quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A HISTÓRIA DE ANTONIO GUEDES, MORADOR EM SÃO JOAQUIM DA BARRA:

"Acometida de grave moléstia, a senhora do Antonio Guedes, proprietário de um bar localizado na praça da igreja, fora procurar Dona Elisa. Esta afadigou-se em rezas longas e árduas penitências... Queimou velas de todos os tamanhos e de todos os pesos... A sua Senhora de Fátima e a "onipotente" Rita de Cássia desapontaram-na e não lhe deram guarida às súplicas impertinentes...
O estado da mulher agravava-se.
Os medicamentos ingeridos sob prescrição médica para colaborarem com as providências de caráter religioso, não leniam a moléstia incurável.
O Antonio Guedes, marido extremoso, no ápice do desespero, decidiu acatar a sugestão de Dona Elisa. Aceitou cumprir uma promessa em prol da saúde de sua esposa querida. Preferiu o Senhor Bom Jesus da Lapa por lhe parecer mais valioso do que a Senhora de Fátima ou Santa Rita. Não lhe havia o Baianinho Barbeiro contado "maravilhas" do "São Bom Jesus da Lapa"?
Sincero, não quis aguardar o atendimento de sua súplica ao valioso padroeiro do Baianinho.
Cumpriu a promessa antes mesmo de ser atendido.
Comprou logo a imagem.
"Não se pode falar "comprou" uma imagem. É falta de respeito! É preciso dizer: "trocou" uma imagem! Senão, o santo castiga!"
Pobres católicos que precisam temer inclusive certas expressões...
Se eu chego numa loja e pago o preço de um objeto para levá-lo, não significa que eu o comprei mesmo?
Foi de porta em porta, pela cidade toda, pedindo esmolas para a construção de um templo em louvor ao Bom Jesus da Lapa.
Homem rico, sem possibilidades de construir às suas expensas, o Antonio Guedes submeteu-se à humilhação de pedinte...
Seu amor à desditosa esposa impelira-o a esse ardor...
Honesto à toda prova, estabeleceu uma comissão de três outros comerciantes para fiscalizar a construção do templo e testificar aos contribuintes a sua compostura no emprego das esmolas.
A enferma, porém, exigia-lhe dedicação permanente. 
Rareava sua presença nas obras do templo. 
Com a melhor das intenções, por isso entregou à comissão dos três o encargo da construção.
Ao final, o desventuroso esposo viu que havia sido roubado. 
A comissão traíra sua confiança. 
Os três embolsaram o dinheiro todo e ele teve de assumir todos os ônus. 
Com o coração roído por inenarráveis angústias, saldou todos os seus compromissos.
Sua comoção atingiu os paroxismos do desespero.  
O médico declarara-lhe pela centésima vez ser fatídica a enfermidade de sua esposa, cuja voz não parecia mais a sua voz, porque a voz dos que vão morrer é diferente.
Vã fora a sua promessa!
Frustrados os seus rogos!
Inútil a sua humilhação!
Vilipendiada a sua honestidade!
Traída a sua confiança!
Falhara a proteção do Senhor Bom Jesus da Lapa, cuja imagem se postava em uma mesa de sua sala principal.
Fora escolhida em catálogo pela sua própria esposa. Da coroa de espinhos, das chagas abertas, a escorrer o sangue de azarcão e laca, esborrifando o escarlate vivo nos músculos de madeira.
Transubstanciara-se a sua promessa em motivo de escárnio...
A maledicência das beatas das missas matutinas tesourava-o impiedosamente...
E aconteceu a tragédia!
Arrasado por uma infinita tristeza, enlouqueceu!...
E, no seu desvario, assassinou a esposa sentenciada à morte pela doença letal.
E suicidou-se!!!
Na manhã seguinte, entre as duas missas dominicais, o povo inteiro de São Joaquim da Barra se postava atrás de dois ataúdes.
O da esposa ia à frente... Entrara na igreja, ao planger dos sinos, para receber a encomendação ritual...
O do marido - assassino e suicida - ficou de fora, esperando...
A lei eclesiástica impede quaisquer exéquias religiosas aos suicidas...
A lei católica?
Sim! A lei... católica!!!
A mulher recebeu a benção do padre!!!
O marido foi sepultado como um excomungado!!!
Em São Joaquim da Barra, todavia, encontra-se a Igreja do Senhor Bom Jesus da Lapa, como um marco trágico de uma promessa não cumprida...
A lei católica excomungou o seu edificador...
Os padres, todavia, promovem lá, todos os anos, em agosto, as rezas...
É a orgia novenal das bebidas alcoólicas e dos jogos de azar... É a bacanal de todas as prostitutas da região...
Tudo em glorificação do Senhor Bom Jesus da Lapa..."

Transcrito do volume: "Este Padre Escapou das Garras do Papa!!!", escrito por Aníbal Pereira Reis.

OBS: Dona Elisa Lourenço era uma portuguesa muito religiosa que vivia em São Joaquim da Barra; tinha um quarto em sua casa que parecia verdadeira capela devotada a Nossa Senhora de Fátima e a Santa Rita de Cássia. Fazia novenas e rezava para todos os devotos e doentes que necessitavam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário