terça-feira, 19 de janeiro de 2016

PAULO EIRÓ, O POETA LOUCO QUE DEU NOME A UM TEATRO NA CAPITAL

 
Paulo Francisco Emílio de Sales, o poeta Paulo Eiró, nasceu quando Santo Amaro era Município, em 15 de abril de 1836, filho do professor Antônio Francisco das Chagas e Maria Angélica.
Com apenas 11 anos se apaixonou pela prima Cherubina Angélica de Salles; nessa época, Paulo já lia em francês e aos 12 anos escreveu, junto com o pai: "Taboas Chronologicas".
Aos 19 anos, formou-se pela Escola Normal de São Paulo e foi nomeado como professor em Santo Amaro, exercendo o magistério por oito anos com intervalos.
Nos primeiros anos de magistério a vida de Paulo Eiró foi tomada de uma verdadeira febre para a poesia; não conseguia disfarçar a paixão que sentia pela prima e musa, mas a esperança de conquistá-la acabou, pois a mesma estava de casamento marcado. 
Ele começou a ficar absorto nas aulas e, à noite os santoamarenses viam-no a caminhar pela Vila, o olhar perdido no chão. 
Começaram então os passeios pelos lugares próximos nos quais gastava o dia inteiro e não almoçava e nem jantava. 
Apesar da preocupação da mãe, ele sentia o enfadamento de tudo, somente uma esperança o animava: entrar na Faculdade de Direito. 
Entrou para a faculdade, licenciando-se na Escola Primária da Vila e transferindo sua residência para São Paulo.
Ficou conhecido como um poeta admirável e até algumas das suas poesias eram faladas nas arcadas acadêmicas da atual São Francisco. 
As esquisitices anteriores da época da Vila que haviam desaparecido no início do período estudantil, retornaram de uma hora para outra; queria sempre ir para casa e se fechava no quarto, não almoçava, não jantava. 
Às vezes seguiam-se dias de entusiasmo e bastante estudo até a próxima crise. 
A família preocupada trouxe-o para Santo Amaro, aí a próxima esquisitice foi mística. Inflamou-se no desejo de matricular-se no Seminário e não aceitava conselhos para demover tal ideia. O pai, que já tinha outro filho ordenado padre, até que não achou má ideia, e acompanhou-o ao Seminário Episcopal no Bairro da Luz. 
Neste período, Paulo Eiró já contava com 23 anos e era considerado pelos colegas do Seminário como velho, contribuía também sua expressão facial sempre triste e o ar de ausência. Com o seu humor novamente em crise andava pelo quarto, ou então espalhava pelo Seminário suas poesias tristes e abolicionistas, motivo pelo qual foi aconselhado a voltar a Santo Amaro e a seu pai foi sugerido que destruísse os cadernos com suas poesias, o que foi feito pelo Professor Francisco das Chagas.
Sua próxima esquisitice foi a viagem a Mariana/MG, novamente os conselhos de nada adiantaram e sua partida aconteceu sob os olhares tristes da mãe e do pai. 
Da viagem, a família pouco teve noticia, exceto que quando pelo caminho pernoitou na casa de parentes e amigos, mas se sabe que ele não conseguiu chegar a Mariana/MG. 
Como a viagem foi feita a pé, durante meses não se teve noticia dele. 
Vamos reencontra-lo, voltando sem a bagagem, tendo no bolso apenas um livro gasto de anotações.
Ao entrar em São Paulo, sente uma movimentação nas proximidades da Praça da Sé, muitos carros e luzes, então resolve ir até lá. 
Com aguda curiosidade resolve entrar na Igreja. Era um casamento, mas ao reconhecer a noiva vê que é a sua musa, a mulher que ele tanto amou agora casava-se e estava perdida para sempre. 
Até os padrinhos eram seus amigos e parentes, mas ninguém notou sua presença e novamente se põe a caminho a pé para voltar para Santo Amaro. 
Veio compondo a poesia:

FATALIDADE

Que vista! O sangue se afervora e escalda!
Por que impulso fatal fui hoje à Igreja ?
Quer meu destino que, ao entrar, lá veja
Noiva gentil de cândida grinalda.

