segunda-feira, 16 de maio de 2016

UBATUBA: RUÍNAS DA LAGOINHA








AS RUÍNAS DA LAGOINHA

As ruínas do antigo engenho da Fazenda Bom Retiro da Lagoinha foram tombadas pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico do Estado de São Paulo), através do processo 554/75, resolução 69, em 16 de dezembro de 1985, para sua proteção e valorização enquanto patrimônio histórico de suma importância para o município. 
Foi classificado como engenho devido ao grande aqueduto existente e ao que restou das instalações de um roda d'água. 
O terreno onde se encontram as ruínas foi doado pelo senhor Jamil Zantut e sua esposa, Benedicta Corrêazantut, à Fundart (Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba), através de escritura pública (livro 1913, folhas 60, em 19 de outubro de 1989).
Se Deus fez belo o luar lá do sertão, Sobretudo em Ubatuba ele pôs a sua mão As lindas praias, verdes matas e luares Gente atrai de mui lugares, é orgulho da Nação A Lagoinha do Paraíso se avizinha Como a Pero Vaz Caminha, apaixonada o coração Em suas ruínas minha alma se aninha Como linda andorinha que vem cá entrar canção... - estrofes cantadas na música "Luar do Sertão" em comemoração local.
No início do século XIX, o engenheiro francês João Agostinho Stevenné ou Steveninc, proprietário também da Maranduba e Sapé, criou na Lagoinha um engenho de açúcar: uma grande Fazenda modelo, escola para o ensino de novas técnicas para a fabricação de açúcar e introdução e propagação de carneiros merinós para a produção de carvão animal, através de abertura de processo de subscrição pública de ações (venda de ações). 
A fazenda entrou em decadência por volta de 1850 com a evolução das técnicas agrícolas. 
As datas de compra da propriedade Porsteenné, anterior à da abertura de ações e de venda do engenho da Lagoinha, são desconhecidas e objeto de estudo pelo Departamento de Patrimônio, Biblioteca e Arquivo da Fundart.
Segundo relatos orais e recentes pesquisas, outro importante proprietário foi o Capitão Romualdo, já no final do século. Possuidor de vasta cultura de café e cana-de-açúcar, fabricante e exportador de aguardente e açúcar mascavo, seus escravos teriam ganho a liberdade com a abolição da escravatura, mas, sem terem para onde ir e por gratidão e amizade, permaneceram até o falecimento do fazendeiro. 
O Capitão Romualdo ainda teria iniciado a construção da primeira fábrica de vidros no Brasil, para embalar a aguardente para exportação, fato não comprovado, nem mesmo pela existência de três colunas de sustentação.
À entrada do Condomínio Lagoinha, do lado da praia, foram encontrados registros de batizados de escravos de Romualdo Antônio de Oliveira, na Lagoinha, de 1836 a 1883, juntamente com membros da família Oliveira e família Prado. 
Os descendentes dos Prados da Lagoinha, Catarina Oliveira do Prado, Manoel Hilário Filho e Washington de Oliveira (seu Filhinho), declararam que o patriarca, Hilário Vicente do Prado, teria sido vizinho e compadre do capitão e de sua esposa Mariana.

SOBRE A FÁBRICA DE VIDRO NA LAGOINHA....

As referências que faz à "Fábrica de Vidro" são fantasiosas: "... planejou (o capitão Romualdo) exportar aguardente, para o que necessitava vasilhame, foi assim que deu início à construção de uma fábrica de garrafas nas proximidades da praia, que não conseguiu (?) e cujos pilares permanecem de pé, eretos... (...)" 
A 200m do mar e separados do engenho pela SP-55, estão em pé três pilares em pedra e cal, parte de um conjunto maior, de oito ou mais pilares que definem um edifício retangular com 18 metros de largura por 50 ou 60 metros de comprimento. Os pilares que restaram têm aproximadamente dez metros de altura e há furos para recebimento de vigas de madeira a seis metros do solo.
Não é possível determinar se essa estrutura pertencia ou não a uma "fábrica de vidro". 
Por outro lado, o pé-direito de quase seis metros é pouco comum para uso exclusivamente residencial. 
É possível que abrigasse alguma fábrica no pavimento térreo e residência no sobrado, porém é difícil aceitar a convivência de uma fábrica de vidro com qualquer outro uso no pavimento superior: o vidro é fabricado a partir de um forno de alta temperatura que desprende muito calor, tornando impossível a utilização de um sobrado. 
Acredita-se que o termo "Fábrica de Vidro", que é associado àquela estrutura, possa também se referir à embalagem de aguardente, apenas. 
As referências à produção agrícola e manufatura de Ubatuba, nos séculos XVIII e XIX, citam sempre pipas e tonéis como contenedores de aguardente e nunca garrafas ou vidros." 
- In: Sinópses, nº 12 - páginas 3 a 22 - novembro de 1989 - artigo de período da Fau/Usp - Carlos Augusto Matteifaggin 
 
Blog Ubatubense - fatos e fotos da Ubatuba antiga, administrado por Silvio Cesar Fonseca, funcionário público municipal.
 

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