sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

"DO ACERVO COSMOPOLENSE"

Hoje 9 de Julho, feriado em memória a “Revolução Constitucionalista de 1932”. 
Na data de hoje são completados 82 anos deste levante que foi a maior revolta armada da história republicana no Brasil, revolução que durou 4 meses (Julho à Outubro) e vitimou mais de 1000 mil mortos nos campos de batalhas e cidades, entre soldados e populares.
Um dos momentos mais tristes da história de Cosmópolis e de nossa região se passaram neste período, cidades cercadas por trincheiras, aviões do governo sobrevoando as cidades e realizando bombardeiros em possíveis inimigos, a escassez de alimentos básicos como arroz, feijão e farinha de trigo, e no final com a derrota das tropas Paulistas a invasão das cidades pelas “tropas Getulistas”, ou federalistas como eram chamados.
Cosmópolis estava bem no centro dos maiores levantes e fronts de soldados constitucionalistas, a proximidade com o estado de Minas Gerais e os acessos às cidades de Limeira, Campinas, Piracicaba, Itapira e Mogi Mirim, e os vários caminhos que cortavam as terras cosmopolenses tornavam Cosmópolis e também Artur Nogueira como cidades alvos dos inimigos.



Destaque do famoso mapa criado pelo mestre Jose Wasth Rodrigues, na foto a importância estratégica da cidade de Campinas e sua região na revolução constitucionalista. 
Os acessos a estás cidades eram feitos pelas linhas da antiga Funilense, e se tornava obrigatório à passagem por Cosmópolis e Artur Nogueira, na época distritos de Campinas e Mogi Mirim, as duas cidades bases do movimento no estado. Cosmópolis foi cercada por inúmeras trincheiras, destacando as da região da estação ferroviária da Companhia Sorocabana na Rua Baronesa Geraldo de Rezende, que protegiam os acessos à estação de uma possível invasão inimiga. Outras grandes trincheiras existiam próximas a Usina Ester, onde no Palacete Irmãos Nogueira ficava uma parte dos altos comandos da revolução, o palacete neste período hospedou generais, coronéis e importantes comandantes do exercito revolucionário constitucionalista.
Outras trincheiras de destaque foram construídas próximas às pontes da cidade, a antiga ponte sobre o Rio Pirapitingui (região hoje próxima ao pedágio) foi uma das mais significativas. 
Em uma possível invasão das tropas getulistas as ordens dos comandos Paulistas era a explosão de todas as pontes, impedindo assim o acesso a Cosmópolis e demais cidades. A ordem chegou a ser dada quando as tropas Paulistas fizeram sua rendição, porém no estado de medo que a cidade foi tomada e a saída estratégica dos soldados Paulistas, faltou soldados para cumprir o mandado, sendo os artefatos de dinamite distribuídos nos pilares das pontes desativados meses depois por funcionários da Usina Esther.

Soldados Paulistas em uma trincheira na região de Pedreira-SP
Outras duas grandes trincheiras também existiam nos pontos mais altos e estratégicos da Vila de Cosmópolis, o Morro Castanho e o Morro do Schwarz, saídas para Limeira e Artur Nogueira, e possíveis acessos das tropas inimigas. O estado de São Paulo se uniu por um ideal comum, o fim da ditadura militar Vargas, o povo aderiu à causa e cada um fez a sua parte honrando sua terra, seu estado, seu País.
Na famosa “campanha do ouro” em que a população doava bens de valor para ajudar o movimento na compra de munição, muitos cosmopolenses que apenas tinham como bem de valor as alianças de casamento ou um relógio de prata, doaram na campanha seus únicos e valiosos bens. 
Um dos proprietários da Usina Ester, Paulo de Almeida Nogueira, escreveu em seu livro: “O ouro que tínhamos foi todo doado, de moedas a cigarreiras. Mas o maior foi nosso filho Paulito (filho de Paulo e dona Esther Nogueira), com muito orgulho é o ouro de maior valia que saiu de minha casa”.

A parte mais triste desta história de lutas foi à invasão das tropas Getulistas em Cosmópolis, assim como também em todas as cidades que apoiaram a causa. Cosmópolis por ser distrito de Campinas, cidade que mais apoiou e divulgou a revolução, foi uma das mais afetadas no período da rendição das tropas revolucionarias. 
A chegada das tropas getulistas em Cosmópolis foi um dos momentos mais tristes da história do município, centenas de soldados adentraram a cidade por diversos pontos para cercar e prender os soldados inimigos, denúncias garantiam as tropas getulistas da presença de altos comandantes escondidos entre a população.
Pelas leis de guerra, existe o “espolio de guerra” ou “despojos de guerra”, em que o lado vencedor pode tomar posse de bens do lado perdedor. Brasileiros contra brasileiros, já é uma grande fatalidade e o maior de todos os absurdos, a invasão de uma cidade e o saque em nome de uma batalha vencida ainda pior.


