sábado, 8 de setembro de 2012

IMPRESSÕES SOBRE OS TROPEIROS











Apreciai, leitor amigo, a vida descuidosa do obscuro tropeiro.

Ei-lo em meio à estrada, conduzindo aquela disciplinada manada de bestas, como que dando uma passageira ideia das históricas caravanas dos desertos.
Cantarolando alegremente umas velhas trovas populares ou assobiando qualquer trecho de música que não prima beleza na execução,  lá vai o indefeso viajante levantando a poeira dos caminhos, ouvindo o som constante e monótono da chocalheira, contemplando o infinito, embalado unicamente em seus despretensiosos pensares.
Quando se avizinha a misteriosa e obumbrada noite, antes que a melancólica lua paloreje a ensombrada terra, ele procura um lugar seguro onde repouse resguardado do frio, da chuva e do vento.
E enquanto a sua tropa se nutre sossegadamente, prepara a modesta refeição que, apesar da frugalidade que encerra, tem um sabor especial a que só ele sabe dar valor.
Se a fadiga da jornada ainda não apoderou-se de seu corpo, e se uma amistosa companhia lhe aparece, emprega-se logo em, um passatempo agradável, que quase sempre tem por agente um predileto baralho.
Ou então, à falta deste entretenimento, recorda em sua narrativa singela na exposição, mas prenhe de naturalidade, as antigas lendas de sua terra, aceitando-as sinceramente como possuidoras do cunho da veracidade.
Terminada a diversão escolhida, entrega-se a um sono que o hábito tornou ligeiro, e, de manhã, quando o sol irradia-se na longa faixa do nascente, enceta o seu costumado trabalhar, em que as cenas do dia antecedente repetem-se invariavelmente.
Mesmo esquecido do mundo, pertencendo a uma classe ludibriada por muitos, ele é uma fonte legítima de proveitos para agricultores e comerciantes, dando a sua partilha para a propagação de mercadorias, dando a sua partilha para o desenvolvimento do progresso.

Ernesto Sampaio - 21.7.1.901 - para o jornal "O Democrata", de Capão Bonito do Paranapanema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário