quinta-feira, 15 de setembro de 2016

AVARÉ E SUA HISTÓRIA


MATRIZ DE NOSSA SENHORA DAS DORES EM 1931
MATRIZ HOJE

Localizada no Sudoeste paulista, com aproximadamente 85 mil habitantes, a Estância Turística de Avaré, principal centro político, agropecuário e estudantil do Vale do Paranapanema, está entre as cinquenta cidades de porte médio do Estado de São Paulo. Conhecida hoje como “Terra do Verde, da Água e do Sol”, por lugares belíssimos como a Represa Jurumirim, no passado já foi chamada de “Cidade Jardim”, por seus lagos ornamentais, ruas e praças amplas e arborizadas.

Origens
Em 1554, os jesuítas Padres Manoel de Nóbrega e José de Anchieta estabeleceram o Colégio de São Paulo de Piratininga. Somente em princípios do século 18, porém, os bandeirantes foram fundando cidades pelo sertão que percorriam. Naquele século, foram descobertas minas de metais preciosos no atual Estado de Minas Gerais e em Cuiabá, atual Mato Grosso. Ocorre então a célebre Guerra dos Emboabas.
Paulistas, portugueses e brasileiros de outras regiões que iam para as zonas de mineração costumavam fazer de tudo para não pagar o quinto, ou seja, o imposto que determinava que 20% do encontrado deveriam ser encaminhados para a Coroa portuguesa. Para evitar que isso acontecesse, foi criada uma fortaleza em Iguatemi.
Estabeleceu-se assim um caminho direto entre as jazidas de minérios e Sorocaba, cidade onde ficava a Casa de Fundição responsável por transformar o ouro em barras e retirar o quinhão pertencente ao governo. A fortaleza passou a ser então identificada como a boca do sertão, algumas casinhas foram se agrupando e roças foram surgindo para garantir a reposição de alimentos.

A Fundação
No começo do século 19 o Vale do Paranapanema, ainda uma inóspita região, passou a ser visto como um dos caminhos em direção ao Paraguai, ficando conhecido como estrada do Peabiru, principal rota leste-oeste na penetração do continente. O caminho do Peabiru, aliás, serviu de estímulo para se adentrar na região, a fim de se estabelecerem núcleos de povoamento. O ponto de partida das bandeiras era quase sempre Sorocaba, a mais avançada das cidades, base para impulso às penetrações e às minas do Mato Grosso. Conhecida como “boca do sertão”, a região atraiu aventureiros, viajantes e caçadores de índios, os quais paulatinamente vasculharam as terras habitadas por índios das famílias dos Caiuás e Botucudos. Há diversos conflitos com os nativos e a ambição por minerais de valor não se confirma. A maior riqueza é a fertilidade da terra, garantida pela irrigação do Vale do Paranapanema.
Posseiros liderados por José Theodoro de Souza e Tito Corrêa de Mello, nessa época, abrem o mato com os seus facões e pisam no solo do que seria a futura Avaré. Conquistam as terras exterminando os índios que ainda habitavam o local e buscam atrair moradores para aquelas terras férteis.
Dentre esses posseiros estava o major Vitoriano de Souza Rocha que, a 15 de maio de 1862, apresentou-se ao tabelião Francisco Antônio Castro, em Botucatu, para doação de 24 hectares de terras às margens do ribeirão Lageado, afluente do Rio Novo, para constituir o patrimônio da capela votiva sob invocação de Nossa Senhora das Dores, orago especialmente presente nas doações de mineiros, por ele construída.
Foi Tito, provavelmente, quem chamou parentes para tomar posse daquelas terras. Entre eles, o Major Vitoriano de Souza Rocha e o Alferes José Domiciano de Santana, que vieram para a região, atraídos pela possibilidade de obter amplas colheitas com terras de boa qualidade e água em abundância. O sonho de Vitoriano chegou até a ser contado em versos do poeta Djalma Noronha, autor também da letra do hino da atual cidade de Avaré, escolhido em 1961.