O menino Aldo Chioratto, campineiro, morto em um bombardeiro no centro de Campinas. Escoteiro e mensageiro do Exército Constitucionalista faleceu no exercício de suas funções, deixando um legado de inocência, coragem e civismo.Retrato do Menino Aldo Chioratto localizado na entrada principal do Colégio Orozimbo Maia, homenagem exposta no colégio a mais de 80 anos em homenagem ao valente aluno. 
Foto e texto 
CABO ANTONIO CARLOS SOARES.
Os comércios que não queriam ter suas mercadorias saqueadas pelos soldados tentavam colocar panos na cor preta nas janelas e portas, ou o retrato do presidente Getúlio Vargas, algo que era quase impossível de se achar na cidade, sendo ele o inimigo maior da revolução Paulista, quem tinha sua foto neste período queimou ou rasgou. Uma das cenas mais tristes aconteceu nos armazéns próximos à estação, produtos eram jogados pela Rua João Aranha e Avenida Ester, na época ruas de terra e pisoteados pelas tropas. Sacos de arroz, feijão, farinha e demais cereais eram misturados com a terra da rua e inutilizados pelos soldados.
Alguns proprietários imploravam por misericórdia, mas de nada adiantava quem era visado como revolucionário ou por ter ajudado as tropas Paulistas tinham seus bens todos destruídos e saqueados. 
Uma cena que ficou marcada na memória do cosmopolense Custódio da Rocha, hoje com 104 anos de idade, foi a dos comerciantes e moradores peneirando o chão da Rua João Aranha, para tentar salvar alguma coisa: “Era triste ver gente que antes tinha a tuia cheia, “campiando” grãos de feijão e arroz na rua da estação. 
Os soldados do Getúlio eram tão malditos que até a igreja de Santa Gertrudes tentaram invadir, e só não invadiram por que o padre barrou a entrada e apelou para excomunhão. Minha família ajudou na revolução, até soldados saíram da nossa casa. Mas não por medo tivemos que sair, mais sim por amor a nossa vida, e como íamos sem armas só no facão enfrentar aquele monte de soldado!!”.
A situação chegou ao ponto que algumas famílias de soldados Paulistas se esconderam até dentro de poços desativados, passando semanas na base de bananas para sobreviver. A perseguição aconteceu também por que houve alguns delatores, até hoje não descobertos, que faziam os serviços de espiões dentro das cidades, ou seja, entregavam moradores da própria cidade ao governo.
Com os nomes “inimigos” ma invasão da cidade as tropas iam de encontro às famílias e soldados delatados pela corja de espiões que moravam e viviam em Cosmópolis. Hoje infelizmente não existe quase nada de material do período da revolução em Cosmópolis. 
A falta de material desta época acontece por que muitos registros foram destruídos pelas tropas getulistas, fotógrafos da cidade que acompanhavam o movimento Paulista, tiveram todos os seus registros queimados, e por sorte não perderam suas caríssimas maquinas fotográficas para os soldados getulistas.
Um período pouco conhecido pelos cosmopolenses, mas que ficou marcado na história de vida de muitos moradores. Dados pouco lembrados ou omitidos por grande parte dos “historiadores” da cidade.

Abacaxis Paulistas, apelido usado pelos soldados às granadas.

Uma curiosidade e até um absurdo na visão de muitos cosmopolenses, em grande parte das cidades Paulistas, não existe uma rua com o nome Getúlio Vargas, cidades como, por exemplo, a capital São Paulo, Campinas, Piracicaba e até nossa vizinha cidade de Artur Nogueira, que também sofreu muito neste período e não se esqueceu do algoz de sua história.
Em Cosmópolis a Rua Getúlio Vargas surgiu pelo seguinte motivo, nossa cidade que era distrito de Campinas sonhava em se emancipar, em um jogo político do governo Getúlio para prejudicar Campinas, Cosmópolis foi emancipada. O governo Getúlio para dar um troco, digamos assim, à velha resistência campineira, deu uma forcinha ao movimento emancipalista cosmopolense, e o distrito se tornava enfim cidade.

