terça-feira, 17 de janeiro de 2023

SOROCABA.

 


João Francisco Rosa e as origens da Vila Angélica

Cortada por um dos antigos caminhos que levam ao Morro do Araçoiaba e à plurissecular forja de Afonso Sardinha, atualmente denominada Avenida Ipanema, a Vila Angélica foi um dos marcos iniciais do avanço da cidade rumo à Zona Norte, na qual hoje reside hoje a maioria da população sorocabana. Inicialmente denominada Vila Santa Angélica, ela nasceu da iniciativa do português João Francisco Rosa, um dos muitos empreendedores na área do parcelamento do solo, que têm balizado a expansão física da zona urbana de Sorocaba.
Fiquei sabendo disso quando, há algumas semanas, tive a alegria de receber em minha casa o escritor João Líbero Rosa Marques que, de visita a sua cidade natal, me trouxe, em mãos, o nono volume da Antologia da Academia Peruibense de Letras, destinado a estante regional da Academia Sorocabana de Letras.
Na condição de titular da Cadeira nº 11 da APL, que tem como Patrono o poeta Mário Quintana, João Líbero, nascido em Sorocaba em 1946, conheceu Peruíbe quando criança, nas temporadas de férias da família, apaixonou-se pela cidade, se fez cantor de suas tradições históricas e mitológicas e é um dos mais entusiasmados e ativos integrantes de sua academia de letras.
A recém-publicada antologia da instituição, relativa ao ano de 2018, enfeixa vários textos seus e destaca na capa – com o título Rosa do Abismo, seu reconto da lenda de Anahí que tem fundas raízes no Vale do Ribeira.
Durante a visita, presenteou-me com o manuscrito de uma publicação sobre seu pai, João Francisco Rosa, nascido em 1891 na vila portuguesa de Moitas Vendas - habitada por pouco mais de mil pessoas – e localizada no município de Alcanena – cujas origens, como a denominação revela, remonta à ocupação árabe - no distrito de Santarém. De base agrícola – ali se cultivam, entre outros produtos, a oliveira e a uva, destinadas à produção de azeite e vinho; frutas como figo, maçã, pera, nozes e castanhas e se criam ovelhas, cujo couro movimenta as indústrias de curtume e fabrico de roupas de peles, que ali tem um dos seus centros mais importantes no território português.
João Francisco Rosa ali viveu, como um camponês não alfabetizado, até os 16 anos, idade em que foi convocado para cumprir dois anos de serviço militar em Santarém. Naquela cidade pela primeira vez frequentou a escola, cursando até o ensino médio. Reingressando à vida civil, em vez de retornar à terra natal, fixou-se em Lisboa, onde trabalhou numa exportadora de couros curtidos. Em 1910, imigrou para o Brasil – onde já se encontrava seu irmão Manoel – e, em sociedade com ele, estabeleceu-se, sucessivamente, em Araçatuba, como importador couros; São Manuel, no ramo de hotel e restaurante e, por fim, Sorocaba.
A essa época, o pai já era falecido, mas ele intercalou suas atividades empresariais com viagens a Portugal, praxe que manteve até a morte da mãe, Ângela de Jesus, conhecida na família como Angélica. Casou-se, no Brasil, com a também portuguesa Beatriz Augusta, com quem teve seis filhos.
João Líbero, foi o primogênito, seguido por cinco irmãs.
Vindo para Sorocaba, montou, sempre em sociedade com o irmão, o Armazém dos Rosa, inicialmente, na rua Monsenhor João Soares e, depois, na Coronel Nogueira Padilha. O irmão também se casou com uma portuguesa, casamento esse do qual se originou grande parte dos integrantes das famílias sorocabanas Rosa Ferreira e Batista Ferreira.
Em 1935, transferiu o armazém para os sobrinhos e adquiriu uma área de 14 alqueires na Terra Vermelha, dividiu-os em lotes e, em parte deles, construiu casas, firmando-se como um dos mais dinâmicos empresários da época no setor imobiliário. Deu ao aglomerado que assim surgia o nome de Vila Santa Angélica, a qual, como a fonte de água mineral que ali descobriu, assim denominou em homenagem à sua mãe.
Com a ajuda de lideranças políticas como João Rodrigues Bueno, Adolfo Frederico Schleiffer e do padre Pieroni, conseguiu que as ruas recebessem, ainda no primeiro mandato do prefeito Gualberto Moreira, água encanada, energia elétrica e linha de ônibus. Fez a lição de casa, doando, ao poder público, a área para o primeiro prédio do Grupo Escolar “Prof. Izidoro Marins”, posto policial, ambulatório médico e o parque infantil nº 4, hoje transformado em Escola Municipal 104, que recebeu o seu nome, bem como o terreno para construção das igrejas católica e da Assembleia de Deus. Os imóveis foram vendidos a preços acessíveis, em parcelas a perder de vista, através do escritório, instalado em sua residência, no nº 132 da rua Baltasar Fernandes.
Enquanto viveu, foi dono de uma grande chácara na Vila Angélica, na qual, depois de seu falecimento, foram abertos os prolongamentos das ruas Pedro de Barros, Dolores Bruno e Adolfo Frederico Schleiffer. Faleceu em Sorocaba, aos 69 anos.

Texto: Professor Geraldo Bonadio

via face de Carlos Eduardo Silva.

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