quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

PAULO OHIRA, DE MIRANDÓPOLIS



Paulo Ohira nasceu em 1938 na cidade de Mirandópolis, no interior do estado de São Paulo. 
Filho de imigrantes japoneses, ele viveu até os dez anos de idade em uma comunidade nipônica. 
Foi quando sua família se mudou para a cidade de São Paulo, foi estudar em um internato em Mogi das Cruzes e começou a aprender português. 
O idioma representou muitos desafios para ele. 
A história, Paulo Ohira contou ao Museu da Pessoa em agosto de 2007.
Eu falava [o português] tudo atrapalhado, porque é diferente. Em português é "Estação da Luz". Japonês fala o contrário, não fala "Estação de Santana", fala "Santana Estação", tudo ao contrário. Nessa hora a gente se atrapalhava muito.
No que eu comecei a aprender a ler, o que eu achava estranho é que todas as páginas dos jornais, mas tudo, tudo tinha o meu nome: 
“Mas que Diabo! Por que tem esse negócio de meu nome aqui nos jornais?” 
Aí, eu fiquei sabendo: por causa de São Paulo, é o Estado de São Paulo. 
Então, o meu nome estava lá, em todas as páginas. 
Eu tinha 10, 12 anos quando comecei, mal comecei a ler. Então, a primeira cartilha foi da Benedita Stall Sodré. A primeira lição é: “A pata nada”. Eu conseguia ler: “A pata nada”. Mas o que é “a pata nada”? O que quer dizer isso? A pata é a mulher do pato, não é isso? A pata nada, por que será que a pata nada? Pata é a mulher do pato ou o que é? E tudo isso atrapalhava.
Japonês com o inglês é semelhante. Não tem duas “boa noite”? "Good evening" e "good night". Japonês também tem: um quando chega e um quando vai embora. 

in Museu da Pessoa.

ANTONIO RUIZ VILANOVA: CARTEIRA DO MENOR




Meu nome completo é Antonio Ruiz Vilanova, eu nasci em São João da Boa Vista, em 28 de janeiro de 32. 
Meus pais eram Salvador Ruiz Castilho e Águeda Vilanova. Meus avós, Salvador Gimenez e Helena Del Castillo. 
São de origem espanhola. Vieram todos da Espanha, meus avós e meus pais. Vieram de navio, no começo do século, fugindo da guerra, como a maior parte do povo. 
Eles vieram direto pra São João da Boa Vista. Desembarcaram em Santos. 
Em São João da Boa Vista, eles trabalhavam na lavoura. Moravam na roça. 
Meus pais, em 32 - eu nasci em 32, mas com três meses meu pai me trouxe pra Guararema - compraram uma propriedade em Guararema, meus avós e meus pais. 
Nós ficamos em Guararema até 43, 44, mais ou menos. 
Aí depois viemos pra São José dos Campos. 
Eles trabalhavam na roça, e as terras daqui, pra lavoura, são péssimas. Então, eles foram se cansando, cansando. Acabaram vendendo e se mudaram pra cidade. Na cidade, meu pai tinha banca no mercado. 
Vendia cereais, verduras. Banquinha pequena. Mercadão. Mercadão Central. Meu pai tinha umas três ou quatro bancas nesse Mercadão.
in Museu da Pessoa.

GUILHERMINA MARIA ROCCO VILELA LEITE



Sou Guilhermina Maria Rocco Vilela Leite. Mas se alguém me chamar de Guilhermina, ninguém sabe quem é na minha cidade. É Mariazinha Rocco. 
Se alguém falar que é Guilhermina Leite ninguém sabe quem é. É um apelido que me deram desde que eu nasci. Então fiquei conhecida na loja, por causa do comércio, por causa da escola, eu fiquei conhecida como Mariazinha. Então adotei o nome. Nasci em Guaratinguetá, em 19 de junho de 1930. 
Meus pais eram José Rocco e Georgina D’Alessandro Rocco. Meus avós eram Maria Loia Rocco, Tomás Rocco, que foi o fundador da loja. E os avós maternos: Ângelo Rafael D’Alessandro e Guilhermina Constanza D’Alessandro. 
Meu pai era do comércio e meu avô também. O meu avô materno também era comerciante. Está no sangue. Minha mãe era mais dona de casa e a avó também. 
A origem da família é italiana da parte dos dois lados, só a minha avó materna que era brasileira. Mas meu avô era italiano, o meu pai era italiano. 
Meu pai nasceu na Itália. Ele veio para cá com dezoito anos. Nasceu em 1888. O meu avô - eles vieram de uma aldeia muito pequenininha lá na Itália - , ele tinha dois filhos: tinha o meu pai e a minha tia. E ele veio tentar a vida na Argentina, no Novo Mundo, na América. Fazer a vida, fazer a América, que eles chamavam antigamente. Então ele veio, mas não gostou da Argentina, não se adaptou em Buenos Aires. E como tinha um padre em Guaratinguetá, aqui no Brasil,...

in Museu da Pessoa.