Prédio destruído por um dos vários bombardeios aéreos das tropas Getulistas em Campinas.
Nesta jogada política Cosmópolis perdeu uma boa parte de seu território, a grande vila de antes com divisas que ultrapassavam as atuais fronteiras, se resumiu no território que conhecemos hoje. 
A história dos tempos da revolução foi esquecida praticamente em Cosmópolis, sendo a única homenagem a está data a Rua 9 de Julho, criada no final da década 50.
A rua a qual hoje se chama Getúlio Vargas é a rua onde estão instalados a Câmara 
Municipal de vereadores, e por incrível que pareça grande parte do batalhão da Policia militar, corporações que mais lutaram contra o personagem desta rua.
A lei que decreta feriado em 9 de Julho surgiu em 1997 pelo então governador Mário Covas, em justa homenagem aos soldados, às famílias e a memória do povo Paulista. Infelizmente uma história e uma data esquecida por grande parte da população, que só é lembrada por ser feriado neste dia...


Batalhão de soldados Constitucionalistas comandados pelo Coronel Chico Vieira, em pose fotográfica na estação Barão Ataliba Nogueira em Itapira-SP, momentos antes do embarque para as fronteiras Paulistas com Minas. 
Famoso batalhão revolucionário que em sua passagem obrigatória pelos ramais ferroviárias de Cosmópolis e Artur Nogueira, ficaram agrupados para o recebimento de ordens militares no “Palacete Irmãos Nogueira na Usina Ester”. Local onde estrategicamente os principais comandantes do movimento constitucionalista ficavam hospedados. Do Palacete construído no ponto mais alto da Usina, existia em seu terceiro andar uma vista privilegiada da região, e principalmente das linhas férreas das Cia Sorocabana, Mogiana e Paulista.

Antes da ocorrência de comentários de “pseudos historiadores”, acomodados da ignorância documental e histórica,e os analfabetos funcionais “intelectuais” do copia e cola, fica um esclarecimento deste que vos escreve e com muito orgulho tem em sua ascendência seis soldados constitucionalistas. 
A “Revolução Constitucionalista de 1932” não foi uma tentativa de golpe para a separação de São Paulo do Brasil, não foi uma revolução da burguesia cafeeira contrariada (coronéis do café com leite), e muito menos uma jogada política para manipular e controlar o povo.
A revolução de 1932 foi a maior manifestação da união popular da história brasileira, aderida inicialmente por 4 estados São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Mato Grosso (neste período não dividido), contra a pior de todas as ditaduras militares instaurada no Brasil, a ditadura Vargas. 
Instaurada no Brasil no final da década de 20, foi o golpe militar que estabeleceu Getúlio Vargas como “presidente”, ou na verdade ditador, um Mussolini brasileiro, que só não se tornou um devido à intervenção americana na década de 30.
O estado de São Paulo foi o único estado que permaneceu nesta batalha pela liberdade e a volta da democracia no pais, uma revolução de populares pela criação de uma nova constituição, de um Brasil sem freios ou cabrestos em seus filhos. 
A Constituição diminuiria os poderes do presidente militar e estabelecia a autonomia ao povo em seu país, autonomia estabelecida perante leis e deveres desta nova constituição. 
O Getúlio Vargas, conhecido como “Pai dos pobres”, criador da CLT (consolidação das leis trabalhistas), o defensor dos trabalhadores e fundador da Petrobras, foi uma imagem criada para ludibriar o próprio povo, artimanhas de antigos políticos, que iguais aos “marketeiros” famigerados na atualidade criaram mitos populares como Collor, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma.

