terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

O DIA EM QUE JÔ SOARES ESTEVE EM TATUÍ





O barulho da multidão que se aglomerava nas proximidades do Conservatório era imenso, todos falavam juntos, ninguém entendia ninguém. 
Também pudera, Jô Soares em Tatuí! É um acontecimento para entrar na história. 
"Ele vem entrevistar alguém aqui?" perguntou uma mulher. "Não, ele vai fazer seu show no teatro do conservatório" explicaram. 

"Estou na fila desde ontem, não quero perder o Jô de forma alguma" - disse uma senhora que estava no início da fila. "E olhe aí, já tem umas 50 pessoas na minha frente", completou. 
E o falatório prosseguia intenso. 
Afinal o Jô estaria em Tatuí e, imenso como é, provocaria mesmo tal falatório... 
"Ele já está no hotel" - disse alguém. 
"O Sexteto também veio, eu sei disso porque o Derico exigiu uma cabeleireira para lavar e pentear seu cabelo... foi a minha cunhada quem fez o tal serviço", completou.
"Não me diga!" - outro falou - "E ela viu o Jô?" 
"O Jô ela não viu, mas ai... nem queira saber... a coitada passou mal por lá!" - continuou falando o tal: "O Derico queria que lhe fizessem massagem capilar. Ela teve um ataque de riso... riu sem parar quase até faltar fôlego, foi preciso até tomar calmante", e continuou: “O cara não tem cabelo, mas o ”rabicho” que sobrou trata como um bibelô!” 
“Artista é assim mesmo, gostam de inventar umas coisas só pra dar o que falar!”, disse um cara-de-intelectual que por ali chegava. 
“Por falar nisso, ouviu algo sobre a lista de exigências que o Jô mandou para o hotel?”, perguntou o mais entusiasmado daquele grupo.
“Ah, não foram poucas... água mineral francesa, arranjo de frutas, feijão gelado e azeite extra-virgem... As frutas são apenas para enfeitar, pois ele come só doces e chocolates...” “Pudera!” - comentou alguém - “... a única vez que emagreceu perdeu a graça...”
Fomos até a Praça da Matriz para ver o movimento e logo percebemos um zunzunzum danado: 
“O quê está acontecendo naquela aglomeração?”, perguntei. “É o Derico que está soltando o rabo!” - respondeu alguém... “UAU!”, resmunguei, nem sabia que ele era gay!!! Quem iria imaginar uma coisa dessas e ainda fazer isso em praça pública!” 
“Não é nada disso, ele soltou o cabelo, o rabicho...”. 
“Ah, bom!”
Havia em um outro lado da praça, uma aglomeração de protótipos de guitarristas junto ao Tomati, pedindo dicas sobre o instrumento. 
O Bira, quando saiu do Hotel Del Fiol, parecia um lorde: vestia-se muito bem, calça social, camisa e pulôver. Mas trazia no semblante um ar preocupado. Olhava para todos os lados, como se buscasse algo muito importante. Logo desceu para os lados do Mercadão. Em pouco tempo o Bira estava enturmado num boteco atrás do Mercado Municipal. Cachaceiro dos bons, esse Bira! 
Ainda mais que convidava todos os pinguços de plantão a beber...
O interessante é que aquele homem, que reclamou que a toalha do hotel tinha uma pequena mancha, bebia no mesmo copo daqueles bebuns sujos e fedorentos... 
E estavam todos muito alegres por lá... Manézinho “meia-garrafa”, Kike, João Bituca, Bira... Abraçados cantavam a uma só voz “a marvada pinga”!
Já o maestro parecia estar no paraíso, todo feliz e tomando só Coca-Cola... 
Entretanto, nem tudo corria bem... Havia um problema e não era pequeno... Não havia, na cidade toda, uma cadeira que “acomodasse” Jô Soares. 
As dimensões de seu traseiro exigiam uma cadeira maior que o normal. 
Por sorte, alguém lembrou que na faculdade tinha uma tipo "king size" que servia para ele. 
Foram buscar e o problema foi contornado...
E assim correu o dia todo: agitadíssimo! Até que o tempo passou e chegou a hora esperada. 
Todos buscavam seus lugares no teatro do Conservatório. Lotado! As pessoas que ficaram do lado de fora tinham ainda esperança de que o Jô, movido pela compaixão, fizesse um show extra para atender todo aquele povaréu. 
Gritavam todos pedindo que arrumassem um "DataShow" para que o pessoal do lado de fora também pudesse assistir ao Jô. 
Estavam dando os últimos retoques para ajeitar o telão... 
O Sexteto entrou no palco e começou se arrumar para tocar. Eu fiquei analisando como o Bira conseguia ficar em pé depois de tomar tanta cachaça... 
O zunzunzum não cessava! Não dava nem mesmo para atrasar a entrada de Jô Soares, tamanha a expectativa das pessoas. 
E ouviu-se um sinal, era a deixa para a entrada de Jô, e... Uhhhhh! Apagaram-se todas as luzes.
Inicialmente pensou-se que era uma estratégia do artista para que, ficando tudo no escuro, fosse aceso apenas um holofote que enfocasse sua pessoa no centro do palco e um jogo de luzes fizesse parecer que sua silhueta fosse menor que o tamanho real.
Mas nada... passou um minuto, dois, cinco... lanternas apareceram com os funcionários do Conservatório e o ar-condicionado parou de funcionar. 
Mais dez minutos e nada! 
O calor começava a ficar preocupante. Foram abertas as portas para circular o ar.

O pessoal do lado de fora também estava no escuro. O burburinho da multidão aumentava cada vez mais. 
E a luz? Nada!
Ligaram para a Elektro e a resposta foi inacreditável: havia caído todo o sistema elétrico de grande parte do Brasil e ninguém pode prever quando voltaria novamente. 
Esse fato ficou conhecido como o APAGÃO, cujos resultados até hoje são sentidos nas contas de energia elétrica de todos.
E o Jô?
Enquanto as pessoas esperavam que a luz voltasse e as coisas pudessem seguir em frente, o Jô, que não é bobo, sabendo da impossibilidade do retorno da energia elétrica, já estava em seu carro rumando para São Paulo.
Essa data, 11 de março de 1999, será sempre lembrada como o dia em que Jô Soares veio a Tatuí, ou a noite do apagão. 
Em Tatuí, conhecida como a Noite do Fiasco! Nessa ocasião, 13 estados ficaram no escuro, pois caiu o sistema elétrico no sudeste, sul, centro-oeste e até mesmo nordeste.
Este foi o maior vexame acontecido em Tatuí nos últimos anos! 
Estamos todos esperando o retorno do Jô, que ainda nem mesmo devolveu o dinheiro dos ingressos! 
Fiasco Total!

Fonte: Casos Tatuianos, blog administrado por Francisco Campos, Fran Campoas/ 02 de setembro de 2005.

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