domingo, 5 de novembro de 2017

IMIGRANTES DO JAPÃO E A ESTAÇÃO DE MONTEIROS NA FAZENDA GUATAPARÁ

Grupo de colonos japoneses da Fazenda Guatapará/
1920.

Em 28/06/1908 chegou ao Porto de Santos o primeiro navio trazendo imigrantes japoneses para trabalhar nas lavouras de café do Oeste Paulista e do Paraná. 
O Kasato Maru fez o trajeto em 51 dias e trouxe 168 famílias, num total de 781 agricultores que, desde a industrialização do Japão, enfrentavam dificuldades para encontrar emprego no campo. 
A imigração japonesa foi incentivada pelo governo brasileiro, que lhe abriu a porta do país quando os Estados Unidos decidiram proibir o ingresso dos orientais em seu território, no dia 18 de fevereiro. 
Grande parte dos agricultores, 210 ao todo, vai trabalhar na Fazenda Guatapará, de propriedade de Henrique Dumont, pai de Alberto, nosso herói da aviação, em Ribeirão Preto.

estação
Estação de Monteiros:
A estação de Monteiros ainda de pé mas com partes dos telhados laterias caídos, em 1987. Foto Coryntho Silva Filho.
A estação de Monteiros foi construída em 1912, pelo engenheiro Antonio da Silva Lavandeira. 
Foi ponta de linha do ramal durante alguns meses, até a abertura da estação seguinte, em outubro de 1912. 
Em 1914, foi construído o ramal de Monteiros, que levava a Guatapará, o que fez da estação ponto de bifurcação de linha. Nessa vila ferroviária, moravam o examinador de veículos, a conserva com seis empregados, o conferente e o portador. 
Havia também um depósito de lenha, e um restaurante grande para o pessoal. 
Junto à estação, uma venda. 
Em volta, plantações de café. 
O seu nome veio da família que era a proprietária das terras à sua volta, porém, é também citado que a Fazenda Monteiros seria o nome de uma das seções da fazenda Guatapará, dos Prado. A versão correta, entretanto, é a de que os Monteiros eram o dono das terras desde o século XIX, tendo inclusive sido eles a ter vendido a Fazenda Guatapará à família Prado. 
Na época da inauguração da estação, a maior fazenda da região próxima a ela era a Fazenda Santa Olímpia. Mais tarde, com a divisão das terras das fazendas mais antigas entre herdeiros e eventuais vendas, a estação de Monteiros passou a ficar dentro das terras da Fazenda Baixadão, que, aliás, existe até hoje. A estação ficava a cerca de dois quilômetros da sede da Fazenda Monteiros, da mesma forma que, hoje, o seu antigo local fica à mesma distância da sede da Fazenda Baixadão, uma casa de 1948 que ainda existe, ao contrário da sede da Monteiros, que não mais existe. Em 1961, o trecho que ligava a estação a São Simão foi suprimido e as duas linhas que chegavam a Monteiros, unidas, formaram o ramal de Guatapará. Continuou a estação ativa, até que, em setembro de 1969, foi fechada e transformada em parada (*RM-1969). O ramal foi totalmente desativado em 1976, e logo em seguida os trilhos foram retirados na região urbana de Ribeirão Preto. O restante da linha foi retirado entre 1978 e 1979. Hoje, na desolação do canavial, nada mais resta. Perto do local da antiga estação e da vila, existe uma casa, com um barzinho que atende aos cortadores de cana. O local é impossível de ser mostrado com certeza, pois virou canavial. Os moradores dessa casa contam que ali perto existiria uma mina de água, que a seu lado teria uma estátua da família Monteiro, mas que estaria em completo abandono e com um acesso dificílimo, visto que o capim em sua volta está altíssimo. 
A estação foi demolida em 1993, depois de ter permanecido invadida por muitos anos. A caixa d'água de ferro da estação já havia sido cortada pela empreiteira que erradicou o ramal, em 1979. 
A lembrança agradável das paradas na desaparecida estação de Monteiros é citada em seguida: "Lá pelos idos de 1957/1959, quando ainda estudante de Direito em São Paulo, costumava apanhar o trem de aço ou o trem azul da Paulista, com destino a Ribeirão Preto, onde seu avô Gabriel era Juiz de Direito na ocasião, para as festas de fim de ano ou feriados de carnaval. Essas composições, pelo menos em termos de Brasil, eram um primor de comodidade, luxo (Pullman) e eficiência (horário). Algumas vezes, como sua mãe estava na fazenda, eu achava mais conveniente pegar o noturno da Paulista e fazer a baldeação em Guatapará, já na Mogiana, para descer em Joaquim Firmino, de manhã, e chegar até a sede. No ramal de Jataí, saindo de Guatapará, parava-se em Monteiros, onde o pão com linguiça, caseira, artesanal e bem temperada, era um verdadeiro banquete matinal." (Relato do pai de Maria Christina Monteiro de Barros Alfano, esta sendo uma das bisnetas de Joaquim Firmino, em 01/2003) "A Cia. Paulista nos levava da Estação da Luz até Rincão, onde acabava a alimentação elétrica. Não dá para esquecer os vagões azuis impecáveis da Paulista. Em Rincão, saía a locomotiva elétrica e entrava a máquina diesel, que nos deixava em Guatapará e seguia para Barretos. Eu adorava ver essa operação de troca de locomotivas. De Guatapará íamos de máquina a vapor para Monteiros, na fazenda onde nasceu minha mãe. Estou falando da década de 50. Na década de 70, trabalhando na Du Pont, em Paulínia, voltei a frequentar a Fazenda Santa Olimpia, onde nasceu minha mãe e onde ficava a estação de Monteiros. Nos anos 80 voltei lá mais umas duas vezes. Fiz algumas fotos, inclusive da antiga ponte de ferro, trazida dos EUA desmontada, como tantas outras do Brasil. Hoje, de tudo aquilo, só restam ruínas e saudades, além de boas recordações. Felizmente, eu ainda fotografei alguma coisa e guardei várias telhas francesas de barro e vidro colorido, que cobriam as estações." (Coryntho Silva Filho, 08/2003) (Informações sobre a fazenda e a estação de Monteiros: relatórios da Cia. Mogiana (1912); Maria Cecília França Monteiro da Silva, 08/2003)

UOL

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