segunda-feira, 8 de maio de 2017

EM ITAPETININGA, FAZENDA BOM RETIRO

Gaúchos que vêm parlamentar .
Chegam de Engenheiro Hermillo seis gaúchos. São inimigos. Um 2º tenente. Um 2º sargento. Quatro soldados rasos. Conduzidos pelo tenente Cairolli. Que comanda a 3ª Cia. Querem parlamentar com a nossa oficialidade. São levados à presença do coronel Grimualdo Favilla. Que resolve transportá-los para Itapetininga. A fim de apresentá-los ao coronel Brasílio Taborda. No Q.G. do Setor Sul.
E seguem conosco. No mesmo trem que, às 18,30 horas, chegava à terra de Júlio Prestes. Dali - soubemos depois - foram mandados para São Paulo. Sob escolta. Onde ficaram. Presos. À ordem do general Bertholdo Klinger.

***

Alguns soldados nossos da 1ª Cia. andaram então, propalando, aqui em Santos, que tinham aprisionado esse gaúchos. Não é verdade. Mentiram. Eles se apresentaram espontaneamente. Livremente. E foram detidos. Como deviam ter sido. Pois o plano que tinham era o de ficarem conhecendo as nossas posições. Para tentar destroçar-nos. De vez. Tanto em Engenheiro Hermillo como em outras frentes estratégicas. Onde operávamos. E que se tornariam inexpugnáveis. Se nos dessem peças de artilharia. E munição suficiente. O que nunca tivemos.
Em Itapetininga. Depois para a Fazenda Bom Retiro
Em Itapetininga. Ficamos alojados no Quartel do 8º Batalhão. De 21 a 23. Sem dar serviço. Chegam de Santos, pela manhã do último dia, os srs. Ernesto de Paiva Azevedo e Pacco. Jogador da A.A. Americana. Distribuem-nos abraços. Indagam, com interesse, da nossa saúde. Oferecem-nos seus préstimos. Falam com entusiasmo da bravura dos voluntários paulistas.
À tarde temos ordem de limpar nossos fuzis. Para entrar em combate. Seguiremos à noite. Para onde? Ninguém sabe. Os palpites entram em circulação. Propagados de boca em boca. Ora iremos para Campinas. Ora para Amparo. Depois para São Paulo. Mais tarde para o Rio das Almas. No setor de Capão Bonito. Que já pertence ao inimigo. Ficamos na mesma enervante dúvida de sempre. Afinal, partimos. Em auto-caminhões. Que nos levam para longe. Para muito longe.
Chove a cântaros. A estrada é horrível. Dantesca. Os carros não conseguem vencer os obstáculos. Detêm-se. Nós descemos. E os empurramos. Pondo-os em marcha. À custa de muito esforço. De sacrifícios inenarráveis. No dia seguinte. Ao meio dia. Cansados e famintos. Chegamos à Fazenda Bom Retiro. Vamos para um paiol de milho. Dizem-nos que é para descansar. Tomamos café. Meia hora depois chamam-nos. Para receber munição. Cinqüenta tiros cada soldado. Não chega para sustentarmos um fogo de 15 minutos. Paciência. Não há mais. E se existe, toma destino diferente...
S. Paulo continuava sendo vilmente traído. Para onde ia a copiosa munição feita na capital? Quase meio milhão de cartuchos por dia? Quem poderá perscrutar esse mistério? Desvendando-o. Arrancando a máscara dos patifes. Dos traidores. Dos degenerados. Dos miseráveis que venderam S. Paulo ao inimigo?


O soldado Calmaria sobra na barraca...

Porto Delfino

Avançamos 4 quilômetros. De Bom Retiro a Porto Delfino. Onde está o Batalhão Borba Gato. Entramos para as trincheiras. Que são péssimas. Aí passamos a noite. Tiroteando. Ligeiras escaramuças. O adversário não parece resolvido à luta. Nós o atacamos. Ele se aquieta. Pretenderá surpreender-nos pela madrugada? É possível. Nos prevenimos. Eu e o cabo Eurico Santos ficamos de sentinela. De 1 às 3. Sem relógio. Estamos por conta do Bertholdo...
Que seja o que Deus quiser...
A 25. O famoso vermelhinho, que nós vimos pairar muito alto, bombardeia Bom Retiro. Um estilhaço de granada fere um voluntário do Borba Gato. Sem gravidade. E transcorre o dia. Sem novidade. A noite também. Dir-se-iam suspensas as hostilidades. A impressão era essa. Confirmada pelo sossego do dia seguinte, 26.

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