Sérgio Adelchi Bonádio Weiss e Família.


Sou Sérgio Adelchi Bonádio Weiss. 
Sérgio Adelchi é mais da parte de italiano. Minha mãe era italiana, Bonádio. 
E Weiss é de austríaco, de Viena - meu avô era austríaco. 
Nasci aqui em São José dos Campos, quando São José era uma coisa horrível - só tinha tuberculoso aqui - em 1928, no dia 7 de novembro, na atual avenida doutor João Guilhermino. 
Meu pai era Roberto Maximiano Weiss e minha mãe era Inês Maria Antonieta Bonádio Weiss. 
Do meu avô eu lembro. 
Por parte de pai era Leopoldo e ele foi contratado pelo governo brasileiro para ser chefe dos Correios e Telégrafos no Rio de Janeiro. 
O meu avô Leopoldo Weiss que imigrou para o Brasil. 
Da família de minha mãe, o meu avô, Eugênio Bonádio, italiano, veio para o Brasil mais ou menos em 1915. Acho que veio fugido da guerra. E ele trabalhou em uma cidade do interior aqui, que chamava Pedreira, trabalhou em Jundiaí e depois ele resolveu, juntou um dinheirinho - não era rico, não - e queria fazer uma fábrica de louça. 
Arranjou um sócio e ele pegou um trem. 
Naquela época, se viajava muito de trem. A Central do Brasil, maria-fumaça, aquelas coisas. E ia indo para Pindamonhangaba, onde estava combinado que a Cerâmica Bonádio, a Santo Eugênio, ia ser edificada. Mas quando passou aqui por São José, deu um problema no trem, e o maquinista, o chefe, disse: 
“Olha, seu Eugênio, nós vamos demorar umas duas horas, se o senhor quiser dar uma volta pra conhecer a cidade...”

in Museu da Pessoa.

DIRCE SALONI PIRES E FAMÍLIA

Meu nome é Dirce Saloni Pires. Nasci em São José dos Campos no dia 16 de novembro de 1924. 

FAMÍLIA
O nome do meu pai era Carlos Saloni e da minha mãe era Benedita Cursino Saloni. Meus avós, do lado do meu pai, italianos, eram Constantini Saloni e Maria Tereza Saloni, e da minha mãe eram Teodoro Cursino e Maria Gertrudes Cursino. Meu pai era farmacêutico por vocação, porque ele adorava a profissão dele. Foi um farmacêutico muito atuante aqui em São José dos Campos e adorava o que fazia. Era uma característica da vida dele. Minha mãe era aquela eterna companheira do meu pai: ela não só ajudava no lar como era oficial de farmácia, a pessoa da confiança do meu pai. Porque meu pai era farmacêutico e naquela ocasião farmacêutico formulava, e mamãe fazia as fórmulas dele. Mas os médicos, por exemplo, doutor Rezende - um médico, aqui, que perdeu as pernas e dava sempre as consultas numa cadeira de rodas - tinha tanta confiança em meu pai e papai estava tão acostumado com as receitas dele, que ele dava o receituário para o papai todo assinado; confiava muito nele e papai era quem dava aquelas fórmulas para crianças, aquelas mais conhecidas, em nome do doutor Rezende. Meu avô, esse italiano, era um eterno boêmio. Ele veio da Itália solteiro ainda e, por coincidência, ele e minha avó vieram no mesmo navio, mas não se conheciam. Depois, foram se conhecer em terra firme. E daí foram para Taubaté e fizeram a sua família. Meu...

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Meu nome é Dirce Saloni Pires. Nasci em São José dos Campos no dia 16 de novembro de 1924. 
O nome do meu pai era Carlos Saloni e da minha mãe era Benedita Cursino Saloni. 
Meus avós, do lado do meu pai, italianos, eram Constantini Saloni e Maria Tereza Saloni, e da minha mãe eram Teodoro Cursino e Maria Gertrudes Cursino. 
Meu pai era farmacêutico por vocação, porque ele adorava a profissão dele. 
Foi um farmacêutico muito atuante aqui em São José dos Campos e adorava o que fazia. 
Era uma característica da vida dele. 
Minha mãe era aquela eterna companheira do meu pai: ela não só ajudava no lar como era oficial de farmácia, a pessoa da confiança do meu pai. 
Porque meu pai era farmacêutico e naquela ocasião farmacêutico formulava, e mamãe fazia as fórmulas dele. 
Mas os médicos, por exemplo, doutor Rezende - um médico, aqui, que perdeu as pernas e dava sempre as consultas numa cadeira de rodas - tinha tanta confiança em meu pai e papai estava tão acostumado com as receitas dele, que ele dava o receituário para o papai todo assinado; confiava muito nele e papai era quem dava aquelas fórmulas para crianças, aquelas mais conhecidas, em nome do doutor Rezende. 
Meu avô, esse italiano, era um eterno boêmio. Ele veio da Itália solteiro ainda e, por coincidência, ele e minha avó vieram no mesmo navio, mas não se conheciam. Depois, foram se conhecer em terra firme. E daí foram para Taubaté e fizeram a sua família. 

