UMA SAUDADE
Nossa velha Capão.
Nossa velha Capão era assim. Bastava chegar, portas abertas ou só com um fio de barbante amarrado na fechadura. Puxou, abriu.
Nossa velha Capão era convívio. Da casa de um na casa do outro. Da rua de um na rua do outro.
E as mães eram de todos. Os olhares delas nos seguiam, nos vigiavam, nos protegiam. Fosse você filho desta ou daquela, não importava.
E você obedecia a todas. Todas.
Os pais eram tranquilos, talvez alguns ( como algumas mães também) mais ranzinzas, mas todos de bom coração.
A praça era nossa TV. Por ali passava a vida. Na esquina do Eduardo Martins, um grupinho de velhos fofocavam política.. Na frente da Igreja, um grupo de pais fofocava política. A padaria, o ponto de ônibus, o açougue, o bar, a farmácia, o hotel, negócios que se abriam na ou perto da praça. O convívio era total.
Nos bancos da praça, as mães trocavam experiências, receitas e fofocas sociais. E por todos os lados, os jovens, as crianças, libertos e felizes, inventando passatempos, fazendo a vida correr alegre, despretensiosa e lânguida.
Se formos mais ao passado, ainda dá para ouvir o som da banda vindo para o coreto e para os festejos religiosos. Ah!...os desfiles cívicos, a fanfarra, as quermesses, as festas religiosas, os bailes...
Nossa Capão éramos nós. Nós fazíamos a cidade, nós éramos a sua alma. Quem nos conhecesse e bebesse da água do chafariz, voltava. E feliz.
Hoje não sei se ela tem alma. Não sei .
Tem casas. Tem gente dentro delas.
Talvez, infelizmente, apenas isso.
Paulo Roberto R. de Carvalho -
transcrito da página de Joubert Galvão.
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