sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O FATÍDICO PÉ DE ARAÇÁ, EM CAPÃO BONITO, QUE DERRUBOU O AVIÃO "ANHANGUERA".



A queda do avião "Anhanguera", onde pereceram o deputado Manuel de Lacerda Franco e o capitão Messias Ribeiro, dois dos mais hábeis pilotos à época, deu-se no município de Capão Bonito no mês de agosto de 1929.
Um repórter do jornal "Estadão" esteve colhendo testemunhos sobre o triste episódio. Foi conversando com os caboclos Pedro e Augusto Moreira, do Bairro do Areado, na Serra do Mar, distante cerca de 30 quilômetros de Guapiara, na divisa de Capão Bonito com Iporanga, que ele soube que no dia 19 de agosto, à tarde, estavam os dois na roça de milho quando ouviram um barulho muito grande vindo dos lados da Casa de Pedra. 
Eles contaram que um vulto enorme teria passado por sobre a Casa, dado algumas voltas e, depois de um horrível estrondo, silenciou.
Só no dia seguinte, em Guapiara, é que os caboclos tomaram conhecimento que o avião "Anhanguera", com dois passageiros, estava desaparecido.
Pois os dois ficaram com  a pulga atrás da orelha e resolveram investigar por conta própria sobre o que teria ocasionado aquele barulhão na mata, no dia anterior, perto da sua roça.
Mas a chuva caía impiedosamente na região. Choveu por uns dez dias; só depois disso é que puderam enfrentar a caminhada e partiram em varredura mata adentro. 
E não é que os heróis encontraram o aludido avião?
Ato contínuo, comunicaram o fato ao 3o. Batalhão destacado em Capão Bonito e também aos caboclos Francisco Felício de Campos,  Joaquim Pedroso e Francisco Moreira.
Chegaram os guardas civis algumas horas depois: Jovino Dias de Almeida, Raphael Granco, José Wolfgang de Lima, Virgílio Montarrolo, Manuel Teixeira Santos, Antonio Ruy e os senhores Francisco Barreto, Antonio Cardoso, Polycarpo Xisto Paes e José Fernandes que, com auxílio de facões e machados fizeram uma picada de cerca de 500 metros e afinal chegaram ao banco de pedra onde estacionara o "Anhanguera".
Concluíram que o avião havia batido num pé de araçá, quase no cume da Serra e, capotando, ficara com a frente para baixo e as rodas para cima. 
Um pedaço da tela da asa ficou preso aos galhos da árvore.
Os cadáveres ainda estavam amarrados dentro do avião. 
O deputado Manuel de Lacerda Franco trazia ainda um cigarro na mão direita e na esquerda o mapa de São Paulo.
Ambos os corpos apresentavam as cabeças feridas, membros e costelas quebrados.
Pertences do deputado: 284 mil réis em dinheiro, um mapa paulista, um relógio-pulseira, um anel de ouro com escudo e uma aliança de platina.
Pertencentes ao capitão Messias: 3 anéis de ouro, uma chave de caixa postal, uma chave de porta, 3 outras chaves, um emblema indicativo, 409 mil réis, um emblema da Aviação, um relógio-pulseira de ouro, uma relíquia com a imagem de Nossa Senhora Aparecida e um talabarte.
Numa valise continha: um paletó, uma calça de casimira e um boné com o emblema da Força Pública.
Os corpos foram transportados em redes pelos caboclos até o Km 13, onde esperavam por eles: os drs. Valentim de Queiroz e Aníbal Teixeira de Carvalho e mais os cidadãos Pedro Chagas (delegado de Capão Bonito), dr. João Vieira de Camargo, Argemiro Vieira de Moraes, Capitão Saraiva, Salustiano Ramos, Sérgio de Albuquerque, Ayres de Souza (delegado regional), amigos e parentes das vítimas.
Os caixões vieram de São Paulo e deu-se o guardamento a noite toda por pessoas de destaque de Capão Bonito, da região e de São Paulo.
No dia 2 de setembro de 1929, às 7 horas, saiu o cortejo de Capão Bonito para Itapetininga, onde foram transladados, em trem especial, para a capital.  
Fonte: Estadão

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