In Museu da Pessoa.

INTERIOR DE SÃO PAULO

Comércios de antigamente 











quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

SÃO MIGUEL ARCANJO SE FAZ PRESENTE NO IHGGI.




Grupo formado por pessoas interessadas nas pesquisas históricas de Itapetininga e Região, desde seus fundadores e descendentes. 
Personagens famosos em toda a região.
Geografia dos municípios da região.
Gente que faz.
Gente que fez.
Causos e Lendas.
Grupo seleto de pessoas que integram o Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga.
Sentadas: a partir da esquerda, Luiza Válio, que ocupa a cadeira do Major Luiz Válio; logo após, Maria Perpétua Nogueira, ocupante da cadeira do Tenente Urias Emygdio Nogueira de Barros, ambas de São Miguel Arcanjo.
Este ano, o IHGGI completa 7 anos.

A DENÚNCIA DE DIONYSIO BORGES, DE LORENA.



Ofício nº 281, de 16 de setembro de 1901 
Pede arquivamento do inquérito disciplinar contra diretor (de Lorena) que teria cometido violência contra alunos.
Cópia integral da carta denúncia de Dionysio Borges e do relatório final, pelo inspetor escolar Justiniano Vianna.

Carta denúncia, de Dionysio Borges:
Exmo. Sr. Ministro do Interior:

Venho com o maior pesar trazer ao vosso conhecimento uma justa reclamação contra o atual diretor do Grupo Escolar d´esta cidade, que por ignorância ou desrespeito às leis tem exorbitado das suas atribuições, infligindo aos alunos certos e determinados castigos não previstos pelo Regulamento, conforme podereis verificar pela exposição que vou fazer.
Tendo eu um filho de 7 anos de idade naquela casa de ensino há cerca de dois meses mais ou menos fui obrigado a retira-lo em vista da natureza dos castigos que foram introduzidos ultimamente no referido Grupo, digno outrora, de melhor acatamento quando estava confiado a um moço sério e criterioso.
Imaginai que o tal senhor diretor, no dia 21 do corrente, supondo-se talvez num quartel de soldados, entendeu que o meu filho e mais outra criança da mesma idade deveriam ter como pensa disciplinar ficarem com uma carga de armas sobre os ombros, porém, na Praça Pública, isto é, em frente ao edifício em que funciona o Grupo. Essas pobres crianças como era de esperar, receberam uma tremenda vaia dos meninos e garotos que na ocasião passaram por aquele local.
Isto é um fato vergonhoso e reprovado pelos educadores criteriosos mas, infelizmente, é verdadeiro! Mas não ficou só nisto, o Snr. diretor depois de ter levado a efeito um castigo puramente aviltante ainda conservou os dois meninos no corredor do Grupo até as 4 horas da tarde, entregues aos empregados que faziam a limpeza do prédio.
Ao passo que [?] os demais professores retiravam-se para suas casas, aquelas crianças ali ficaram privadas de receber qualquer espécie de alimento.
Dizem também que o mesmo diretor já tem tido ocasião de agredir fisicamente alguns alunos cujos pais não quiseram protestar temendo, talvez, maiores arbitrariedades por parte d´esse funcionário que vai dando mau exemplo aos professores.
Acredito, porém, que tudo isso está sendo feito contras as vossas ordens porque sei perfeitamente que em casos semelhantes tendes tomado as mais enérgicas e acertadas providências contras esses abusos.
Muitos pais de família estão apreensivos com este estado de coisas, visto não encontrarem no Grupo Escolar a devida garantia para os seus filhos que estão entregues aos cuidados de um indivíduo nervoso e que não possui os requisitos precisos para o bom desempenho do cargo que lhe foi confiado. Esse diretor, em três meses apensa de exercício tem criado em redor do seu nome uma atmosfera de antipatia e de sérios ressentimentos, em vista da atitude odiosa que assumiu procurando desprestigiar os mais estimados professores d´aquele estabelecimento de ensino, os quais não aprovam suas leviandades.
Além d´estes, os Sr. diretor tem cometido outros abusos que deixarei de levar ao vosso conhecimento para não tomar muito espaço.
É possível que esse funcionário não tenha a coragem precisa para confessar a veracidade desta minha reclamação; entretanto existem testemunhas que poderão corroborar tudo quanto ficou exposto.
Certo de que a presente queixa será tomada em consideração, desde já apresento-vos os meus agradecimentos.
Saúde e fraternidade.


Exmo. Snr. Dr. Ministro do Interior
29 de agosto de 1901
Dionysio Borges

Relatório final, pelo inspetor escolar Justiniano Vianna:
São Paulo, 16 de setembro de 1901.

Designado para ir à cidade de Lorena, afim de conhecer da procedência ou improcedência da denúncia escrita apresentada pelo cidadão Dionysio Borges, contra o diretor do grupo escolar “Gabriel Prestes”, cidadão Sócrates Fernandes de Oliveira, tenho a informar-vos que após ter ouvido em forma de inquérito todas as testemunhas apresentadas pelo queixoso e de colher dados que aclarassem a denúncia com pessoas gratas desta localidade, julgo improcedente a denúncia e sou de parecer que seja a mesma arquivada.
Das testemunhas apresentadas pelo queixoso três declaram unicamente ter visto a filho de Dionysio Borges de castigo a porta do grupo com uma pequena carabina de madeira leve ao ombro. Essas testemunhas são entretanto suspeitas visto uma ser amiga do queixoso e as outras empregadas do jornal “O Município” que se tem mostrado [?] não só ao diretor do grupo como contra o mesmo grupo, devido ao fato de ter sido o seu proprietário e redator há tempos dispensado do cargo de professor substituto do grupo. Contra o depoimento destas testemunhas existem outras de vizinhos do grupo, que declaram nada ter visto. Entendendo que para a elucidação da denúncia se tomasse (sic) muitos esclarecimentos de pessoas qualificadas da localidade, dirigi quesitos aos cidadãos Cel Pádua Júnior, Intendente Municipal, Dr. Pedro de Araújo, Inspetor Municipal, Cap. Francisco Ruivo, Delegado de Polícia, Cap. Leopoldo Camargo, Coletores do Estado, Dr. Flygério de Oliveira e Antonio de Godoy Júnior, Escrivão da Primeira Vara, digo, ofício, que em resposta [?] ao fato denunciado foram ainda ao diretor do grupo as melhores referências. Todos os documentos [?] vão inclusos a esta. Lastimando que em nosso adiantado Estado existam indivíduos que como o cidadão Dioysio Borges se portam tão impatrioticamente tentando denegrir por meio de denúncias exageradas a mais útil instituição daquela terra – o grupo escolar, felicito-me ao mesmo tempo por ver que o Exmo. Governo do Estado sabe manter a autoridade de seus auxiliares dando-lhes a força e o prestígio de que carecem contra esses insólitos ataques.
Arquivando-se a presente denúncia ficará patente que o Exmo. Governo procura por a salvo de intrigas e perseguição os funcionários que no cumprimento de seus deveres estão ao lado da lei e não fazem concessão de espécie alguma a quem quer que seja.
Saúde e fraternidade.
Ao ilustre cidadão Major
Francisco Pedro do Canto
DD. Inspetor Geral Interino
Justiniano Vianna
Inspetor escolar

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

RELATÓRIO ESCOLAR DA REGIÃO: CEM ANOS ATRÁS.

INSPEÇÃO NO SUL DO ESTADO


"Durante o mês de setembro percorri os vastos municípios do Sul do Estado - Faxina, Itararé, Lavrinhas e Capão Bonito do Paranapanema, tendo deixado de ir a Ribeirão Branco, município compreendido naquela zona, por não haver lá escola provida na ocasião.
Em inspeção demorada, visitei o Grupo Escolar da Faxina, proficientemente dirigido pelo professor Mariano de Oliveira e constituído de um pessoal docente idôneo e esforçado.
Este estabelecimento, durante as minhas visitas, funcionava bem quanto à boa distribuição do ensino, mas ressentia-se de falta de alguns melhoramentos materiais, que foram apontados no meu relatório de 3 de outubro, melhoramentos que constituíam necessidades cuja satisfação se me afigurou imprescindível para que esse instituto se aproximasse tanto quanto possível da organização dos institutos - modelo de ensino preliminar.
Quanto à marcha geral do ensino nas localidades do sul do Estado acima indicadas, darei em seguida uma ideia do estado lamentável em que se acha a instrução em toda aquela zona, reproduzindo algumas informações já presentes no meu citado relatório de 3 de outubro. 
Com relação às escolas de ensino público preliminar compreendidas na zona desta inspeção, das 61 cadeiras existentes só se acham providas 7 por professores estaduais e 6 por professores municipais, além de 1 curso noturno para adultos.
Entretanto, toda aquela extensa faixa do território paulista, situado entre a cordilheira marítima e a bacia do Paranapanema, com uma superfície de mais de 300 léguas quadradas, abrangendo os municípios de Capão Bonito do Paranapanema, Ribeirão Branco, Faxina, Itararé e Lavrinhas, é aliás ocupada por sofrível número de habitantes já aglomerados nesses distantes núcleos de população, já largamente disseminados pelos campos.
A única povoação daquela zona dotada dos meios regulares de instrução e educação popular é a cidade da Faxina.
É necessário que o poder competente lance sobre as outras as suas vistas, especialmente para os municípios de Capão Bonito e Itararé, aquele, importante por sua população  e comércio, sua produção zootécnica, sua riqueza mineral e seus elementos materiais; e este, por conter a última povoação do Estado de São Paulo na divisa com o do Paraná - ponto estratégico que promete, talvez em breve, uma praça importante, um centro de atividades, lavoura e comércio, digno da nossa melhor atenção, na frase de um distinto cavalheiro e proprietário do município.
Em todo o município de Itararé funciona apenas uma escola - a 1a. do sexo masculino - quando só a população urbana da cidade comportaria perfeitamente as 4 escolas criadas, de ambos os sexos, funcionando com matrícula elevada e boa frequência.
Pena é que os professores diplomados só procuram estabelecer-se nos melhores pontos servidos por estradas de ferro - quando não na Capital, pelo menos em pontos de fácil comunicação com esta ou com as mais importantes cidades do interior.
Em Capão Bonito do Paranapanema, município seis vezes mais populoso que o do Itararé, dá-se exatamente a mesma coisa, pois que só existem ali 6 escolas providas, sendo 4 na cidade e duas municipais em bairros.
As próprias escolas da cidade, apesar de funcionarem melhor que a do Itararé, não preenchem em nada as necessidades inadiáveis do ensino público naquela localidade, onde existe considerável população escolar, em sua maior parte privada dos benefícios da instrução.
A cidade de Capão Bonito, bem preenchidas as 6 escolas criadas  para os dois sexos, oferecerá seguro elemento para  a criação de um grupo escolar, medida esta de caráter imprescindível, para a qual solicito a valiosa atenção do patriótico governo do Estado.
No município de Lavrinhas funcionam regularmente duas escolas estaduais, além de um curso noturno para adultos. Por sua vez, a municipalidade mantém, com auxílio do Estado, uma escola feminina na vila e uma do sexo masculino em bairro.
Com relação às escolas municipais da zona percorrida, consignei ainda no mencionado relatório que nenhuma instalação havia com feição de escola propriamente dita, sendo os seus professores, salvo uma ou outra exceção, incapazes de educar e ministrar o ensino.
A Câmara da Faxina mantém duas escolas do sexo masculino em bairros, pagando a cada professor unicamente a importância do auxílio fornecido pelo Estado.
A Câmara de Capão Bonito do Paranapanema mantém igualmente duas escolas masculinas em distritos rurais, fixando a cada professor o ordenado mensal de 80 mil reis, inclusive o auxílio do Estado.
A Câmara de Lavrinhas também mantém duas escolas, uma de cada sexo, remunerando cada professor com 100 mil reis mensalmente, englobada nessa soma a dotação por parte do Estado.
Como se vê, estas Câmaras empregam todo o auxílio que recebem do Estado exclusivamente no pagamento do ordenado que arbitram aos professores municipais.
Resulta dessas observações, combinadas com os dados do número 3 dos anexos que, naquela zona cuja população é apenas calculada em 40 mil habitantes, cada escola do Estado provida, inclusive as oito classes do Grupo Escolar da Faxina, corresponde a 2.857 habitantes, ou seja, uma escola para cada grupo de 428 crianças de 7 a 12 anos, tomando-se para base da população escolar 15% da população absoluta.
Por outro lado se verifica que a grande extensão dos municípios, em toda a zona, não permite a reunião das escolas, pela falta de densidade de população, que só é apreciável nos municípios de Capão Bonito, que conta 13.830, e Faxina, que conta 13.470 habitantes.
Cada légua quadrada é ocupada por 133,3 habitantes, aproximadamente, nos cinco municípios da região descrita.
Sem dúvida, é esta zona uma das mais futurosas do Estado, já pela amenidade de seu clima e suas excelentes condições topográficas, já pela riqueza do seu solo, que além dos minerais que contém, é fertilíssimo, quer nos seus campos, quer nas suas matas, prestando-se admiravelmente a qualquer espécie de produção zootécnica e a muitos gêneros de cultura agrícola.
É de lastimar-se que a maior parte dessa região, cujos habitantes são na quase totalidade genuinamente paulistas, não tenha sido até hoje atingida pelos progressos da instrução e educação dos filhos do Estado, que ainda estão a exigir ali o indispensável cultivo e aproveitamento de suas forças morais e intelectuais, e da ignorância em que vegetam".

a). Coronel Pelópidas de Toledo Ramos, Inspetor Escolar". 

O aludido inspetor foi nomeado pelo ofício 251, de 14 de agosto de 1.901 para preencher a vaga deixada por João von Artzingen, que assumiu o cargo de professor no Ginásio de Campinas.
Este relatório foi apresentado ao Secretário do Interior exatamente  cem anos atrás.

- Fonte: "O Democrata", de 23 de fevereiro de 1.902.
Acervo de Luiza Válio.

UMA NOTA SOBRE FAXINA.


Estação de Faxina, hoje ITAPEVA, em 1912. Foto da Comissão dos Prolongamentos e Desenvolvimentos da Estrada de Ferro Sorocabana.

SEÇÃO LIVRE
FAXINA

Pergunta-se à pessoa que andou com um assinado para uma banda de música nova, que fim deu ao dinheiro recebido, pois não consta a vinda de instrumental algum, sendo as notas recebidas, e que não foram de...música, para esse fim e não para...convenções.

a) Um prejudicado

Jornal "O Democrata", de 26.01.1.902. 

EXAMES ESCOLARES NA VILA DO PILAR.




- antigo prédio da Delegacia de Pilar do Sul - do facebook.

"A 21 de Dezembro procedeu-se nesta Vila os exames das escolas públicas, sendo a comissão examinadora composta dos cidadãos: José Baptista, presidente da Câmara, João de Almeida e Francisco Moreira Lopes.
Ao penetrar a comissão no recinto escolar, os alunos entoaram o cântico "A Civilização de um Povo"; findo este, foi procedida a chamada dos referidos pelo professor José Antonio Jacobina.
Divididas as turmas por classes, foram dadas as sabatinas que versou em: Leitura de jornais, cartas, recibos, história do Brasil e biografia; Cálculos: as 4 operações inclusive juros e proporções- frações e as 4 operações decimais; Noções de coisas, classificação dos corpos animados e inanimados - seres reais da natureza; Educação cívica, noções dos seres físicos, astronômicos, etc; Geografia geral compreendendo desenho do globo, descrição das 5 artes do mundo, mares, rios, montanhas e principais cidades do Universo - Geografia do Estado: rios principais de São Paulo e do Brasil, cidades, vilas, comarcas e municípios; Gramática: desenho linear, terminando por uma grande sabatina de noções práticas da história do Brasil.
Concluídos os trabalhos, a comissão julgou dar distinção aos alunos: Juvenal Marques, Pedro de Godoy e Joaquim Faria, que passaram para as matérias do 4o. ano - Plenamente: Plínio do Carmo, Antonio Euzébio, Benedito Lourenço, Saturnino Mendes, Gabriel Vieira, Francisco Proença e Antonio Roza - Aprovados: José Caetano, Benedito de Almeida, Francisco Cavalheiro, Olegário Batista, Salvador Marques, Avelino Cunha, Francisco de Paula e mais 12 que continuarão nas séries do 2o. e 3o. ano.
Na escola regida por D. Bibiana Carolina de Godoy foram aprovadas 17 alunas". 

Transcrito do jornal "O Democrata", de Capão Bonito do Paranapanema, 12 de dezembro de 1.902. Nota enviada pelo correspondente em 28.12.1901.

TELEGRAMA DE AMPARO:


"Realizou-se hoje a eleição do Diretório Republicano desta cidade, tendo sido o pleito concorridíssimo. É extraordinária a animação, achando-se a cidade em festas. Segundo a apuração, obtiveram: Coronel Luiz Leite 412 votos; João Ferraz 287 votos e Pedro Penteado 278 votos".