Nos olhos sem iguais, cor de esmeralda,
Lume de estrelas, plácido lampeja:
Seu branco seio de ventura arqueja;
Louros cabelos rolam-lhe da espalda.

Hora de perdição! Sim adorei-a;
Não tive horror, não tive sequer medo
De cobiçar uma mulher alheia.

Unem as mãos; o órgão reboa ledo;
Em alvas espirais, o incenso ondeia...
E eu só, longe do altar, choro em segredo !

Novamente morando na Chácara, a vida sem sentido e morosa da Vila, Paulo Eiró, se dedica a escrever e faz também viagens, a Tatuí, a Sorocaba e proximidades. 
Passa-se o tempo e o poeta encontra-se envolvido numa viagem ao Rio de Janeiro através do Porto de Santos, aonde chegou a pé. 
Da viagem à Corte, sem dinheiro, novamente não ficaram registros, mas sabe-se que a convivência intelectual era pura emoção. 
Naquela época pelo Rio de Janeiro circulava Machado de Assis, Bernardo Guimarães, José de Alencar, entre outros.
Na volta para a Chácara dedicando à poesia, foi convidado pela Comissão dos Festejos pelos 36 anos de S. M. Imperial D. Pedro II, para ceder os originais do drama Sangue Limpo que seria representada em São Paulo. 
Paulo Eiró participou da montagem e marcação das cenas . entusiasmado. 
Nos ensaios em São Paulo, sua alegria era tamanha; novamente Paulo Eiró estampava no rosto a felicidade e junto ao grupo de artistas renomeados da época ele reencontra a lucidez, chegando muitas vezes a transmitir com sua fala o significado do texto.
O dia 2 de dezembro de 1861 (dia das comemorações) começou com paradas militares, missa na Igreja da Sé e à noite no teatro São Paulo, localizado no Pátio do Colégio foi encenado o espetáculo com a presença dos figurões do Governo, estudantes, e quase todos os moradores de São Paulo. 
Apesar da emoção presente em Paulo Eiró, a crítica dos jornais não foram favoráveis e ao lê-las com decepção, novamente retornaram suas crises.
Nos próximos dois anos Paulo Eiró dedica-se, em meio a crises, a dar aulas na escola primária em Santo Amaro, mas as alternâncias da sua demência obrigaram os familiares a pedir seu afastamento. 
As viagens ficavam cada vez mais frequentes, ele ia a São Paulo e ao Rio de Janeiro, havia períodos em que não se tinha noticias dele, sem noção do tempo retornava à Chácara, sua saúde estava cada vez mais precária e a família criou o hábito de deixar o portão fechado para que ele não fugisse.
Mas em um domingo, pela manhã, ele encontra o portão aberto, atravessou a Vila e entrou na Igreja de Santo Amaro. 
Era hora da missa e todos estavam presentes e sem que a sua família notasse ele começou a interferir no que o padre falava. Todos ficam pasmos ao ver sua ousadia de falar durante a Santa Missa; seu pai leva-o de volta para casa mas só toma consciência de que era hora de interná-lo quando ele quebra um crucifixo.
Em maio de 1866, Paulo Eiró, aos 31 anos, foi internado no Hospício dos Alienados que se localizava na várzea do Carmo na Rua Tabatinguera em São Paulo. 
Durante 5 anos ele definha, entre crises de demência e lucidez. Mas sua família também foi acabando: seu pai morreu em 1867 e sua escrava Ana em 1869.
Então no dia 27 de junho de 1871 faleceu Paulo Emílio de Salles, o poeta Paulo Eiró, no Hospício dos Alienados, de meningite, aos 36 anos de idade.

Fonte: Escola Estadual Paulo Eiró

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