileiros na Segunda Guerra Mundial ao libertarem regiões no norte da Itália.
Na Itália existem diversos monumentos em homenagem aos pracinhas brasileiros, onde até hoje se realizam atos recordatórios. Em 2005, nos 60 anos do Dia da Vitória Aliada na Europa, delegações brasileiras foram a Itália, e delegações italianas vieram ao Brasil marcar a data. Até hoje os italianos das regiões onde a FEB operou manifestam sua gratidão por terem sido libertados pelos brasileiros (BLAJBERG, 2008, p.24).
A construção de um monumento não beneficiará apenas um grupo de pessoas, será uma contribuição para a memória da cidade e um ato de reconhecimento. Em um país como o nosso, os verdadeiros heróis são deixados de lado, priorizando, por exemplo, jogadores de futebol ou atletas.
Atualmente, nossos jovens precisam ter o conhecimento da contribuição dos socorrenses também no esforço de guerra na Europa. É uma questão de identidade. Quem somos? De onde viemos? Em quem nos espelharemos ou temos que respeitar?
Em 2010 comemoramos 65 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. De modo geral, O que está faltando na cidade de Socorro? 9 de Julho não é tudo.
Hoje, porém, tanto a Força Expedicionária quanto seus veteranos, mortos ou ainda vivos, são esquecidos, ignorados na sociedade brasileira. Um exemplo deste esquecimento pode ser encontrado nos livros didáticos utilizados nas escolas brasileiras que mencionam, quando o fazem, um parágrafo, quanto muito, meia página, para falar de um tema que já produziu e pode produzir páginas e páginas de conteúdo histórico (KOELLER, 2008, p.6)
Em consulta a edição do Jornal de Socorro gentilmente cedido por Neusenice Borin, datado em 27 de Fevereiro de 2009 na coluna ‘’Arquivo Socorro’’, prestando uma última homenagem ao nosso último herói febiano que nos deixou no dia 14 de fevereiro de 2009 em que consta uma pequena biografia:
Tomaz Marcelino Borin. Nasceu em 6 de janeiro de 1920, em Socorro. Filho de imigrantes italianos Victorio Borin e Thereza Brolezi Borin, é o caçula de oito irmãos. Seus pais conheceram-se em Monte Alegre do Sul, enquanto colonos de uma fazenda. Casaram-se e adquiriram um sítio no bairro do Agudo, em Socorro. Foi aí que nasceram todos os filhos do casal. Thomaz cresceu em meio rural, sempre trabalhando na lavoura. Nos finais de semana, a diversão era ir aos bailes nos sítios arredores. O irmão era sanfoneiro dos bailes e os demais, os dançarinos. Foi um desses bailes que o Borin, assim carinhosamente chamado, conheceu aquela que tornaria sua, seis anos depois, sua esposa. Em 1941, com 21 anos, foi convocado para servir o exército na cidade de Caçapava.
Como o mundo já estava efervescendo com a Segunda Guerra Mundial, não o dispensaram do exército. Assim, em 1942 foi para a cidade de Taubaté e, em 1943, para o Rio de Janeiro. A guerra foi estendendo seus tentáculos em todas as direções do mundo, atingindo as costas marítimas brasileiras, com torpedeamentos de nossos navios cargueiros. Atacando traiçoeiramente e de surpresa, o Brasil foi forçado a entrar na guerra ao lado das ‘’Forças Aliadas’’ contra as chamadas potências do eixo – Alemanha, Itália e Japão e seus aliados.
O nosso país participou com um corpo do exército que passou a chamar-se Força Expedicionária Brasileira ou FEB. Em 16 de julho de 1944, desembarcava em Nápoles, na Itália, o 1º Escalão da FEB, onde Borin era um dos soldados que brilhantemente representou o Brasil ganhando o apelido de ‘’pracinha’’. Os soldados brasileiros se igualavam aos melhores combatentes do mundo, tanto no sofrimento dos revezes, como na humildade das jornadas triunfantes. As vitórias sucederam-se e os soldados brasileiros, enfrentando a neve, o gelo, a lama e o fogo certeiro do aguerrido soldado alemão, foram conquistando: Camaiore, Monte Castello, Castelnuovo, Montese, Zocca, Collechio, Fornovo, seguindo outros pequenos combates até chegar a vitória final. A paz da Segunda Guerra Mundial foi assinada em 8 de maio de 1945.
Em 6 de Julho, o navio ‘’General Meigs’’ deixava o porto de Nápoles trazendo de regresso à Pátria o 1º Escalão de Embarque e, dentre ele, lá estava o soldado Borin, são e salvo. Chegando ao Brasil, foram homenageados em todas as cidades por onde passaram, inclusive em socorro. De volta à terra natal, Borin foi rever a namoradinha que deixara esperando há quatro anos e a encontrou aguardada por ele. Casaram-se em 15 de Dezembro de 1945 e dessa feliz união nasceram os seus cinco filhos: Nair, Narciso, Nelson, Neusenice e Nilcelene. Hoje, dessa união, também chegaram catorze netos e sete bisnetos, que o consideram um vitorioso não só da guerra, mas também da vida, pois soube como ninguém honrar a sua família e educá-la para que se formassem pessoas de bem. Um herói de guerra só pode ser um herói da vida.
Em 14 de Fevereiro de 2009, em Socorro, Borin deixou-nos para viver em outra esfera.
Partiu deixando um legado que, com certeza, ficará na lembrança de todos que o conheceram, seja através do heroísmo de sua vida ou do compromisso do amor em sua família.
Medalha de Honra dos Socorrenses
6º Regimento de Infantaria
Placa de Identificação do Soldado
Medalha da FEB
Quadro de Homenagem
Referências
BLAJBERG, Israel. Soldados que vieram de longe: os 42 heróis brasileiros judeus da 2ª guerra mundial. Resende, RJ: AHIMTB, 2008. 284 p.
FARIA, Marcio José Celestino. A Casa das Laranjas: crônica dos bragantinos na FEB. 1ª ed. São Paulo: Editora do Autor, 2009. 263 p.
OLIVEIRA, Dennison de. Poder Militar e Identidade de Grupo na Segunda Guerra Mundial: A experiência histórica da Psiquiatria Militar Brasileira. In: História: Questões e Debates. número 35. Curitiba: Editora da UFPR, 2001. p.117-154.
SILVA, Ernani Ayrosa da. Memórias de um soldado. 1ª Edição. Rio de Janeiro, 1985.
Colaborador: Derek Destito Vertino,
Licenciado em História,
Cursando Especialização em História Militar.
derekdestito@hotmail.com
Portal da FEB.
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