quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

MARACAÍ, TERRA DO MENINO DA TÁBUA, TAMBÉM ANIVERSARIA HOJE

Em Minas Gerais, nos arredores da cidade de Campanha, residia o então fazendeiro Antonio Joaquim Melchior de Camargo, uma pessoa abastada, cuja fortuna vinha de sua família e do labor em suas terras, com a criação de animais e comercialização de escravos. Surgia o ano de 1840. Em busca de outras paragens seguia a família Melchior, indo do sul de Minas Gerais, para a Vila de Botucatu, a boca do Sertão do Estado de São Paulo. As matas, os banhados, os animais silvestres e os índios compunham o cenário daquela viajem que durou dias e dias. Com a família, seguiam muitos escravos, grandes rebanhos, carros de boi e nas veias, o sangue desbravador. Tudo era sofrimento. As onças, segundo Maria Rita e Augusto Antonio, respectivamente neta e bisneto de Antonio Joaquim, dificilmente deixavam passar uma semana em que não morresse um escravo atacado por elas ou, picados por cobras, trucidados pelos índios ou afetados pela malaria, meningite ou outro tipo de febre. Para dormir faziam estaleiros de palmitos e os cobriam com suas folhas. Era grande o número de mortes por falta de recursos.
O medo dominava as pessoas. Uma noite, estava um escravo dormindo em um estaleiro construído em uma descida; durante o sono, o escravo caiu e, sobre ele uma folha do palmiteiro. Amedrontado, pensando ser uma onça que o estava devorando disse: ”Come zim nego onça, oce já pego memo agora come”. Ao perceber que nada o estava atacando, abriu os olhos na escuridão um pouco clareada pela fogueira e viu que era a folha do palmito que caíra sobre ele. Aliviado, subiu novamente no estaleiro. 
A caça aos queixadas, catetos, capivaras e codornas era o meio de conseguir carne fresca; medicamentos eram feitos de ervas e para curar as feridas que se formavam com as picadas dos mosquitos, usavam o óleo de copaíba extraído do tronco da copaibeira.
Apesar de latifundiários muito ricos, a vida era difícil. Fizeram derrubadas na mata, ergueram ranchos - conforme fotos de Maria Rita - onde habitaram até formarem as fazendas Lageado, Palmeiras, Jacutinga, Córrego do Rosário, nos arredores de Avaré e Botucatu.
Antonio Joaquim Melchior de Camargo era filho de Antonio Jose Belchior e Joaquina Maria do Espírito Santo (ou Joaquina Maria da Rocha Camargo). Foi casado em primeiras núpcias com Delphina Maria de Jesus, com a qual teve um filho, Jose Delphino de Camargo. Viúvo, casou-se com Emerenciana Maria de Jesus e teve as filhas: Ana Joaquina, Eduarda Maria, Faustina Brígida e Caetana. Em 16.11.1863, com cerca de 30 anos, Emerenciana vem a óbito. Foi sepultada no Cemitério da Capela de Nossa Senhora das Dores de Rio Novo, atual Avaré,SP (conforme microfilme numero 1253054 do registro civil de Avaré).
Viúvo novamente, Antonio Joaquim casou-se com Mathildes Maria de Jesus (ou Mathildes Maria Vieira Martins) em 31.05.1864 na Matriz de Nossa Senhora de Sant’Anna, em Botucatu, SP, na presença das testemunhas: Francisco Antonio Diniz, Martiniano Miguel Pereira. Receberam as bênçãos nupciais pelas 9 horas da manha.
Mathildes Maria, nascida em Casa Branca, SP, era filha de Antonio Florêncio Martins e Anna Angélica Vieira e Silva. Anna Angélica era parente de Domingos Vieira e Silva, fundador da cidade de Alfenas, MG e de João Batista Vieira e Silva, fundador da cidade de Paraguaçu Paulista, SP. Antonio Joaquim e Mathildes tiveram os filhos: Joanna Batista, Antonio Lazário Melchior(meu bisavo), Maria Cassiana, Silveria Maria, Maximiniana Ciliria, Maria Ângela, Luiza Dionizia, Licerio Theodoro Melchior, Marianna Olympia e João Antonio Melchior. 
Em 1871, Antonio Joaquim Melchior de Camargo adquiriu de Jose Teodoro de Souza, a Fazenda Pouso Alegre com 22.000 alqueires. Para comprovar que Jose Teodoro de Souza era proprietário destas terras, existia apenas um documento, um cadastro feito pela Igreja de Botucatu para fins estatísticos ou, um ”registro do vigário”, ”registro paroquial”, não reconhecido como documento de propriedade. Estas terras ficavam próximas a Campos Novos do Paranapanema (atual Campos Novos Paulista, SP), sertão adentro. Para regularizar as terras adquiridas, Antonio Joaquim Melchior de Camargo, homem inteligente e de grande visão entrou com um requerimento de medição de terras para a legitimação da fazenda. Coube ao juiz comissário, cidadão Theodoro de Camargo Prado, nomeado pelo governo, esta tarefa. Depois de feita a medição, examinados os autos e tendo sido comprovado que estas terras eram morada habitual da família, foi-lhe concedido o ‘título de posse’ pelo Presidente da Província. Posteriormente, a fazenda Pouso Alegre foi dividida em outras fazendas como: Roseta, Fortuna, Água do Melchior, Potreirinho, Cervo, Cardoso de Almeida, Pitangueiras, Capivara, Pinga, Boa Sorte, etc.. 
Antonio Joaquim Melchior de Camargo era pardo, neto de uma escrava e de um francês, este, um senhor de engenho em Minas Gerais. Doente, com hidropisia, sendo muito religioso ou talvez pela doença e em busca de cura, desejou construir uma Igreja em louvor a sua santa de devoção. Doou 750 braças em quadra (75 alqueires) de terras pertencentes à fazenda Pitangueiras para construção de um patrimônio em louvor a Nossa Senhora do Patrocínio. É onde se localiza hoje a cidade de Maracaí. Este patrimônio foi doado conforme escritura datada de 09.11.1890, e conforme a vontade de Antonio Joaquim e sua esposa Mathildes, seria este o dia consagrado ao aniversario do município.
Antonio Joaquim Melchior de Camargo faleceu dois anos após a doação, em 11.08.1892, com 78 anos; foi sepultado no cemitério de Conceição de Monte Alegre,hoje distrito de Paraguaçu Paulista, SP. Viúva, Mathildes Maria Vieira Martins Melchior, dona-de-casa e iletrada, colocou seu irmão Joaquim Martins da Silva,que era juiz de paz em Conceicao de Monte Alegre, como seu procurador pois não tinha condições de administrar tamanha fortuna. Anos após, doente de um tumor maligno,talves procurando a cura tambem, em 15.01.1898, Mathildes Maria doou o patrimônio de Sao Sebastião da Roseta para o santo São Sebastiao, com 31 alqueires, juntamente com sua família.
Conforme a escritura, o patrimônio de Nossa Senhora do Patrocínio possuía” 750 braças em quadra (75 alqueires).Cujo limite de medida e o seguinte, começando na dita Água das Pitangueiras, em sua cabeceira e por a mesma abaixo atté onde completarem as ditas 750 braças. Do lado esquerdo da dita água medindo com as terras de Marcelino Antonio Diniz; e pelo outro lado dividindo com o mesmo doador( terras do próprio Antonio Joaquim). Por ser esta de nozsa livre vontade por preço e quantia de R$200$000”. No documento citado consta que, por serem Antonio Joaquim e Mathildes Maria iletrados, assinaram a escritura a rogo dos doadores, Salviano Jose Nogueira, Belizário Nogueira Marmontel, Manoel Antonio do Nascimento e Dr. Antonio Lazário Melchior. Assinou o tabelião |João da Silva Ribeiro.
O povoado de Nossa Senhora do Patrocínio das Pitangueiras, foi distrito policial de Conceição de Monte Alegre. Sua padroeira é Nossa Senhora do Patrocínio e anualmente é comemorado este dia na data de 15 de agosto. Foi elevado a distrito de Paz pela Lei número 1650 de 11 de setembro de 1919 e instalado a 17 de janeiro de 1920 com a denominação de Maracaí que significa Rio dos Chocalhos em tupi-guarani. Maracaí foi elevada a município, na comarca de Assis, através da Lei Estadual número 2000 de 19 de dezembro de 1924 e instalada dia 24 de março de 1925. O primeiro padre de Maracaí chamava-se Paulo de Mayo.

Pesquisa feita por Ireni dos Santos Braga, trineta de Antonio Joaquim Melchior de Camargo, na foto abaixo.

 

2 comentários:

  1. Sra. Luiza Valio, eu Ireni dos Santos Braga pesquisadora da Historia de origem da cidade de Maracai doada pelo meu trisavo agradeço,por ter postado a Historia de Maracai(Menino da Tabua),e citado meus direitos autorais.

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  2. Parabéns pelo excelente trabalho historiográfico.
    Celso e Junko Sato Prado

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