terça-feira, 19 de janeiro de 2016

" CHICO DOCE"


Para um homem daquele tempo e por morar em uma Vila do interior, Francisco Antonio das Chagas, seu "Chico Doce", como foi conhecido por ser muito amável e religioso, era um homem culto, politizado e dominava algumas línguas. 
Nasceu em 1786 e ficou órfão aos 5 anos, sendo criado por uma negra (escrava). 
Pouco se sabe sobre sua infância e seus genitores; apenas que ele era sobrinho do Capitão Bento José de Salles, dono do imóvel mais bonito da Vila: "o sobrado". 
A pobreza de sua infância não atrapalhou sua cultura e criatividade; contam que tinha apenas uma muda de roupa para vestir e quando a mesma era lavada ele ficava escondido no mato. 
Deste fato ele criou uma estrofe:

"Amanhã é dia Santo
Dia do Corpo de Deus
Quem tem roupa vai à missa
Quem não tem, faz como eu ."

Aos 17 anos, no dia 4 de outubro de 1813, casou-se com Miquelina de Moraes, sua prima da mesma idade. Mas breve ficou viúvo com dois filhos: Claridade e Job, e seus filhos também acabaram sendo criados por uma escrava, a Gertrudes. Era um homem das letras; seu passatempo predileto era a leitura e não tinha muito tempo para se dedicar aos filhos e a outro casamento. 
Sua residência na rua Direita (atual Capitão Thiago Luz) durante a semana era uma escola, mas aos fins de semana ia para sua Chácara, onde além das leituras dedicava-se ao estudo da botânica. 
O seu parente, aquele do famoso "sobrado", tinha muitas filhas e aos quarenta anos esse professor, viúvo, 2 filhos, fica conhecendo uma das filhas mais novas, Maria Angélica, com a qual vem se casar no dia 8 de maio de 1827. 
Deste matrimônio nasceram 5 filhos: Emygdia (1828); Casemiro (1830); Maria Seraphina (1832); Paulo Francisco de Salles (15 de abril de 1836) e Lucas em 1840. 
Seu quarto filho, Paulo Francisco de Salles, foi batizado em 25 de abril de 1836, mas ninguém sabia era que ele um dia seria o maior poeta que Santo Amaro já teve: Paulo Eiró! 
Quando Paulinho nasceu, seu Francisco já havia sido nomeado professor público (1831) e Santo Amaro já era um Município (1832). 
Na política, Francisco da Chagas, foi um dos líderes da emancipação de Santo Amaro: como recompensa foi o primeiro presidente da Câmara de Vereadores (1832). 
Tal tarefa foi árdua pois seus colegas da edilidade não produziam nada para o Município, e em 17 de junho de 1834 tomou a tribuna da Câmara (naquela época ainda na Igreja Matriz) para exorta-los a trabalhar para o Município, pois caso contrário iria propor ao Governo do Estado, retornar o Município à condição de Freguesia. 
Este discurso inflamado teve efeito pois logo em breve passaram a contar até com um Prefeito! 
Mas a educação e a cultura sempre presentes em sua vida contribuíram para esmerar na educação dos filhos, tanto que seu filho Paulo Eiró conhecia francês, alemão, latim, grego, italiano e inglês. 
Em 1848 traduziu as "Taboas Chronologicas" junto com seu filho Paulo, que contava na época com apenas 12 anos. 
Sua filha Emygdia, aos 19 anos, prestou exames para professora (naquela época era em São Paulo na Faculdade de Direito São Francisco) e foi aprovada com brilhantismo e seu filho Casemiro seguiu a carreira eclesiástica chegando a padre. 
Além da Escola que fundou na cidade também montou um Biblioteca para que todos tivessem acesso aos seus livros. 
Por mais de 40 anos dedicou-se ao magistério e aposentou-se em 1855, sendo substituido pelo filho Paulo, que por diversas vezes licenciou-se do cargo deixando o Pai trabalhando em seu lugar. Francisco das Chagas, seu Chico Doce, tão importante na Frequesia de Santo Amaro quanto no novo município de Santo Amaro, piedoso, religioso, culto, talvez a sua maior provação de sua vida foi quando pediu a internação de seu inteligente, mas esquisito filho Paulo no manicômio, e isso quando tinha já quase 80 anos de vida. 
Seu sofrimento foi tão grande que achava que acreditava ser um castigo pelo seu orgulho! 
Faleceu a 7 de outubro de 1867, três anos apenas antes de seu filho doente.

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