quinta-feira, 29 de novembro de 2012

AO AGENOR FONSECA:

Que sons são estes?
São as lúgubres badaladas do gemebundo sino do meu coração; são os queixosos dobres desse instrumento sonoroso de meu peito tangido pelas delicadas cordas da sensibilidade.
E esse coral lacrimoso, esse psaltério triste desfeito em deplorações é dedicado a algum ente que alcançou o êxodo final  da idealizada terra prometida.
É o réquiem nostálgico e doloroso da saudade ao meu amor que já se foi, a esse jovial camarada  de dias felizes e que mergulhou-se no nada do olvido, na noite perenal do esquecimento.
Descobri-vos, entes que sentis, a passagem do féretro que não leva uma alma apodrecida na lama abjeta da ingratidão, e, sim, o sorriso agonizante de uma fugitiva era de doçuras.
Descobri-vos, mas não deis ouvidos, aos dobres magoados do sino do meu coração, porque as cordas da sensibilidade movem-se impulsionadas ao contato dos sentimentos no sabor das variadas impressões e, quem sabe se, em breve tempo, esse instrumento badalejador não alegrará a minha alma ferida com os repiques alegres e festivos anunciantes da ressurreição do amor finado ou da assunção de um amor porvindo...
Ajoelhai-vos, entes que sentis, à passagem desse caixãozinho azul, como o céu sem manchas tão bem conformado, tão bem adornado, mas não me pergunteis por que desfolho sobre ele as rochas flores do pesar, porque carpo o seu exílio de meu peito; não me pergunteis, não, porque, quem sabe se em breve eu desfolharei as flores do lirismo suave de minha alma encantada aos pés deste ídolo ressurgido ou de um outro mais idolatrável exaltado para fazer a alegria de meu ser amante...

Autor: Plácido Gama.  
Transcrito do extinto jornal "O Democrata", de Capão Bonito de Paranapanema, edição de 05.12.1.901.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário