segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

"CASA DE JANGO MENDES, A MORADA DA JUSTIÇA, EM ITAPETININGA"



segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016 por Alberto Isaac para o jornal Correio de Itapetininga.
A casa de Jango Mendes, no número 745, na rua Quintino Bocaiuva, não virou museu de visitação.

"O grande rábula, Jango Mendes, não deixou bens materiais, mas soube transformar sua casa em verdadeira trincheira de defesa dos injustiçados. A casa simples, de número 745 na rua Quintino Bocaiuva, não virou museu de visitação, como a de Rui Barbosa. Está sendo demolida e, talvez apague da memória, lentamente, a história que carrega. "
Na antiga capital do Brasil, Rio de Janeiro, existe a rua São Clemente, em Botafogo, onde situa-se a casa de Rui Barbosa. Ele foi estadista e jurisconsulto, nascido na Bahia, um dos fundadores da República do Brasil, da qual foi o primeiro Ministro da Fazenda. 
Dotado de vasta e variada erudição e de grande eloquência, Rui Barbosa foi embaixador do Brasil na Conferência de Haia (1907) onde representou importante papel. 
Escreveu, entre outras obras, “O Papa e o Concílio”, “Habeas Corpus” e “Cartas da Inglaterra”. 
Foi senador e presidente da Academia Brasileira de Letras.
A casa de Rui Barbosa encontra-se aberta a quem interessar.
Com quase o mesmo cabedal de cultura e não menos importante, residiu em Itapetininga, por quase 70 anos, João Batista de Macedo Mendes. 
Morava com sua família na rua Quintino Bocaiuva, centro da cidade e sua trajetória foi brilhante, digna de exemplo. 
Vindo da bucólica Itaporanga, desembarcou em Itapetininga no início dos anos de 1930. 
O ex-seminarista Jango Mendes, como era conhecido, provisionado, naquela casa simples, mas acolhedora, iniciou sua vida dedicando-se à advocacia. 
Com sacrifício e apoio de sua esposa Arminda, criou seus filhos João Batista Mendes, Desembargador, Rui Mendes, Juiz de Direito, José Mendes, advogado, Paulo Mendes, funcionário do Banco do Brasil e as filhas, Ruth, Ester, Lourdes e Benedita, todas diplomadas pela Peixoto Gomide.
Naquela casa, onde a justiça se fazia presente, o humilde, mas grandioso e culto Jango Mendes estudava e preparava suas teses de defesa ou acusações, procurando, com toda imparcialidade, cumprir suas funções, pois “acima de tudo imperava o princípio da justiça, um direito líquido do cidadão”.
Em uma das dependências da residência, logo na entrada, à direita, situava-se o escritório, com estantes de madeira maciça coladas nas paredes, repletas de livros específicos e outros, de vários assuntos e literatura. 
De espírito refinado e sensível, escrevia, para deleitar-se, poemas que versavam sobre a vida, os amores, faces da existência, a natureza, etc. 
Colaborava periodicamente em jornais, assinando artigos ou crônicas no semanário local “Tribuna Popular” e no paulistano “Estado de São Paulo”, o “Estadão”.
Dotado de palavra fácil e atraente, foi diversas vezes orador oficial do Clube Recreativo ( ex Operário) e também chamado constantemente para discursar em solenidades oficiais que se realizavam na cidade. 
Saudou, em Sorocaba, a posse do Bispo D. Ayres de Aguirre, discursou em Itú, sobre a Convenção Republicana, com a presença do político Carlos Lacerda; foi o orador oficial quando da candidatura de Prestes Maia, candidato a prefeito da cidade de São Paulo. 
Defendia com ardor as causas que abraçava e costumava dizer que “ tinha verdadeira compaixão dos injustiçados”. 
Muitas vezes não cobrava proventos dos que necessitavam de seus serviços advocatícios.
Recepcionou com vibrantes palavras, no Largo dos Amores, os candidatos a governador do Estado, Armando Sales de Oliveira e José Bonifácio e os candidatos à presidente do Brasil, Eduardo Gomes e Juarez Távora.
Embora não fosse político, assumiu sua candidatura a prefeito de Itapetininga – por indicação de amigos – mas não conseguiu vencer Waldomiro de Carvalho, então apoiado por Ciro Albuquerque.
Ao entardecer, durante toda a semana, era visto em frente à sua residência, conversando animadamente com seu vizinho, Fernando Pereira de Moraes, considerado um intelectual de ponta. 
Ao mesmo tempo, mantinha estreita relação de amizade com outros moradores dos arredores: Ezaú Isaac, a família Duarte, Dr. Otílio, Samuil Ozi, Constantino Matarazzo, o professor Ziglio, Iapichini, além do clã Sanvito, Mauro Leonel e Santino Basile.
Convidado a ingressar na Academia Paulista de Letras, declinou da gentileza, embora fosse amigo pessoal de Monteiro Lobato e outros escritores renomados do estado de São Paulo.
O grande rábula, Jango Mendes, não deixou bens materiais, mas soube transformar sua casa em verdadeira trincheira de defesa dos injustiçados. 
A casa simples, de número 745 na rua Quintino Bocaiuva, não virou museu de visitação, como a de Rui Barbosa. 
Está sendo demolida, e talvez apague da memória, lentamente, a história que carrega.
 
Jornalista Alberto Isaac. 

Complementação: Jango Mendes - João Batista de Macedo Mendes foi advogado dos mais famosos em Itapetininga. 
Jamais cursou faculdade, embora fosse excelente orador e argumentador, quase perfeito, perante um Júri.
Atuava como provisionado, no entanto, sua cultura jurídica era reconhecida por todos. 
Em 05 de novembro de 1969, quando se aposentou, as autoridades judiciárias da época, os colegas e o povo em geral participaram da solenidade de batizar, com seu nome, a sala dos advogados do Fórum.
A cidade perdeu seu maior causídico quando ele veio a falecer justamente um ano depois, em 05 de novembro de 1970. 
 

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