Transcrito do jornal "Correio" do dia 6 de janeiro de 1.902 pelo "O Democrata", de Capão Bonito do Paranapanema de 12 de janeiro de 1.902.



domingo, 3 de fevereiro de 2013

CAMPINA DO MONTE ALEGRE

Campina do Monte Alegre está localizada a aproximadamente 230 km de São Paulo e a 100 km de Tatuí. 
Conta-se que certa vez, no ano de 1.870, um menino de apenas 5 anos que morava às margens dos Rios Itapetininga e Paranapanema encontrou a imagem de São Roque dentro de um cupinzeiro e r
esolveu levar a imagem para casa.
Quando souberam da história do menino, duas famílias resolveram construir uma capela no local onde havia o cupinzeiro, à qual foi dado o nome de
 Capela de São Roque e os arredores dela foram sendo denominados de 
“Terras de São Roque”.
Mais tarde, chamada "Campina das Aranhas", devido à família Aranha reivindicar a propriedade das terras. E, c
omo o Rio Itapetininga deságua no rio Paranapanema ao pé do Monte, um marco que podia ser visto de todo o povoado, esse fato acabou por renomear a denominação da cidade para Campina do Monte Alegre.
Emancipada em 1.991, possui uma 
Fazenda, a Cruzeiro do Sul, que foi uma colônia nazista nos anos 30; nela, cerca de 50 meninos órfãos negros eram escravizados, tão logo Hitler tomava o poder. 
Na região foram descobertas várias construções feitas com tijolos trazendo a suástica nazista. 
Até o mês de março de 1.998, a cidade era o único município do país que não possuía servidores públicos.
Os primeiros 70 cargos foram criados e preenchidos no mês de abril de 1.998, tendo mais 25 comissionados, por resolução do então prefeito José Benedito Ferreira.

JACAREÍ E A URNA FUNERÁRIA.




Foto da Rua Alfredo Schurig em Jacareí-SP.
A foto acima é de 1920, em destaque o "torpedo" de um Ford TT. Observe-se o escrito na parede do armazém: Depositário da gazolina "Motano" - standard oil of Brazil. 
Antes das bombas de gasolina, o combustível era vendido em latão nos armazéns! 
- do blog "Antigos Verde Amarelo".

Em abril de 1.998, conforme noticiou o Estadão, edição de 28 de abril de 1.998, em Jacareí foi encontrada uma urna funerária indígena de aproximadamente mil anos.
Era um pote cerâmico da tradição tupi-guarani, de cerca de 1 metro de altura que estava enterrado a uma profundidade de 1,2 metro.
Dentro do pote só havia cinzas.
A tribo que ocupou a região tinha 18 cabanas e vivia numa área de 400 mil metros quadrados.
A cidade possui o maior sítio pré-histórico de origem indígena da região.


O MUNICÍPIO DE BURI CONHECEU INTERVENÇÃO FEDERAL.


Ao tempo do presidente Ernesto Geisel, no ano de 1.976, foi decretada a intervenção federal no município de Buri, que afastou o então prefeito João Emílio Domingues de Oliveira, da ARENA local.
A intervenção resultou da interferência do governador Paulo Egydio Martins, levado a isso em face dos graves desmandos administrativos naquela prefeitura.
Para o cargo de Interventor foi nomeado Evanir Lopes Castilho, promotor substituto em Sorocaba.
Com, apenas 4.300 habitantes, Buri era, na época, um dos municípios do interior com graves problemas de corrupção.
A intervenção durou 50 dias, até que o novo prefeito eleito em 1.972 tomou posse.
João Emílio Domingues de Oliveira faleceu em janeiro de 2.011, aos 87 anos de idade.
Prefeito de Buri por quatro vezes, sofreu derrota em 2.008, quando se candidatou pelo PRB.
João Emílio foi "pracinha" da Força Expedicionária Brasileira e participou da Segunda Guerra Mundial.

EVA LEITE MACHADO

O município de Alambari dista cerca de vinte e três quilômetros de Itapetininga.
Num exemplar do jornal O Estado de São Paulo de 1.970, há uma reportagem bastante peculiar.
Consta que na década de 60, ainda Distrito, havia na cidade uma senhorinha de estatura média, mais clara que morena a qual no dia dedicado aos mortos vestia-se de noiva, com um véu bordado na cabeça e passava o dia rezando à beira dos túmulos da mãe, do noivo (Domingo Candera, com quem não pretendia casar-se jamais, falecido em 1.960) e de todos os mortos enterrados no cemitério da localidade.
Aos seis anos de idade, provavelmente 1.926/1.927, ela jurara para a mãe que permaneceria a vida toda em castidade e que na época de Finados cumpriria o ritual de visitar todos os mortos sepultados em Alambari. 
Tida como débil mental, Eva mantinha na capela o seu vestido de noiva, o sapato branco, o véu bordado com seu nome e o do seu noivo, as imagens de Bom Jesus de Pirapora e de Nossa Senhora Aparecida, e as bandeiras - pasmem! - do Brasil e de São Paulo. 
Esse amor pelas bandeiras ela mantinha desde quando estudava em Angatuba.
Sempre quis carregar essas bandeiras nas festas e desfiles, mas a sua professora nunca deixou.
Conta-se que no final dos anos 60 ela compareceu à procissão de Bom Jesus, em Iguape, vestindo-se com as quatro cores das bandeira nacional.
Quando o "Estadão" fez uma reportagem sobre ela, Eva residia numa casa de pau à pique e viajava anualmente para Aparecida do Norte, Iguape e Pirapora do Bom Jesus para assistir às solenidades religiosas.
Os mais velhos se lembravam que Eva Leite Machado também viajava a São Miguel Arcanjo por ocasião das festas ao Arcanjo São Miguel e ao Divino Espírito Santo, nos seus últimos anos de vida.

