domingo, 15 de setembro de 2019

IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DOS HOMENS PRETOS.

Foto do perfil de Alba Regina Luisi, A imagem pode conter: 1 pessoa, close-upALBA REGINA F. C. LUISI - Professora de História 

Inter-NET JORNAL - 15 de setembro de 2019 - Número 15 Pag. 7 


IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DOS HOMENS PRETOS. 
UMA CRÔNICA HISTÓRICA. 

Quando, em 5 de novembro de 1770, o povoado de Nossa Senhora dos Prazeres de Itapetininga foi elevado à categoria de Vila, existia ao final da Rua da Imperatriz (hoje Rua Venâncio Aires), o cemitério público, onde hoje está localizado o Largo do Rosário. 
Por volta de 1840 iniciou-se nesse local, a construção de uma capela, na técnica da taipa de pilão, que recebeu o nome de Capela de Santa Cruz, servindo mais tarde como a parte posterior da Igreja Nossa Senhora do Rosário, sendo complementada com um novo corpo para a área do altar e local de oração, usando a mesma técnica de construção. 
Uma telha encontrada durante a reforma de 1934 com os dizeres “enformada em 1840“ esclarece essa questão. 
A igreja foi construída no estilo colonial e inaugurada em 15 de agosto de 1873 (alguns historiadores consideram os dias 23 ou 24). Contudo, sucessivas reformas provocaram a sua descaracterização, mas mesmo assim não lhe afastaram a importância de ser a construção religiosa mais antiga da cidade que ainda está em pé. 
Foi construída com donativos da população e com mão de obra dos escravos que dedicaram o pouco tempo de seu descanso para a construção de um templo onde pudessem fazer suas orações e súplicas, longe dos olhares inquisidores dos brancos, que não gostavam de dividir o mesmo espaço com escravos. Daí o nome Igreja do Rosário dos Homens Pretos. 
À frente da obra, estava Antonio Florêncio de Azevedo, o Mestre Florêncio, o mesmo responsável pela construção do teatro São João, hoje Loja Maçônica Firmeza. 
Após a decretação da abolição da escravatura, a igreja continuou sendo ponto de orações e comemorações religiosas dos homens de cor, principalmente a festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário, que era realizada no dia 24 de agosto. 
No largo do Rosário eram realizadas quermesses e as tradicionais Congadas e Moçambiques, com seus cantos e danças. 
A cidade de Itapetininga tem hoje três edifícios históricos construídos com a técnica de taipa de pilão: 1 - O edifício, datado de 1854, o primeiro prédio público, onde funciona hoje o Centro Cultural e Histórico de Itapetininga, com o pavimento térreo em taipa de pilão e que passou recentemente por processo de recuperação estrutural. Segundo publicação de Helio Rubens de Arruda e Miranda, no Jornal Cultural ROL: ”Começou, nesta terça-feira, 10, a revitalização do prédio que abriga o Centro Cultural Histórico Brasílio Ayres de Aguirre. A obra está orçada em aproximadamente 380 mil reais de recursos próprios e vai recuperar toda a parte hidráulica e elétrica. Na parte externa será contemplada a restauração total da fachada. Vale lembrar que a restauração estrutural interna já foi realizada na primeira fase da obra. A segunda fase será entregue em até seis meses.” 
2 - O edifício onde hoje funciona a Loja Maçônica Firmeza, antigo Teatro São João, datado de 1872, construído na técnica de taipa de pilão, sendo responsável pela construção Antonio Florêncio de Azevedo, o Mestre Florêncio. Esse edifício passou recentemente por uma grande reforma, que incluiu reforço estrutural por estar, assim como as outras construções com técnica de taipa de pilão aqui mencionadas, em área de grande fluxo de veículos e conseqüente trepidação do solo, abalando dessa forma a estrutura dessas edificações. 
3 - A Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos é a mais recente das três edificações, mas nem por isso isenta dos mesmos problemas estruturais pelos quais passaram as obras anteriormente citadas. Segundo notícia publicada e m g 1. g l o b o .c o m /s p /ita p eti n i n g aregiao/noticia/2019/08/25/igreja-de-itapetininga-construida-no-seculo-19- apresenta-problemas-estruturais-aponta-laudo-ghtml: 
“Em 2018, a igreja pediu um laudo técnico da estrutura do prédio e uma avaliação de sondagem feita pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São Paulo (USP) apontou que o imóvel tem caráter colapsível. A última reforma foi feita em março deste ano onde foram trocadas algumas vigas e o forro. O piso que estava estufado por conta da umidade foi removido e apesar dos esforços para manter a estrutura, o laudo aponta que os problemas serão recorrentes se o trânsito não for interrompido na região. O laudo foi encaminhado à prefeitura e a resposta chegou este mês na igreja. Por enquanto, o poder público descartou o bloqueio do trânsito nas ruas e disse que vai fazer novos estudos. Em nota, a Prefeitura de Itapetininga disse que a Defesa Civil do município realizou uma vistoria no prédio e um relatório sobre a situação do local foi feito. Informou que está agendada para quarta-feira (21) uma reunião com o bispo Dom Gorgônio para apresentar o resultado do laudo e, posteriormente à reunião, serão definidas as providências a serem tomadas.” No momento, para que as obras de restauração estrutural sejam eficazes e a igreja permaneça em pé, precisa-se que a Prefeitura, numa atitude esperada por todos os nascidos, moradores e simpatizantes de Itapetininga, desvie o trânsito defronte a Igreja.....simples assim. A esperança é que prevaleça o bom senso, a justiça e o respeito à religiosidade, à fé, à arte, e a manutenção do patrimônio histórico. «Um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, o mesmos erros do passado«- Emília Viotti da Costa - historiadora e professora brasileira. 

(Alba Regina Franco Carron Luisi, itapetiningana, professora de História e de Estudos Sociais, pesquisadora, membro do IHGGI, participante da diretoria do Centro Cultural Brasil Estados Unidos.

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