A imagem do Getúlio pai do dos pobres foi uma das maiores ludibriações de nossa história política, ou como diz o caipira Paulista, um jeito de colocar o cabresto sem o burro perceber,” adomado” o burro faz tudo que o dono mandar. 
A criação CLT, o regime instaurado em seu governo, são cópias fieis das ideologias criadas pelo ídolo maior de Getúlio, o “Duce” Benito Mussolini, um dos fundadores do regime Fascista, segundo braço do Nazismo. 
Na Itália o Fascismo de Mussolini, no Brasil o Integralismo de Getulio e sua turminha do “Anaué”, no Fascismo o carta de Lavoro, no integralismo getulista a CLT. Muitas semelhanças com o Duce não é!!, uma lista imensa na verdade, as quais merecem seus mais profundos estudos antes de criar uma defesa na base do copia e cola para na mais louca insanidade e incoerência mental tentar argumentar a favor do pior ditador de nossa história o senhor Getúlio Dorneles Vargas.
Ah Paulista sabichão e por que comemorar um feriado de uma guerra perdida, tantos mortos, um ideal esquecido e hoje apenas um mostro (Getúlio) é lembrado como “O pai dos trabalhadores brasileiros”?
Seu feriado ó Paulista não tem fundamento então...
Tem sim, e o mais nobre de todos. Assim como os irmãos Gaúchos e Catarinas celebram seus mártires da Revolução Farroupilha, ou como os Baianos celebram e cultuam a Conjuração Baiana e a revolta independentista, os Mineiros a Inconfidência Mineira de Tiradentes, os Pernambucanos sua Revolução Praieira, no Maranhão a Balaiada, a Chibata no Rio de Janeiro... entre tantas revoluções e guerras brasileiras, todas batalhas perdidas nas trincheiras, mas lembradas por suas glórias em cada estado pela importância incontestável da união popular por seus direitos. 
Não esquecendo que nestas datas é feriado estadual em todos estes estados acima citados.

A “nossa” data, o nosso feriado de glória, somente foi vigorado no estado “que não pode parar” nem para glorificar a história do seu povo, somente em 1997, ou seja 65 anos de esquecimento e descaso com a memória do povo Paulista. O nosso feriado deve e tem que ser respeitado, lembrado, glorificado, enaltecido.
Não somente por ser a maior revolta popular armada da história brasileira, não somente pelos milhares de mortos em batalha e tragicamente nos bombardeiros getulistas nas cidades (Campinas e São Paulo foram vários mortos), pelos mártires do M.M.D.C (iniciais dos jovens Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo), pelas batalhas vencidas pelos jovens heróis paulistas, pela glória da criação de nossa nova constituição instaurada em 1934 graças às lutas da revolução... 
Tantos são os motivos de nosso feriado, não apenas para o estado de São Paulo, mas principalmente ao povo brasileiro, o motivo maior deste feriado desconhecido por seu povo, é união de seus filhos no passado por um Brasil melhor.


Cartão-postal em homenagem ao MMDC, com as inscrições em latim: Dulce et decorum est pro patria mori (“é doce e honrado morrer pela pátria”), Pro brasilia fiant eximia (“pelo Brasil faça-se o melhor” ), Non ducor, duco (“não sou conduzido, conduzo”) e In Hoc Signo Vinces ("Com este sinal vencerás").
A união Paulista de imigrantes de diversos países, de migrantes de todo o Brasil, de ricos e pobres, de um povo lutando juntos por um só ideal, pela nossa liberdade de escolha, deveres e a principal de todas as leis estabelecidas pela constituição: os limites do “poder” sobre o povo das autoridades políticas, e sua real e verdadeira função como político, representar o povo e nunca sua classe política.
Foram estes nossos ideais, foi esta a luta do povo Paulista, embora “traído” pelos desertores de outros estados, seu povo lutou sozinho por este ideal, um Brasil para os brasileiros, e não um Brasil para os políticos brasileiros. 
Salves, vivas, glórias ao 9 de Julho, assim com muito orgulho desta história enalteço este dia. 
Encerro com três símbolos maiores da Revolução de 1932, lemas, temas, inscrições que cada soldado seguia como seu brado retumbante, seu ideal mor: Dulce et decorum est pro patria mori (“é doce e honrado morrer pela pátria”), Pro brasilia fiant eximia (“pelo Brasil faça-se o melhor”), Non ducor, duco (“não sou conduzido, conduzo”).


Viva São Paulo e nosso 9 de Julho Viva o Brasil nosso chão, nossa terra, nosso povo. 
Que estes mesmos ideais com a graça de Deus iluminem nosso povo por um país novamente brasileiro, e não politiqueiro. Avante Brasileiros nossa nova revolução tem inicio nesta próxima semana com o “período eleitoral”, façamos uma revolução nas urnas pela volta de nosso país aos seus filhos. Na casa da mãe o bastardos sejam expulsos, a mãe agonizante já não tem sustento para tantas bocas em suas tetas. 
O leite seca para o filho magro, pobre ele reclama de fome, enquanto o bastardo engorda com o farto leite de sua mãe... Façamos de nossas derrotas a arma para vencer a breve guerra por um Brasil verdadeiramente justo e digno para todos.

Texto Adriano da Rocha
Originalmente publicado no Face em 2013, reescrito em 09/07/ 2014

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