domingo, 28 de setembro de 2014

A CAPELA DOS LÁZAROS EM CUBATÃO

Construída possivelmente no início do século XX por Francisco Miguel do Couto, em pagamento de uma promessa a São Lázaro e sobre o túmulo de dois pobres leprosos que ali teriam morrido talvez entre 1850 e 1860, a Capela de São Lázaro foi palco de uma procissão anual durante boa parte do século XX. 
Com a ocupação do terreno do seu cemitério pela Refinaria Presidente Bernardes, em 1954, foi esse também o último ano da procissão, e a capela foi demolida por volta de 1971. 
A imagem do santo se perdeu, destruída, logo depois.
Uma réplica da capela foi instalada dentro do parque Novo Anilinas, em 2001, e em 2003 a imagem portuguesa foi reposta. A festa e procissão em homenagem a São Lázaro voltaram a ser realizadas, sendo incluídas no calendário oficial do município pela lei municipal 2.874, assinada em 6 de novembro de 2003 pelo prefeito Clermont Silveira Castor, com base em projeto da vereadora Rozemeri de França Abreu Santos.
A própria história da capela de Santa Cruz dos Lázaros, depois conhecida como Capela de São Lázaro, além das lendas sobre milagres ali ocorridos, também ameaça virar lenda, com as imprecisões sobre a data de construção e até da demolição, bem como de uma reconstrução havida por volta de 1950.


Acima, capela de São Lázaro na raiz da Serra, em 1965. 
Imagem no acervo do arquiteto Benedito Lima de Toledo.

Capela de São Lázaro, em 1969, pouco antes da demolição.
Foto cedida a Novo Milênio por Arlindo Ferreira.

O relato a seguir foi transmitido a Novo Milênio pelo professor Marildo Passerani, de Cubatão:

Os lázaros do sopé da serra
Marildo Passerani

Essa história faz parte do imaginário popular de Cubatão, e foi descrita na década de 60 por Antonio Simões de Almeida
Conta-se que, no início do século XX, os habitantes do povoado de Cubatão notaram que um casal se estabelecera num dos contrafortes da Serra do Mar, à direita de quem ingressa na Estrada Velha, no ângulo oposto à Calçada do Lorena, numa área hoje ocupada pela Refinaria Presidente Bernardes.
Este casal, não se sabe de onde originário, viera asilar-se na Serra em função de portar a Doença de Hansen, na época chamada de lepra ou doença de São Lázaro (pois, segundo a tradição cristã, Jesus havia ressuscitado Lázaro, que era leproso).
Para evitar que eles esmolassem na vila, os cubatenses passaram a deixar seus óbolos numa subida da Serra, onde os dois pudessem recolhê-los: roupas, alimentos, sal, sabão, entre outros. Essa situação convinha a todos, pois nem o casal se expunha, uma vez que a doença era repugnante e desfigurante, nem os cubatenses tinham-nos a esmolar pelo povoado.

Dia de festa na Capela de São Lázaro, em 1950.
Foto cedida a Novo Milênio por Arlindo Ferreira.

Ambos eram vistos ocasionalmente, quando vinham buscar os donativos. Depois de algum tempo, notou-se que só o homem descia de seu refúgio. Mais tarde, os habitantes notaram que nenhum dos dois vinha buscar os donativos.
Isso gerou curiosidade, que se materializou numa busca pelo casal. Logo se entendeu o sucedido: a mulher morrera, e o marido, mesmo debilitado pela doença, cavara a última morada da esposa com as próprias mãos. Aqui entra a dúvida: ele a enterrou e caiu morto sobre seu sepulcro, ou, sentindo-se agonizar, buscou partir junto da companheira?

A capela de São Lázaro, quando os automóveis ainda passavam à sua porta, 
na ligação Santos/São Paulo pelo Caminho do Mar.
Foto: jornal santista A Tribuna, edição especial do Sesquicentenário da Independência, 7/9/1972.

Sensibilizados pelo que viram, os cubatenses acabaram por erguer no local uma capela para São Lázaro. Essa capela subsistiu muitos anos, e contava-se que as velas acesas junto à sua parede não eram apagadas nem pelo vento Noroeste, típico da região.
A capela foi demolida na década de 1960, a pedido da própria Petrobrás, por questões de segurança, já que a área era dominada agora por tanques de combustível, gerando o risco de explosão.

A capela de São Lázaro, no Caminho do Mar.
Foto: Arquivo Histórico Municipal de Cubatão.

In Novo Milênio Histórias e Lendas de Cubatão.

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