domingo, 19 de julho de 2015

ANTONIETA ZAIDAN, PROFESSORA.

ERA A FESTA DOS ARQUITETOS DA ELEGÂNCIA
Alberto Isaac

A Banda (Lira ou Municipal) retumbava ao alvorecer com músicas marciais; o campo, da Associação ou DERAC e CASI, recebia animada e descontraída torcida, (também feminina); o almoço, suculento, no Hotel Vitória, depois “Itapetininga”, regurgitava com o cardápio oferecido e à noite, no Recreativo (antigo Operário), os fabulosos bailes com a orquestra Pan-Americana, regida por Edil Lisboa, isto tudo, com a coroação da Rainha.
Era o resumo da aguardada festa em comemoração a uma data especial na cidade. 
Na véspera, efeméride brasileira “o da Independência”, realizavam-se as homenagens ao “Dia dos Alfaiates”, uma classe, que se tornou além de grande suporte da economia local, instituição responsável pelo bem vestir total dos itapetininganos daquelas longínquas épocas. Constituíam-se, inegavelmente, nos arquitetos da elegância da região.
O número de estabelecimentos dedicados a esse nobre comércio ultrapassava a mais de 50, enquanto que os envolvidos no ramo atingiam aproximadamente a 300, quantia considerada elevada diante de uma população de poucos habitantes. 
Em diferentes ruas, encontravam-se estabelecidos salões, adequados e abertos aos interessados, de propriedades de Manolo, Gabriel Zaidan, Gimenez, Garcia, Jatil, Ambrósio, Santos (também presidente da Associação Atlética), Joaquim Pinto (Carioca), Edil Lisboa (maestro), o lituano Jonas, Branco & Tini, Climinácio, verdadeiros artistas da tesoura, auxiliados por grandes oficiais da costura. Todos em atividades das mais competitivas – mas unidos – “procurando apresentar serviços perfeitos e talhados para qualquer medida”, como assinala o itapetiningano Aris Vieira de Moraes, que morando na capital paulista, encomendava seus ternos nas alfaiatarias da cidade.
Neste último dia 6 de setembro, quinta-feira, passou completamente ignorado o “Dia dos alfaiates”, e somente Benedito Mariano Gomes, lembrou-se do evento, e da satisfação que invadia o coração e a alma daqueles que participavam da celebração da data. Uma confraternização entre verdadeiros amigos, embora concorrentes na profissão.
Como Benedito Mariano Gomes, poucos o conhecem pelo nome, no entanto, com o apelido simples e curto de “Vico” é reconhecido por grande parte da população desta comunidade. Ele, agora com 81 anos completos, orgulha-se de ser o mais antigo alfaiate a exercer a profissão até hoje em Itapetininga. São exatamente 68 anos ininterruptos, tendo iniciado em 1944 uma carreira que não o deixou rico “mas, que ainda lhe dá prazer, satisfação enorme em servir ‘muito bem’, qualquer cliente”. 
Começou como aprendiz com Larizatti, na Rua Campos Sales, tendo Plínio como mestre. 
A Alfaiataria Larizatti, de Francisco Larizatti, confeccionava uniformes para a totalidade dos funcionários da extinta Estrada de Ferro Sorocabana que atuavam neste ramal paulista. 
Passou a ajudante com Ubaldino na alfaiataria do libanês Gabriel Zaidan, pai das professoras Lurdes e Antonieta Zaidan. Vico, na alfaiataria aprende a confeccionar calça, colete e paletó com tecidos importados.
Os profissionais da época acompanharam com avidez todos os figurinos da moda “aplicando em seus trabalhos para gáudio do freguês”. Normalmente a classe média abastecia o guarda-roupa com mais de três ternos periodicamente, para passeios e trabalho.
Aos 16 anos, Vico começou a dedicar-se a pequenos consertos e serviços de roupas e posteriormente como oficial de paletó. Prestou sua competência a Ildefonso Gimeneza e na extinta Magister, como revisor de máquinas. E não esquece que trabalhou em S. Paulo, como alfaiate em grande firma – fabricante de ternos “de fino capricho e elegância, vendidos em todo Brasil”. Atualmente, ainda como autônomo, além de consertos, confecciona calças e paletós sob medida, contando com número expressivo de clientes. 
Os tempos mudaram e as roupas feitas deram fim às charmosas e atrativas alfaiatarias de Itapetininga, lamenta Vico, lembrando da suprema elegância masculina dos “cavalheiros de Itapetininga”, como foram Hermes Quarentei, Astor Barth, professores Fernando Rios, Péricles de Souza, Eliziário Martins de Mello, os lembrados Vicente e Geraldo de Melo, João Batista de Macedo Mendes e Benjamin Ferreira.

OBS: Gabriel Zaidan emprestou seu nome a uma rua existente na Vila Monteiro, em Itapetininga.
 

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