O MORADOR DO TUBO DE ALAMBARI.



No ano de 1.967, o DER abandonou um tubo de cimento de 2,3 metros de comprimento por 80 centímetros de diâmetro, bem à margem da estrada do então distrito de Alambari, em Itapetininga.
Foi esse tubo que um dia, devido a uma grande tempestade ocorrida na região por onde passava, um andarilho de nome Waldemar Alves, decidiu fazer de sua casa.
No ano de 1.971, ganhou até fama quando o correspondente do "Estadão" resolveu fazer uma reportagem com ele.
Nessa época, Waldemar contava com 42 anos de idade.
Filho de Leopoldino Alves e Gersonia Maria da Silva, ambos residentes em Santos, ele nasceu no sertão de Porto Real, Minas Gerais.
Tornou-se estimado pela população e até prestava serviços aqui e ali em troca de algum dinheiro para comprar comida, café e cigarro.
Dizia que estava ligado a altas patentes da Marinha do Brasil e por isso as pessoas o tinham como um pouco desequilibrado.
Mas nunca perturbou ninguém.
Sofria de falta de ar e opressão no peito e devido a essas deficiências, segundo ele, acabou sendo dispensado da lide de pintor no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.
Trazia sempre consigo um exemplar do "Estadão" que noticiava a posse de Juscelino Kubitschek.
Por onde andará Waldemar hoje?


TERMO DE VISITA DIOCESANA NA VILA DO PILAR.

"No dia 26 de setembro de mil novecentos e um, vindo de Sarapuí, aqui chegamos ás três horas da tarde, sendo nós recebidos pelo senhor Vigário e banda de música na chácara do senhor Antonio Vieira e de lá viemos à pé até à casa do senhor Capitão Joaquim Marques de Quevedo, onde fomos hospedados.
São as pessoas da comitiva eu, Visitador abaixo assinado, Frei Gregório Capuchinho como auxiliar, Honório José de Proença como Secretário e Alferes Bento Vieira da Cruz como auxiliar. Aqui veio e muito ajudou nas confissões o Padre Antonio Puretta, pró pároco da Piedade.
Durante os dias de nossa estada nessa vila, receberam a Sagrada Comunhão duzentas pessoas mais ou menos, foram crismados duas mil e oitocentas pessoas. 
A Igreja Matriz está sendo toda feita de novo, maior que a antiga, e será uma bela Matriz; se o bom povo coadjuvar a comissão encarregada, o que é de se esperar, porque embora seja o povo geralmente pobre, deve, segundo suas forças, repartir o que Deus lhe deu, porque, tudo vem de Deus e Ele não deixa de recompensar as esmolas que se faz a qualquer pessoa pobre, quanto mais o que se faz para sua Igreja. 
Tendo nós de partirmos amanhã para Sarapuí e Itapetininga, para visitarmos Guareí, hoje encerramos a visita com prática e benção do Santíssimo Sacramento, tendo concedido em nome do Bispo quarenta dias de indulgência às pessoas presentes.
Muito agradecemos ao senhor Vigário Padre Dionysio Perini a condução que nos deu para ida e volta e o modo bondoso com que nos tratou e os serviços que prestou durante a visita. 
Muito e muito agradecemos ao digno cavalheiro Capitão Joaquim Marques de Quevedo  a hospedagem que nos deu em sua casa e a sua respeitável família os carinhos que nos dispensou. Deus recompensará a todos e nós estamos eternamente gratos.
Não nos sendo possível despedirmos pessoalmente das pessoas que nos honraram com suas visitas, fizemos aqui, esperando desculpa desta falta involuntária e nos confessamos gratos a este bom povo a quem desejamos todas as felicidades.
Este termo será lido pelo Vigário à estação da Mesa Conventual em um dia festivo.
Dado em visita nesta Vila do Pilar aos trinta de Setembro de 1.901.
O Cônego José Rodrigues de Oliveira,
Visitador Diocesano".

Está conforme ao original. In fids parochi.
Pilar, 6 Novembro 1.901.
O Padre Dionysio Perini, Vigário.

Transcrito de "O DEMOCRATA", de Capão Bonito de Paranapanema, de 05.01.1901.


Pilar antiga.