Um Cruzeiro antes da Capela
Chamada de Patrimônio de Nossa Senhora das Dores do Rio Novo, nos seus primórdios, Avaré viu as primeiras manifestações religiosas em meados do século 19, segundo os relatos do cronista Jango Pires, o primeiro historiador avareense. Segundo ele, no ano de 1862, uma cruz, coberta com taquara e folha de indaiá, foi levantada no meio da atual Praça Juca Novaes.
“Aí se rezava aos domingos de mês o terço por um ‘capelão’, título que era dado ao homem que zelava pelo templo improvisado. Após a reza havia leilão de pequenas prendas e o produto era guardado, destinando-se para a construção da futura capela”, revelou Jango, baseando-se no testemunho de um simpático imigrante italiano, o Coronel José Magaldi, contado também entre os fundadores do povoado. O mesmo coronel revelou o que fazia na mocidade: “Depois que construíram a capela, eu e meus companheiros íamos fazer nossas pagodeiras na Santa Cruz abandonada. Era lá que íamos rir à noite”.
Bem a propósito, aliás, ficou a rima de Djalma Noronha nos versos do hino dedicado à “urbe tão bela”, que melodiosamente animam o imaginário do avareense em torno do ambiente de seus bravos antepassados: “Terra amável de um povo bondoso foi teu marco uma humilde capela”.
O povoado do Rio Novo surgiu, à luz da fé cristã, ao redor de uma capela votiva, fruto da devoção de um sertanista a Nossa Senhora das Dores. O fato ganhou versões e foi romantizado a ponto de algumas versões lendárias dificultarem hoje a compreensão clara da sua formação histórica.
Jango Pires anota ter sido construída, em 1864, a então Capela do Major, “de pau a pique, barrotes e barreada, coberta de telha vã” no local onde fica hoje exatamente a entrada principal ou porta da frente do Santuário de Nossa Senhora das Dores. A capela media sessenta palmos em quadra, ou seja, cerca de 17 metros quadrados. Foi essa a primeira igreja do lugar.
Contudo, pesquisas feitas pelo arcebispo emérito de Botucatu, dom Vicente Marchetti Zioni, extraídos dos arquivos do Arcebispado, mencionam outra data para a construção dessa capela: 28 de maio de 1861. Registra também que, a 10 de julho, a humilde ermida teria sido inaugurada solenemente com a reza da primeira missa pelo vigário de Botucatu.
“Costuma-se dizer que foi celebrante o padre Joaquim Gonçalves Pacheco. Porém é preciso retificar esse dado, visto como desde 1850 o referido sacerdote já não era mais vigário de Botucatu. Consta que a partir de então, todos os domingos, à noite, reuniam-se ao redor da praça ou na capela os poucos moradores do lugar, em número de 83, para a reza das ladainhas de Nossa Senhora que o Major Vitoriano piedosamente presidia. Em seguida, em torno de uma fogueira, o Chico Biriba, ágil no violão, tocava e cantava cantigas sertanejas tão do gosto daquela gente simples, sob os aplausos dos circunstantes. Por último o Major distribuía quentão de pinga do seu engenho, servido em tigelinhas”, relata Dom Zioni.
Em 1867, uma Junta Administrativa foi nomeada para cuidar dos bens da Capela de Nossa Senhora das Dores, pelo vigário de Botucatu. Compuseram essa junta três influentes personalidades de outrora: Manoel Marcellino de Souza Franco, o primeiro professor do povoado, mais conhecido pelo apelido de Maneco Dionísio, e os imigrantes José Magaldi e Antônio Bento Alves.
A 13 de janeiro de 1869, com a instauração do processo canônico para a constituição definitiva do Patrimônio de Nossa Senhora das Dores na Câmara Eclesiástica de São Paulo, o major Vitoriano e demais doadores foram intimados a prestar depoimentos de praxe a respeito da doação das glebas de terras que originaram a futura cidade.
“Nessa data o major Vitoriano de Souza Rocha declarou ter a idade de 83 anos e ter nascido em Bragança; sua esposa, dona Gertrudes Cardoso de Oliveira declarou estar com 73 anos e ser natural de Bragança; Domiciano José de Santana declarou-se com 73 anos de idade e natural de Mogi das Cruzes e sua esposa, dona Gertrudes Maria da Luz estar com 63 anos e ser natural de Mogi Mirim", registra dom Zioni. O arcebispo retirou os dados dos autos originais do processo conservado no arquivo da Cúria Metropolitana de Botucatu.
Conforme era costume no regime de união entre a Igreja e o Estado, a Lei Provincial nº 63, publicada a 7 de abril de 1870, transformou o Distrito Policial do Rio Novo em freguesia civil ou Distrito de Paz.
Importante sublinhar a considerável contribuição oferecida à preservação da memória avareense oferecida pelos saudosos pesquisadores João Baptista do Amaral Pires (Jango), Paschoal Bocci e José Pires Carvalho. Atualmente esse trabalho tem continuidade graças às valiosas pesquisas de Flora Bocci, José Leandro Franzolin, Lina Brandi, Joaquim Negrão e Gilberto Fernando Tenor.
 
Escrito na quinta-feira, 15 de setembro de 2011
ANIVERSÁRIO DA MINHA CIDADE- AVARÉ 150 ANOS
 
Fonte: site Jardim da Fé. 

3 comentários:

  1. Entao um dos fundadores de avaré é a familia mello???

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  2. Luiza Valio: esse texto, integralmente, foi retirado de meu livro "Avaré, terra do verde, da água e do sol", que publiquei em 2007 pela Editora Nova América. Ao menos, em respeito aos direitos autorais, recomendo a menção da fonte. No aguardo das providências, Gesiel Júnior

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  3. Só agora pude saber do seu desgosto pelo texto acima, transcrito por este blog. Na verdade, ele foi COPIADO do site JARDIM DA FÉ, que é administrado por uma avareense, a CRISTIANE. Inclusive fica aqui meus parabéns a ela. O blog dela é muito bom e tem mais de 1400 seguidores. Fale com ela.Obrigada!

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