quinta-feira, 12 de novembro de 2015

"MEU PAI, JOSÉ CHIACHIRI"


 

Se vivo fosse, ele completaria cem anos de idade no próximo dia 10 de agosto. 
Se vivo fosse, ele tomaria um banho demorado, faria a barba e se perfumaria com sua loção favorita para receber os cumprimentos de sua esposa, de seu filho e de sua sogra. 
Em Franca, a nossa família era muito pequena. 
Éramos quatro. 
À noite, certamente, em torno de uma mesa nós comeríamos uns quibes assados, umas esfirras e um espeto de jaú que era sua especialidade. 
Se vivo fosse, nós comemoraríamos o seu aniversário com muita emoção, com muita sinceridade e com muito amor.
Permitam-me, caros leitores, falar um pouco de meu pai. 
Nestas crônicas eu falo de muita gente e de muitas coisas. Permitam-me relembrar um pouco a figura de José Chiachiri. Não é para exaltar as minhas origens, o meu berço, a minha formação. É, simplesmente, para apresentar ou reapresentar-lhes um homem bom, idealista, sincero e carinhoso.
José Chiachiri nasceu numa pequena e linda cidade da região de Campinas: Vargem Grande do Sul. 
Filho do turco Abrahão e da libanesa Jalile era destinado a trabalhar no comércio, como seus pais. Porém, desde cedo ele se interessou pelo jornalismo e foi trabalhar no jornal da cidade denominado A Imprensa. 
Em meados da década de trinta sua família mudou-se para Franca e seu pai estabeleceu-se com uma loja de fazendas e armarinhos na Praça Nossa Senhora da Conceição, quase na esquina da Rua Monsenhor Rosa com a Voluntários da Franca. Antes de 1944, a família retornou para Vargem Grande. Zezinho, o seu segundo filho, não quis voltar. 
Uma linda morena, a sertaneja, prendeu-o em nossa cidade. Aqui, não se adaptando às atividades comerciais de seu pai, foi logo para o jornalismo e como cronista do jornal Comércio da Franca escreveu inúmeras crônicas sob o pseudônimo de Aldo. José Chiachiri gostava das letras, gostava do jornalismo, gostava da polêmica. 
Fundou uma revista a qual deu o nome de Sertaneja em homenagem à sua noiva. 
Mais tarde a revista mudaria para Vila Franca e seria o grande veículo de divulgação da história da nossa cidade. 
Fundou, antes da década de 40, juntamente com Chico Adelino, o jornal Diário da Tarde, órgão combativo, destemido e defensor das grandes causas populares.
José Chiachiri gostava das letras e da história e a sua preocupação com o passado de nossa gente levou-o a construir uma obra, um museu, depositário de nossas tradições e de nosso passado.
Sua revista não circula mais. 
Seu jornal não leva mais diariamente as notícias para a população. 
Contudo, o Museu permanece, preservando, cuidando e guardando a nossa história.
Se vivo estivesse o meu pai completaria 100 anos. 
Se vivo estivesse eu lhe tomaria a bênção e o abraçaria com muito carinho. 
Todavia, vivo ele não está. 
Não está mesmo? 
Na verdade ele não morreu. 
Ele permanece no meu coração, na minha memória, nas minhas atitudes. 
Ele permanece na lembrança de minha mãe. 
E o mais impressionante, ele permanece na memória dessa cidade a qual adotou como sua e deu a ela o seu amor, o seu ideal e a sua luta. 
É por isso, prezado leitor, que na próxima sexta-feira, dia dez de agosto, a comunidade francana vai relembrar o velho Chiachiri em sua casa, o Museu, com os seus amigos, os filhos e os netos dos seus amigos. 
Mesmo tendo-o tão presente em meu coração e em minha memória, eu gostaria de sentir o cheiro de sua loção, de poder abraçá-lo corpo a corpo, de poder saborear o espetinho de jaú, de poder senti-lo em toda a sua dimensão. 
Meu consolo é a saudade, a saudade que não desaparece, que não morre, que não se esvai, nem em cinquenta, nem em cem e nem com o passar infinito dos anos.
 
Escrito em 04/08/2012 pelo filho José Chiachiri para o GCN.
 
------ Neste momento o pai, a mãe e o filho já se encontraram nalgum lugar fora deste mundo...

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