segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

RELATÓRIO ESCOLAR DA REGIÃO: CEM ANOS ATRÁS.

INSPEÇÃO NO SUL DO ESTADO


"Durante o mês de setembro percorri os vastos municípios do Sul do Estado - Faxina, Itararé, Lavrinhas e Capão Bonito do Paranapanema, tendo deixado de ir a Ribeirão Branco, município compreendido naquela zona, por não haver lá escola provida na ocasião.
Em inspeção demorada, visitei o Grupo Escolar da Faxina, proficientemente dirigido pelo professor Mariano de Oliveira e constituído de um pessoal docente idôneo e esforçado.
Este estabelecimento, durante as minhas visitas, funcionava bem quanto à boa distribuição do ensino, mas ressentia-se de falta de alguns melhoramentos materiais, que foram apontados no meu relatório de 3 de outubro, melhoramentos que constituíam necessidades cuja satisfação se me afigurou imprescindível para que esse instituto se aproximasse tanto quanto possível da organização dos institutos - modelo de ensino preliminar.
Quanto à marcha geral do ensino nas localidades do sul do Estado acima indicadas, darei em seguida uma ideia do estado lamentável em que se acha a instrução em toda aquela zona, reproduzindo algumas informações já presentes no meu citado relatório de 3 de outubro. 
Com relação às escolas de ensino público preliminar compreendidas na zona desta inspeção, das 61 cadeiras existentes só se acham providas 7 por professores estaduais e 6 por professores municipais, além de 1 curso noturno para adultos.
Entretanto, toda aquela extensa faixa do território paulista, situado entre a cordilheira marítima e a bacia do Paranapanema, com uma superfície de mais de 300 léguas quadradas, abrangendo os municípios de Capão Bonito do Paranapanema, Ribeirão Branco, Faxina, Itararé e Lavrinhas, é aliás ocupada por sofrível número de habitantes já aglomerados nesses distantes núcleos de população, já largamente disseminados pelos campos.
A única povoação daquela zona dotada dos meios regulares de instrução e educação popular é a cidade da Faxina.
É necessário que o poder competente lance sobre as outras as suas vistas, especialmente para os municípios de Capão Bonito e Itararé, aquele, importante por sua população  e comércio, sua produção zootécnica, sua riqueza mineral e seus elementos materiais; e este, por conter a última povoação do Estado de São Paulo na divisa com o do Paraná - ponto estratégico que promete, talvez em breve, uma praça importante, um centro de atividades, lavoura e comércio, digno da nossa melhor atenção, na frase de um distinto cavalheiro e proprietário do município.
Em todo o município de Itararé funciona apenas uma escola - a 1a. do sexo masculino - quando só a população urbana da cidade comportaria perfeitamente as 4 escolas criadas, de ambos os sexos, funcionando com matrícula elevada e boa frequência.
Pena é que os professores diplomados só procuram estabelecer-se nos melhores pontos servidos por estradas de ferro - quando não na Capital, pelo menos em pontos de fácil comunicação com esta ou com as mais importantes cidades do interior.
Em Capão Bonito do Paranapanema, município seis vezes mais populoso que o do Itararé, dá-se exatamente a mesma coisa, pois que só existem ali 6 escolas providas, sendo 4 na cidade e duas municipais em bairros.
As próprias escolas da cidade, apesar de funcionarem melhor que a do Itararé, não preenchem em nada as necessidades inadiáveis do ensino público naquela localidade, onde existe considerável população escolar, em sua maior parte privada dos benefícios da instrução.
A cidade de Capão Bonito, bem preenchidas as 6 escolas criadas  para os dois sexos, oferecerá seguro elemento para  a criação de um grupo escolar, medida esta de caráter imprescindível, para a qual solicito a valiosa atenção do patriótico governo do Estado.
No município de Lavrinhas funcionam regularmente duas escolas estaduais, além de um curso noturno para adultos. Por sua vez, a municipalidade mantém, com auxílio do Estado, uma escola feminina na vila e uma do sexo masculino em bairro.
Com relação às escolas municipais da zona percorrida, consignei ainda no mencionado relatório que nenhuma instalação havia com feição de escola propriamente dita, sendo os seus professores, salvo uma ou outra exceção, incapazes de educar e ministrar o ensino.
A Câmara da Faxina mantém duas escolas do sexo masculino em bairros, pagando a cada professor unicamente a importância do auxílio fornecido pelo Estado.
A Câmara de Capão Bonito do Paranapanema mantém igualmente duas escolas masculinas em distritos rurais, fixando a cada professor o ordenado mensal de 80 mil reis, inclusive o auxílio do Estado.
A Câmara de Lavrinhas também mantém duas escolas, uma de cada sexo, remunerando cada professor com 100 mil reis mensalmente, englobada nessa soma a dotação por parte do Estado.
Como se vê, estas Câmaras empregam todo o auxílio que recebem do Estado exclusivamente no pagamento do ordenado que arbitram aos professores municipais.
Resulta dessas observações, combinadas com os dados do número 3 dos anexos que, naquela zona cuja população é apenas calculada em 40 mil habitantes, cada escola do Estado provida, inclusive as oito classes do Grupo Escolar da Faxina, corresponde a 2.857 habitantes, ou seja, uma escola para cada grupo de 428 crianças de 7 a 12 anos, tomando-se para base da população escolar 15% da população absoluta.
Por outro lado se verifica que a grande extensão dos municípios, em toda a zona, não permite a reunião das escolas, pela falta de densidade de população, que só é apreciável nos municípios de Capão Bonito, que conta 13.830, e Faxina, que conta 13.470 habitantes.
Cada légua quadrada é ocupada por 133,3 habitantes, aproximadamente, nos cinco municípios da região descrita.
Sem dúvida, é esta zona uma das mais futurosas do Estado, já pela amenidade de seu clima e suas excelentes condições topográficas, já pela riqueza do seu solo, que além dos minerais que contém, é fertilíssimo, quer nos seus campos, quer nas suas matas, prestando-se admiravelmente a qualquer espécie de produção zootécnica e a muitos gêneros de cultura agrícola.
É de lastimar-se que a maior parte dessa região, cujos habitantes são na quase totalidade genuinamente paulistas, não tenha sido até hoje atingida pelos progressos da instrução e educação dos filhos do Estado, que ainda estão a exigir ali o indispensável cultivo e aproveitamento de suas forças morais e intelectuais, e da ignorância em que vegetam".

a). Coronel Pelópidas de Toledo Ramos, Inspetor Escolar". 

O aludido inspetor foi nomeado pelo ofício 251, de 14 de agosto de 1.901 para preencher a vaga deixada por João von Artzingen, que assumiu o cargo de professor no Ginásio de Campinas.
Este relatório foi apresentado ao Secretário do Interior exatamente  cem anos atrás.

- Fonte: "O Democrata", de 23 de fevereiro de 1.902.
Acervo de Luiza Válio.

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